— Ah, obrigada! Você salvou...

— Pode parar de agradecer?

O que, diabos, ele acabara de fazer? E pior, o que acabara de dizer?

Ah, estava perdido. Ela já presumiu que cuidaria da criança. O que faria? Dizer não? E fazê-la chorar novamente?

Rapidamente, virou-se e caminhou para a cozinha, para longe dessas emoções e, principalmente, de um potencial abraço. Ela ouvira suas palavras e presumira que ele dissera sim. Ele se metera em uma confusão. Uma confusão que ele próprio criara.

Com suas próprias palavras estúpidas. Aparentemente, sua falta de habilidade com as palavras escritas estendia-se também às palavras faladas.

— Vou preparar o almoço — disse, por cima do ombro. — Você quer? — hesitou.

Era uma mudança de assunto esfarrapada. Um escape, na verdade. Mas precisava escapar daqueles olhos, da explosão de alegria naquele rosto. Havia sido tão poderosa, tão...

Confiante.

Como se ela tivesse colocado o mundo todo nas mãos dele.

Ela não tinha ideia do que estava fazendo. E ele deveria ter pensado antes de abrir sua boca grande e idiota.

Não queria uma criança em casa. Definitivamente, não precisava de uma criança em casa. Quase tinha colocado essa criança para fora e agora havia convidado-a acidentalmente para ficar por alguns dias por não conseguir falar o que realmente queria.

E tudo porque Anahí começara a chorar. Estava definitivamente amolecendo. Talvez, se fosse para a cozinha, pudesse fazer um sanduíche de mortadela e, enquanto isso, pensar em algum jeito de sair dessa enrascada. Alguma maneira suave de dizer: Ei, eu mudei de ideia. Ache outro vizinho.

Anahí seguiu-o até a cozinha, com a criança nos braços.

— Estou muito contente por você ter se oferecido para cuidar dela. Estou realmente desesperada. Meu trabalho é...

— Não preciso de detalhes. — Abriu a geladeira, colocou a cabeça para dentro, tentando escapar de mais informações pessoais.

Ela era uma mulher difícil de ignorar, não só porque sempre o seguia. Alfonso não tinha ideia de como não reparara nessa vizinha antes. Bom, viver como eremita nos últimos três meses não o ajudou, mas, ainda assim, devia estar cego para não notar essa morena cheia de curvas, com olhos azuis vividos e, uma boca carmim cheia.

Uma boca que não parava de perturbá-lo.

— Sou produtora de um programa novo de TV do canal 77. O tempo que gasto trabalhando é incrível. Perder um dia de trabalho está fora de questão. Aliás... — Fitou o relógio. — Preciso sair daqui antes que meu chefe tenha um ataque cardíaco. Mas, antes de ir, eu realmente queria perguntar mais algumas coisas. Uma entrevista pode-se dizer assim.

— Agora você quer me entrevistar? Eu já cuidei de sua filha. Ela está intacta, amamentada e limpa, não?

Anahí ignorou essa informação.

— No que você trabalha? Está disponível das 8h às 18h todo dia? Se isso vai interferir em seu trabalho, precisarei fazer alguns ajustes.

Apoiou-se na bancada e cruzou os braços acima do peito.

— Sou escritor. Trabalho em casa é bem flexível.

— Você deve estar se saindo muito bem. Quero dizer, você tem uma casa muito bonita.

— Talvez eu tenha um patrocinador rico que me sustenta — respondeu, com uma careta. Ela não precisava saber que ele começara fazendo muito sucesso, havia chegado ao topo e depois entrado num bloqueio tremendo e chegado ao fundo do poço. Ou que passara o último ano tentando transformar sua última obra em algo aceitável. Ou ainda que lutasse contra cada palavra, cada página e, ainda assim, terminava cortando 70% do que escrevera. Porque seu livro, assim como os últimos, não tinha um elemento que o editor enchia sua paciência para que colocasse...

PAPAI POR ENCOMENDAHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin