Esta é uma obra de ficção, feita por fã e sem qualquer relação com a realidade.
Era atraente. Sabia disso e não se fazia de rogada. Mas com as mulheres, bom, com as mulheres era sempre diferente.
Estar com os homens era fácil. Bastava estalar os dedos e eles faziam o que ela queria. Já com as mulheres, precisava sempre fazer um esforço maior. Primeiro porque seu jeito direto e atrevido assustava a maioria que, com medo da rejeição ou de um futuro coração partido, nem ao menos tentava. Segundo porque ela também achava difícil flertar com mulheres. Com homens era: Vamos? Vamos! E pronto. Com as mulheres nunca era assim. E, no fundo, ela até que gostava que não fosse. Gostava da parte dos flertes, dos olhares ansiosos.
Os olhares... Receber a mirada furtiva e desejosa de uma mulher sempre a deixava fascinada. E foi assim que ficou após a primeira aula de Simone. De irritada por conta de um teste injusto para fascinada com aquele olhar desejoso.
E a dúvida de para onde Simone havia olhado, se para sua coxa ou para a mão de Paulo, foi dissipada na aula seguinte, quando se sentou afastada de Paulo e notou que Simone volta e meia olhava em sua direção, embora nunca a encarasse nos olhos.
Sabia que não haveria nada entre ela e a professora e, para falar a verdade, ela nem queria. Odiava a ideia de misturar assim as coisas. Gostava de saber que era admirada e isso era tudo.
Tanto que sua decisão de se candidatar à vaga de monitoria em nada teve a ver com esse fascínio. A verdade era que a bolsa de oitocentos reais para estagiar oito horas semanais era tentadora. Estava para se formar, não recebia mais mesada dos pais e o dinheiro do seu último estágio estava quase no fim, então aquele dinheirinho viria a calhar até conseguir um emprego na área.
Após pegar o formulário na secretaria do curso e preenchê-lo, foi até o gabinete de Simone. Conferiu o relógio, já passava do meio-dia, e torceu para que ela estivesse ali e não tivesse dado viagem perdida.
Foi com alívio que, tendo batido à porta, ouviu a autorização para entrar. E não pôde deixar de notar o olhar surpreso de Simone ao vê-la.
— Thronicke... — ela disse, voltando a atenção ao notebook, e então foi Soraya quem ficou surpresa. Não esperava que a professora soubesse seu nome. — Em que posso ajudá-la?
Ela se aproximou, deixando o formulário sobre a mesa de Simone.
— Vim me inscrever para a vaga de monitoria.
Simone parou de repente o que fazia no notebook, fechando-o devagar. Olhando fixamente para Soraya, perguntou, como se não tivesse ouvido direito:
— Você?
— Sim, foi o que eu disse. — Imediatamente se recriminou. Odiava mas não conseguia controlar a mania que tinha de falar sem filtro.
Simone olhou para o relógio do pulso e, em seguida, para Soraya.
— Não consigo fazer a entrevista agora porque estou indo almoçar. Mas podemos deixar agendado para...
Enquanto Simone pensava numa data, Soraya foi logo emendando:
— Se não for um problema, podemos almoçar juntas.
Simone deu um leve sorriso enquanto dizia:
— Acho que isso é um pouco demais, Thronicke.
— O restaurante do prédio de Ciências Moleculares é ótimo — insistiu. Não poderia perder a chance de conseguir aquela bolsa, e almoçar com Simone não seria nenhum sacrifício.
Simone travou o maxilar, sem saber o que responder.
— Eu pago, já que eu estou convidando — Soraya garantiu, sorrindo para a professora, que, ainda reticente, concordou com um menear de cabeça. — Vamos juntas? — perguntou Soraya.
— Nos encontramos lá em meia hora.
Soraya assentiu, agradecendo à professora por usar seu horário de almoço para a entrevista.
No caminho até o restaurante, encontrou-se com alguns amigos, com os quais conversou brevemente, pois não queria se atrasar.
Chegou ao local às 13:02, conforme verificado em seu celular, e avistou que Simone já estava em uma das mesas.
— Com licença, professora — pediu, puxando uma cadeira e sentando-se.
— Está atrasada — Simone a repreendeu, sem tirar os olhos do celular.
— Dois minutos. Eu não consideraria isso um atraso.
À fala, Simone bloqueou a tela e encarou Soraya, que sorriu de canto.
— A senhora não vai ficar brava comigo por conta disso, vai? — questionou Soraya.
Simone não respondeu, apenas fechou a cara e entregou o cardápio a ela.
Soraya não se desfez do sorrisinho. No fundo, sabia que Simone não estava irritada de verdade. Se estivesse, teria se levantado e ido embora. Além disso, vamos lá, dois minutos de atraso não poderiam ser considerados um atraso de fato.
Fizeram os pedidos e enquanto aguardavam Simone foi direito ao ponto:
— Antes de prosseguirmos, devo dizer que eu sou chata. Terrivelmente chata. Não gosto de gracinha, piadinhas... Conviver comigo não é fácil.
— Um defeito a senhora tinha que ter. Mas eu sempre parto do princípio de que mulheres bonitas podem se dar ao luxo de serem chatas.
— Isso é um princípio para você? — Simone enrugou a testa, a Soraya não pôde deixar de sorrir.
— Definitivamente. Além disso, conviver com a senhora não seria de todo ruim... Eu quero seguir na área de Direito Tributário e estar com a senhora pode ser muito... enriquecedor.
— Você tem uma lábia muito boa... Deveria seguir carreira política, isso sim.
— Hum, política não é muito a minha cara... — garantiu, rechaçando a ideia. — Mas imagina se eu viro presidente, hum?... Chamo a senhora para ser minha ministra.
— Você é muito infantil. Até me espanta que seu TCC tenha ficado tão bom.
— A senhora... leu meu TCC? — E foi a vez de Soraya enrugar a testa.
— Direito Tributário não é uma área muito atrativa para os estudantes, então quando milagrosamente surge um trabalho acadêmico feito por eles, sim, eu leio — explicou, como se não fosse nada demais.
— Nossa, e eu aqui me esforçando para conseguir essa vaga sendo que ela já é minha?
— Não seja presunçosa — advertiu Simone quando o garçom trazia seus pratos.
Quando ele se foi, Soraya se inclinou sobre a mesa e segredou:
— Fala a verdade, eu sou a pessoa mais qualificada, né? Assim que me viu entrar por aquela porta, você já sabia que eu era a escolhida. Só aceitou meu convite porque queria almoçar comigo.
— Não seja presunçosa — repetiu Simone. — Não é porque seu TCC ficou bom que eu te ache apta à vaga. Aliás, pelas suas gracinhas, você é a pior das candidaturas.
Simone fez um bico e franziu a testa. Involuntariamente Soraya fez a mesma coisa, o que irritou a professora, que tomou um gole do vinho e se levantou.
Havia um limite para gracinhas, e Soraya já havia o extrapolado. Pretendia ir embora sem dizer mais nada, mas então se deteve, colocando a mão no ombro da aluna e cochichando em seu ouvido:
— E flertar comigo não vai te garantir nada.
E se foi, sem dar a chance de Soraya responder.
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Espera - Simone e Soraya
FanfictionO último semestre de Soraya no curso de Direito. Tudo correu bem até este ponto, tudo conforme o planejado. Mas ela não esperava que ter aula com Simone mudaria completamente suas perspectivas. O que se principia com flertes inocentes, ganha propor...