Capítulo 2

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Esta é uma obra de ficção, feita por fã e sem qualquer relação com a realidade.

Era atraente. Sabia disso e não se fazia de rogada. Mas com as mulheres, bom, com as mulheres era sempre diferente.

Estar com os homens era fácil. Bastava estalar os dedos e eles faziam o que ela queria. Já com as mulheres, precisava sempre fazer um esforço maior. Primeiro porque seu jeito direto e atrevido assustava a maioria que, com medo da rejeição ou de um futuro coração partido, nem ao menos tentava. Segundo porque ela também achava difícil flertar com mulheres. Com homens era: Vamos? Vamos! E pronto. Com as mulheres nunca era assim. E, no fundo, ela até que gostava que não fosse. Gostava da parte dos flertes, dos olhares ansiosos.

Os olhares... Receber a mirada furtiva e desejosa de uma mulher sempre a deixava fascinada. E foi assim que ficou após a primeira aula de Simone. De irritada por conta de um teste injusto para fascinada com aquele olhar desejoso.

E a dúvida de para onde Simone havia olhado, se para sua coxa ou para a mão de Paulo, foi dissipada na aula seguinte, quando se sentou afastada de Paulo e notou que Simone volta e meia olhava em sua direção, embora nunca a encarasse nos olhos.

Sabia que não haveria nada entre ela e a professora e, para falar a verdade, ela nem queria. Odiava a ideia de misturar assim as coisas. Gostava de saber que era admirada e isso era tudo.

Tanto que sua decisão de se candidatar à vaga de monitoria em nada teve a ver com esse fascínio. A verdade era que a bolsa de oitocentos reais para estagiar oito horas semanais era tentadora. Estava para se formar, não recebia mais mesada dos pais e o dinheiro do seu último estágio estava quase no fim, então aquele dinheirinho viria a calhar até conseguir um emprego na área.

Após pegar o formulário na secretaria do curso e preenchê-lo, foi até o gabinete de Simone. Conferiu o relógio, já passava do meio-dia, e torceu para que ela estivesse ali e não tivesse dado viagem perdida.

Foi com alívio que, tendo batido à porta, ouviu a autorização para entrar. E não pôde deixar de notar o olhar surpreso de Simone ao vê-la.

— Thronicke... — ela disse, voltando a atenção ao notebook, e então foi Soraya quem ficou surpresa. Não esperava que a professora soubesse seu nome. — Em que posso ajudá-la?

Ela se aproximou, deixando o formulário sobre a mesa de Simone.

— Vim me inscrever para a vaga de monitoria.

Simone parou de repente o que fazia no notebook, fechando-o devagar. Olhando fixamente para Soraya, perguntou, como se não tivesse ouvido direito:

— Você?

— Sim, foi o que eu disse. — Imediatamente se recriminou. Odiava mas não conseguia controlar a mania que tinha de falar sem filtro.

Simone olhou para o relógio do pulso e, em seguida, para Soraya.

— Não consigo fazer a entrevista agora porque estou indo almoçar. Mas podemos deixar agendado para...

Enquanto Simone pensava numa data, Soraya foi logo emendando:

— Se não for um problema, podemos almoçar juntas.

Simone deu um leve sorriso enquanto dizia:

— Acho que isso é um pouco demais, Thronicke.

— O restaurante do prédio de Ciências Moleculares é ótimo — insistiu. Não poderia perder a chance de conseguir aquela bolsa, e almoçar com Simone não seria nenhum sacrifício.

Simone travou o maxilar, sem saber o que responder.

— Eu pago, já que eu estou convidando — Soraya garantiu, sorrindo para a professora, que, ainda reticente, concordou com um menear de cabeça. — Vamos juntas? — perguntou Soraya.

— Nos encontramos lá em meia hora.

Soraya assentiu, agradecendo à professora por usar seu horário de almoço para a entrevista.

No caminho até o restaurante, encontrou-se com alguns amigos, com os quais conversou brevemente, pois não queria se atrasar.

Chegou ao local às 13:02, conforme verificado em seu celular, e avistou que Simone já estava em uma das mesas.

— Com licença, professora — pediu, puxando uma cadeira e sentando-se.

— Está atrasada — Simone a repreendeu, sem tirar os olhos do celular.

— Dois minutos. Eu não consideraria isso um atraso.

À fala, Simone bloqueou a tela e encarou Soraya, que sorriu de canto.

— A senhora não vai ficar brava comigo por conta disso, vai? — questionou Soraya.

Simone não respondeu, apenas fechou a cara e entregou o cardápio a ela.

Soraya não se desfez do sorrisinho. No fundo, sabia que Simone não estava irritada de verdade. Se estivesse, teria se levantado e ido embora. Além disso, vamos lá, dois minutos de atraso não poderiam ser considerados um atraso de fato.

Fizeram os pedidos e enquanto aguardavam Simone foi direito ao ponto:

— Antes de prosseguirmos, devo dizer que eu sou chata. Terrivelmente chata. Não gosto de gracinha, piadinhas... Conviver comigo não é fácil.

— Um defeito a senhora tinha que ter. Mas eu sempre parto do princípio de que mulheres bonitas podem se dar ao luxo de serem chatas.

— Isso é um princípio para você? — Simone enrugou a testa, a Soraya não pôde deixar de sorrir.

— Definitivamente. Além disso, conviver com a senhora não seria de todo ruim... Eu quero seguir na área de Direito Tributário e estar com a senhora pode ser muito... enriquecedor.

— Você tem uma lábia muito boa... Deveria seguir carreira política, isso sim.

— Hum, política não é muito a minha cara... — garantiu, rechaçando a ideia. — Mas imagina se eu viro presidente, hum?... Chamo a senhora para ser minha ministra.

— Você é muito infantil. Até me espanta que seu TCC tenha ficado tão bom.

— A senhora... leu meu TCC? — E foi a vez de Soraya enrugar a testa.

— Direito Tributário não é uma área muito atrativa para os estudantes, então quando milagrosamente surge um trabalho acadêmico feito por eles, sim, eu leio — explicou, como se não fosse nada demais.

— Nossa, e eu aqui me esforçando para conseguir essa vaga sendo que ela já é minha?

— Não seja presunçosa — advertiu Simone quando o garçom trazia seus pratos.

Quando ele se foi, Soraya se inclinou sobre a mesa e segredou:

— Fala a verdade, eu sou a pessoa mais qualificada, né? Assim que me viu entrar por aquela porta, você já sabia que eu era a escolhida. Só aceitou meu convite porque queria almoçar comigo.

— Não seja presunçosa — repetiu Simone. — Não é porque seu TCC ficou bom que eu te ache apta à vaga. Aliás, pelas suas gracinhas, você é a pior das candidaturas.

Simone fez um bico e franziu a testa. Involuntariamente Soraya fez a mesma coisa, o que irritou a professora, que tomou um gole do vinho e se levantou.

Havia um limite para gracinhas, e Soraya já havia o extrapolado. Pretendia ir embora sem dizer mais nada, mas então se deteve, colocando a mão no ombro da aluna e cochichando em seu ouvido:

— E flertar comigo não vai te garantir nada.

E se foi, sem dar a chance de Soraya responder.

Espera - Simone e SorayaWhere stories live. Discover now