A Donzela sem cabeça

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Os dias na mansão passavam lentamente, tornei-me dama de companhia de Lucy,  um trabalho realizado normalmente por raparigas da nobreza, claro que  era apenas uma desculpa que Lucy dera às empregadas para eu poder viver na mansão.

Passei as primeiras semanas a descobrir mais sobre mim mesma e o corpo que agora possuía, como não precisava de comer ou dormir tinha mais tempo para ler livros e aprender sobre aquele mundo.

Enquanto o fazia cheguei à conclusão que percebia e conseguia ler todas as línguas, talvez fosse uma das muitas habilidades que havia adquirido.

Era muito divertido não ter de desperdiçar tempo em todas aquelas tarefas mundanas, claro que sentia falta de sentir o sabor da comida, o vento no cabelo ou água da chuva na pele.

Gostava de viver ali, sentia que finalmente podia sentir-me normal outra vez ou pelo menos o mais normal possível, mas Lucy não pensava assim, sentia-se isolada e sozinha, um sentimento que eu experienciara na minha primeira vida.

Passei a noite toda a pensar no que podia fazer para a animar até que tive uma ideia, corri para o quarto de Lucy e acordei-a.

Perguntei se era possível sair da mansão e fazer um piquenique na floresta, estaríamos longe de todos.

Ela achou uma excelente ideia, mas estava preocupada:

— Sei que estou sempre a dizer que quero sair, mas ao mesmo tempo, tenho medo, quando estou com muitas pessoas à minha volta começo a ouvir todos os seus pensamentos na minha cabeça.

Naquela altura eu não sabia, mas Lucy tinha uma habilidade que eu também possuía, a diferença era que ela não sabia como parar e eu não sabia como começar ou que a tinha.

Conseguia ver as almas de todas as criaturas e com isso a sua natureza, quanto mais escura a alma fosse mais corrompida por vingança, raiva, ganancia ou inveja aquela pessoa estava.

Mas não era isso que a assustava, mas o facto que conseguia ouvir os pensamentos das pessoas quando esses eram muito fortes e carregados de emoções normalmente negativas.

Olhei para ela, sorri e disse para que não se preocupasse que iríamos para o meio da floresta onde não havia ninguém, começou a chorar de felicidade e disse.

— Obrigado Alice, estou contente por te ter conhecido, após desejar durante tantos anos por alguém que estivesse ao meu lado, tu entraste na minha vida e deste-me a conhecer a felicidade de partilhar a minha vida com alguém.

Fiquei ao lado dela até ela adormecer e enquanto observava a lua pela janela do quarto, pensei que não era só ela que sentia aquilo, se eu não a tivesse conhecido, teria ficado naquela floresta, a criar rancor das pessoas que me perseguiam, pergunto-me o que podia ter acontecido.

No dia seguinte, um homem que eu nunca tinha visto, preparava a carruagem, perguntei a Lucy quem era e ela explicou-me que era o cavaleiro dela, Gael, tinha o dever de a proteger, era um homem alto, moreno com feições assustadoras, que raramente falava.

Na carruagem, fiquei feliz em ver que Lucy estava emocionada por sair de casa, olhei pela janela e todas aquelas pessoas a trabalhar nos campos  relembrou-me da minha tribo, começava a ter saudades de casa e estava preocupada com a minha mãe, mas sabia que quanto mais rápido apreendesse a usar o meu poder mais rápido iria revê-la.

A carruagem parou, havíamos chegado ao local do piquenique, subimos uma colina e colocamos a toalha à sombra de uma árvore e sentámo-nos.

Gael ficará perto da carruagem, enquanto Lucy comia um bolo de morango, eu lia um livro sobre a família de Lucy, queria saber mais sobre ela, aparentemente o pai de Lucy era um homem muito importante, o atual Duque da casa de Bordou, Charles Bordou era o braço direito do Rei e o comandante da guarda real.

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⏰ Last updated: Dec 11, 2022 ⏰

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The diary of deathWhere stories live. Discover now