Sombra do Luar

124 5 0
                                    

O céu estava escuro, minha visão balançava como se o mundo estivesse em alguma carroça correndo por uma estrada de pedregulhos, indo para cima e para baixo em um ritmo coordenado. Meu corpo se dirigia em direção oposta do qual estava virado, parecia até que o mundo estava correndo de mim. Eu conseguia ouvir vozes ao fundo, vozes de lamento e de dor, porém a que mais me chamava atenção era a voz do homem que estava me carregando em seu ombro direito, ele tinha muita pressa, parecia querer me levar a algum lugar. Então um rugido de fúria surgiu do céu, tão repentino quanto o vento que o acompanhava, e senti em minha pele que o quer que esteja vindo está vindo em minha direção. Quando eu olhei novamente para os céus as nuvens se abriram revelando a maior e mais colorida aurora boreal antes já vista em toda minha vida e na frente dela havia uma serpente gigante de couro negro como carvão e olhos tão vermelhos quanto o sangue mais rubro, e ela realmente estava descendo em minha direção. Então eu me levantei gritando e esmurrando o ar criando um jato de fogo carmesim saindo da minha mão, atingindo uma parede que estava em minha frente. Quando me viro para o lado vejo que estou em meu quarto e que tudo aquilo foi apenas um sonho, mais um sonho que tenho com a Jormungand. Os Sábios dizem que sonhar com cobra significa: "Seus medos escondidos e suas preocupações estão lhe ameaçando". Acho que esse significado não é válido quando a serpente em questão possui dezenas de metros e seu veneno produz uma neblina mortal do tamanho de uma casa de dois andares.

_ Lady Katarina, a senhorita está bem? _ indagou Sarah, uma das empregadas da casa.

_ Estou sim _ gritei em resposta a ela _ foi apenas outro pesadelo.

Então ela abriu a porta, sem pedir permissão nenhuma, e entrou em meu quarto vindo diretamente para minha cama. Eu ainda estava atordoada pelo sonho então não fiz nada em relação a ela.

_ Minha Lady, eu sei que não deveria me intrometer em seus assuntos pessoais, e de maneira alguma penso em substituir seus pais que por causa do dever não podem estar aqui em momentos como esse _ nesse momento ela estava sentada ao meu lado arrumando meu cabelo _ mas por favor, leve em consideração esses avisos que os deuses estão lhe enviando.

_Não há mais deuses _ respondi a ela enquanto olhava para a marca chamuscada na parede e para os pequenos filetes de fogo que se extinguiam lentamente.

_ Não diga tais coisas minha Lady _ dava para perceber que ela estava horrorizada pela minha afirmação _ os Aesir e os Vanir se sacrificaram para nos salvar, e como recompensa seus corpos se tornaram energia e se juntaram a Aurora Boreal.

_ Quantas horas são? _ indaguei para que o assunto da conversa mudasse.

_ Devem ser dez e meia _ respondeu Sarah largando meu cabelo, ela sabia bem que aquele tipo de assunto me incomodava.

_ Peça que preparem a mesa, vou sair mais cedo hoje _ ordenei isso enquanto prendia meu cabelo fazendo um longo rabo-de-cavalo.

_ Como quiser minha Lady _ disse Sarah se levantando e indo em direção a porta logo após de fazer reverência.

_Sarah _ disse em um sussurro que me espantei pelo fato dela ter ouvido e parado em frente à porta, se virando em minha direção, fazendo com que minhas palavras demorassem mais ainda para saírem da minha boca _ Obrigada.

Aquelas palavras saíram de mim como um desabafo que estava segurando faz tempo. A única resposta que obtive foi um sorriso sincero de amizade que respondi de volta de maneira envergonhada.

Quando Sarah saiu pela porta eu me levantei e toquei na parede carbonizada.

_ O que será que eles querem me dizer afinal das contas?

Valkyrja: Lua de SangueWhere stories live. Discover now