ᎤᏬᏗᏖᏒᎧ

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Teve um momento tenso, de quando os mágicos chegaram e fui escolhido como assistente. Se você não estivesse lá comigo era certo que eu sairia correndo.

Vai, Akylla, "fica de boa". É tranquilo, cara.

O moço de terno preto e cartola vermelha pegou em minha mão e me levou até uma cadeira. Ele me dizia para escolher alguns apetrechos e no final acabei não entendendo foi nada,  sumia tudo. Lembro-me claramente da risada que você deu quando olhei espantando para o mágico, que havia adivinhado a carta que eu escolhi em meio a tantas. Seus olhos brilhavam ao me ver ali.

Quando me sentei ao seu lado novamente, você segurou minha mão e a acariciou.

Você mandou bem, aos poucos se acostuma com a gente.

Ao sairmos fomos direto para a praia onde aguardavam boa parte da cidade para prestigiar a explosão de luzes. Havia bancas de lanches e bebidas, local de dança. A maioria estava vestido de nuvem, eu achei harmônico e bonito ver toda aquela gente alegre, irradiante.

Você me levou até uma das cabanas, a de bebidas. Me fez experimentar a tal da cachaça.

Eu achei que fosse morrer naquela hora de tanto tossir.

Pelo amor de Deus, cara. Achei que você estava tendo um infarto.

E eu achei que meu peito estava pegando fogo, literalmente! Não me dê mais desse "troço", te imploro.

Você ria de mim como sempre, acho que foi esse seu jeito engraçadinho e extrovertido de ser que me encantou mais.

Começou a tocar uma música que te fez pular do banco.

— Puta que pariu, eu amo essa música!

Direcionei meus olhos em direção onde você olhava animado, a pista de dança. Vários casais giravam e dançavam sorridentes.

— É interessante os passos...

Já dançou forró?

Lancei-lhe um olhar de "óbvio que não", dessa vez foi minha vez de rir da sua cara de sonso.

Ah é, você nunca nem sequer dançou.

Sou fácil em decorar.

Quer tentar?

Foi uma decisão mais que certa. Você me levou até o meio dos casais dançando, começamos devagar, eu observava atentamente as mãos e pés dos outros pares e rapidamente decorei os gingados, logo depois quem estava te conduzindo era eu, você ficou boquiaberto e em pouco instante nos tornamos o casal atração, a galera curtiu. Eu mais ainda, pois nunca estive tão perto de ti, senti os compassos de seu coração, sua respiração em meu ouvido, a pele quente como o sol.

Voltamos para o quiosque ofegantes depois de mais três músicas seguidas. Você bebia um líquido azul, enquanto eu, ficava no suco de laranja.

— Percebi que nunca perguntei sua idade, quantos anos tem mesmo?

É melhor não saber.

Qual é Kylazinho, vou te importunar se não me disser!

E iria mesmo.

Cento e cinquenta e três.

Você cuspiu todo o álcool da boca, acertando em cheio no meu rosto.

Não vou me desculpar  — disse esfregando o braço onde me molhou, enquanto dava gargalhadas — Meu caralho, porque não me disse antes?

Para não ser cuspido?

É incrível como essas lembranças conseguem me fazer sorrir nessa água saloba.

O povoado começou a se reunir a beira da praia, você pegou minha mão e me arrastou até lá, correndo. Cinco minutos depois, durante a contagem regressiva, você me pontuou algo antes de iniciarem.

Faça um pedido assim que começarem as luzes.

— Esta bem.

Cinco, quatro, três, dois, um...

Quero que me beije.

Você me olhou espantado. Eu senti medo, pois fez uma cara não muito normal, não consegui decifrá-lo. Logo depois você sorriu nervoso, coçou a cabeça...

Eu queria chorar ali mesmo, achando que tinha estragado tudo. Só que você me pegou pela nuca e direcionou-me a sua boca quase no mesmo instante.

Eu nunca tinha beijado, isso ao menos existe no lugar de onde vim. Vi poucas vezes durante os filmes que me mostrou, alguns casais nas ruas.

Foi a melhor sensação da minha vida, todo o mundo que existia sumiu por aqueles meros segundos, o barulho dos foguetes nem incomodava, era só eu e você, em um mundo só seu e meu.

Nunca vou me esquecer do gosto doce de seus lábios, das suas mãos passeando pelos meus cabelos com uma certa brutalidade. De como tomou meu fôlego e me abraçou com ternura, como se eu fosse fugir dali.
Deu-me um beijo na testa para finalizar aquela noite que seria longa.

Não era para ter dito em voz alta — me disse ainda abraçado a mim.

Mas aí você não saberia...

De qualquer forma, estava em meus planos hoje. Desperdiçou seu desejo, príncipe dos mares.

O que eu quero não precisa mais ser pedido. Já tenho aqui, diante de mim.

Lágrimas saem de meus olhos se misturando na água. Um nó incômodo se forma em minha garganta.

Eu sinto tanto a sua falta, Éder.

As circunstâncias estão impedindo, mas tenho fé de que a gente vai se encontrar, tenho certeza, e numa bem melhor.

ᴄᴇᴅᴏ ᴏᴜ ᴛᴀʀᴅᴇ • ᶜᵒⁿᵗᵒWhere stories live. Discover now