𝟎𝟕 | 𝐃𝐎𝐌𝐈𝐍𝐆𝐎

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— Ela te suporta é diferente — avisa Gustavo, ficando do meu lado nessa briga. Sorrio para ele e, por educação, cumprimento Veiga com um beijo na bochecha.

— Como 'cê 'tá, Lu? — ele pergunta, também educado.

Estamos sendo educados demais. Nem parece que na última vez que nos vimos, que foi na quarta passada, a gente estava se xingando por causa do "tal erro" ocorrido com o "tal jogador do Flamengo". Hoje é domingo, já faz quatro dias.

— Com fome — digo com sinceridade. — Cadê a Sarah?

— Aniversário da prima dela hoje, não deu pra vir.

— Não — suplico com uma careta triste. — Eu vou ficar nesse ambiente contaminado de gente chata sem a mulher da minha vida!?

— Que ideia torta é essa, Luanna? — Gustavo fica sério sem acreditar no que estou dizendo.

— 'Tô brincando, pô — digo a ele antes que pense mesmo que estou a fim de sua esposa. Do jeito que Gustavo é lesado, não duvido que ache isso. — Cadê o papai?

— Eu? — um homem calvo de barba grisalha brota na sala acompanhado de Gabriela. Fecho a cara assim que a vejo. — Luanna, minha pequena!

Vou em direção ao meu pai e o abraço. Ele está com cheiro de sabonete, provavelmente acabou de sair do banho.

E Gabriela. Bom...

Como posso explicar a minha família sem parecer problemática demais?

Gabriela e Gustavo são filhos do meu pai de seu primeiro casamento. Eu sou o fruto de uma traição que não demorou a ser descoberta. O casamento acabou e a mãe do Gustavo não quis a guarda dos filhos. Meu pai casou-se com minha mãe a qual não se importou em criar Gabriela e Gustavo, de 13 e 8 anos respectivamente. A relação de minha mãe com Gustavo é bem saudável. Ele até a chama de mãe.

Agora Gabriela... ela se recusa a gostar da minha mãe mesmo sendo criada por ela e morando na casa dela. Minha mãe fez e ainda faz de tudo pela minha irmã, mas nunca recebeu um simples obrigado. Quando comecei a entender as coisas com clareza e perceber o quanto minha mãe ficava sentida por não ser aprovada por sua enteada, eu peguei ranço de minha irmã e me afastei dela, me colocando sempre do lado da minha mãe.

Hoje em dia, a gente mal conversa. Quase não desejamos feliz aniversário uma para outra. E eu nem me importo.

Minha mãe é um anjo e qualquer um que ousar tratá-la mal, terá o meu completo desgosto.

— Oi, pai — me afasto dele. — Como o senhor está?

— Bem até. Mas minha pressão anda muito alta ultimamente.

— Já foi no médico?

— Sim, estou tomando uns remédios doidos.

— Estou cuidando dele — informa Gabriela e eu me esforço o máximo que consigo para não fazer uma careta. — São três tipos de remédio por dia.

— É bom que você tome um antes do jogo de hoje — sugiro, sem falar com Gabriela.

— Meu filho vai me presentear com um gol bem no começo do jogo, né? — meu pai bate no ombro de Gustavo que se levantou para cumprimentá-lo.

— Posso tentar.

— E você, filho? — ele olha para Veiga que também se colocou de pé. — Vai voltar a jogar quando?

— Só em Janeiro, senhor.

— Puta merda, hein! — meu pai xinga, decepcionado.

— Olha a língua, Zezo — reclama minha mãe, também se juntando a nós na sala. Tem um pano de prato em seu ombro e isso me traz tantas lembranças que meu coração chega a se aquecer.

HOTEL CARO ━ gabigolWhere stories live. Discover now