𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓 𝐆𝐈𝐑𝐋, william & catherine

𝟎𝟕 - xᴏxᴏ, ᴍᴜᴍᴍʏ.

ela suspirou, deixando a cabeça descansar. ── desculpa se estamos sendo um pouco exagerados em relação a você. a gente só quer te vê bem.

── eu tô bem, de verdade.

── é que você nunca fala nada. você se isola e põe aquele sorrisinho forçado na boca só pra fingir que tá bem e fugir dos questionamentos de preocupação, e isso me aflige muito.

── tá, o que você quer que eu fale?

── eu só quero que você não tenha medo de falar comigo sobre coisas que você sente! somos melhores amigas, eu te conheço há anos e eu sei quando tem algo errado com você. você passou por um momento traumático e eu me sinto uma tola incapaz de te ajudar porque você simplesmente não me deixa.

o luto realmente é ruim, mas o drama da cher faz parecer como se eu vivesse no fundo do poço.

── olha só, ── eu suspirei, tentando manter a minha calma ao conhecer muito bem a pessoa que está ao meu lado. ── eu tô bem, tá legal? eu sofri muito quando tudo aconteceu, mas eu já tô muito melhor agora. eu gosto de pensar que ela odiaria me vê sofrendo, então me dedico a ficar bem pra que a alma dela descanse. ── a cada frase que eu dizia, eu via que os olhos dela enchiam cada vez mais de lágrimas. ── sinto muito se eu te preocupo com o meu silêncio, eu só não me sinto muito confortável colocando os meus sentimentos pra fora.

── e só quero que você se sinta em casa. ── cher susurrou, e eu me senti tonta em ter aquela conversa embaixo de um sol de matar.

── eu não tô fugindo do assunto, só quero sair desse sol. ── afirmei enquanto me distanciava dela e sentava na sombra. ela logo veio até mim, se sentando ao meu lado. ── eu sempre me senti em casa quando tenho você, seus pais e a liv ao meu lado. vocês sempre foram a minha família número dois, lembra?

depois de concordar com a cabeça freneticamente por alguns segundos, cher suspirou tristonha. ── você não merecia passar por isso.

eu sabia bem do que ela estava falando. enterrar a minha guardiã legal, ser consumida pela incerteza do que aconteceria comigo e com o meu futuro depois da ida repentina dela, encarar uma cansativa batalha judicial sobre quem cuidaria de mim até a minha maior idade e sair do brasil para reconstruir uma vida nova em outro país realmente sugou uma parte do meu ânimo, mas nada tão alarmante que eu não pudesse recuperar ao longo do tempo.

── algumas pessoas tem que passar por situações difíceis pra crescer... ao menos é nisso que eu gosto de acreditar.

ficamos em silêncio por alguns minutos e eu foquei a minha atenção em tudo o que acontecia ao meu redor. a luz do sol refletindo na piscina, alguns passarinhos cantando e até mesmo a música dos anos oitenta que a tia becca escutava, fez algo nascer em mim.

depois de tanto pedir por paz, eu finalmente fui atendida.

── eu achei algo antes de nos mudarmos para os estados unidos. ── olhei para cher, que fitava o chão enquanto falava. ── fiquei na dúvida se deveria te mostrar ou não.

── você atiçou a minha curiosidade agora. me mostre logo o que é.

ela tirou um papel bem dobrado do bolso do short jeans e me entregou. cogitei ser uma pegadinha, mas por algum motivo desconhecido, meu coração acelerou desesperadamente assim que meus dedos tocaram o papel amarelado.