Capítulo 1

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Esta é uma obra de ficção, feita por fã e sem qualquer relação com a realidade.

Era seu último semestre. Finalmente, pensou Soraya, tirando com tudo o lençol com o qual se cobria e levantando-se.

Sorrindo, ela se espreguiçou. Queria fazer alguns exercícios antes de sair do alojamento, mas, como aquele dia seria agitado, deixou para queimar as calorias ao longo da jornada.

Era a semana de recepção dos calouros, da qual ela sempre participava, ao menos no primeiro dia, porque gostava de integrá-los à universidade, mas dessa vez não poderia, afinal sua primeira aula do semestre seria com Simone Tebet, professora de Direito Tributário, que foi categórica no e-mail enviado na semana anterior: quem não fosse à sua primeira aula, não precisava ir às restantes, pois já estava reprovado.

Hum, que brava, pensara Soraya ao ler e-mail. A fama de Tebet corria a universidade. Não era nenhuma tirana, todos concordavam, mas era rígida o suficiente para botar medo em uma dúzia de pessoas por onde passava.

Seus modos duros e pouco pessoais, combinados com uma elegância autêntica, ajudavam a criar a ideia de que ela era um ser inatingível.

Soraya, que sempre a via pela universidade, dando aulas ou palestras, tinha o mesmo pensamento e, por isso, agradecia aos Céus por sempre ter conseguido fugir de suas aulas. Até agora.

Não que fosse uma má aluna. Estava ali um pouco acima da média. Ela só não queria se estressar e, pelo que já tinha ouvido a respeito, Simone era sinônimo de estresse.

Porém, desta vez não houve escapatória: o professor de Direito Tributário havia sofrido um acidente de carro e, de última hora, Simone foi colocada em seu lugar.

Quando entrou em sala, Soraya não pôde deixar de se entristecer com o volume de alunos. Sua turma, que se iniciara com setenta alunos, havia sido reduzida a pouco mais de trinta. A evasão era natural, acontecia em todos os cursos, o que a entristecia realmente era a falta de boa parte dos colegas mais próximos.

Correndo os olhos pelo espaço, viu seu quase namorado sentado na parte da frente. Na primeira fileira. Urgh! Sério, Paulo.

— Que lindo, tentando impressionar a coroa — provocou-o ao se sentar ao seu lado.

Ela ria enquanto beijava a boca dele. Ele tentava parecer calmo diante daquela situação. Deveria ter se formado no ano anterior, mas havia reprovado naquela disciplina e com aquela mesma professora.

— É de foder, sabe? Se eu reprovar de novo, eu estou ferrado.

— Relaxa, Paulo! Não vai acontecer de novo. E se perigar de acontecer, eu te ajudo. Esqueceu que a gata aqui fez TCC em Direito Tributário? — concluiu, fazendo charme ao jogar o cabelo para trás.

Ele sorriu, adorava o jeito de Soraya, mas antes que pudesse responder, escutaram a porta sendo fechada. Fechada realmente, trancada.

Alguns alunos olharam para trás, outros para o lado - a depender da disposição das carteiras na casa, todos buscando acompanhar com o olhar quem chegava: Profª Drª Simone Tebet.

Os saltos médios, a blusa branca de gola rolê, o cabelo castanho e médio que adornava a face. O semblante impassível. Tudo em Simone era ao mesmo tempo comedido e magnético.

— Bom dia a todos! E que fique de aviso: — foi logo advertindo, passando pelos alunos e indo à mesa do professor. — eu não tolero atrasos. Sempre chego dez minutos mais tarde para garantir que todos já estejam em classe. Quem chega depois de mim, não entra.

— Que mandona... — cochichou Soraya. E Paulo fez um xiu para que ela ficasse quieta. Ela revirou os olhos e voltou sua atenção à Simone, que acabava de alcançar a região da lousa branca.

Na espaçosa mesa que ficava de frente para ela, Simone deixou sua bolsa e uma pasta, de onde tirou um maço de folhas e entregou para um rapaz que estava no início da fileira.

— Está passando aí para vocês o cronograma das aulas e o programa da disciplina. Peço que circulem com um marca texto a data de recuperação, será importante para a maioria de vocês — disse, correndo o olhar pela sala e parando em Paulo. Ela sorriu. Um sorriso sardônico. — Olá, Paulo.

Ele engoliu em seco. Até aquele momento, tinha esperanças de que ela não se lembrasse dele. Não somente tinha reprovado: tinha sido pego colando durante a prova. Simone tinha feito a gentileza, era o que ela dizia, de não levar o caso para o comitê de graduação. Paulo tinha aceitado de orelha baixa a reprovação.

— Bom dia, professora Simone.

Ela fez um gesto de concordância com a cabeça. Estando pronta para retornar seu discurso à turma, reparou na moça ao lado do aluno reprovado.

Soraya deu um menear de cabeça, mas Simone não respondeu; ao contrário, fez um bico e voltou a falar com a turma.

Soraya enrugou a testa. Quis perguntar para Paulo: Você viu isso? Que mal educada! Mas Simone estava a poucos metros, não valia a pena correr risco de ficar marcada logo na primeira aula do semestre. Muda estava e muda permaneceu.

Simone seguiu com sua aula.

— Avisando agora, para não me esquecer: há uma vaga para estagiar como monitor de turma. A moça que tinha preenchido acabou saindo. Quem tiver interesse precisa pegar o formulário na secretaria e entregar preenchido no meu gabinete até o final da próxima semana.

A primeira aula das disciplinas era sempre introdutória, não exigia muito do aluno e normalmente durava apenas uma hora, não duas, como as demais. Mas Simone falava, falava e falava. E o que era uma aula introdutória tinha virado uma aula, de fato.

— Meu Deus... — murmurou Soraya depois de um tempo, pegando novamente o cronograma das aulas e constatando então que não somente a aula teria as habituais duas horas como um teste seria aplicado nos últimos trinta minutos.

Quando Simone distribuiu as folhas com o bendito teste, Soraya ficou irritada. Soube responder tranquilamente o teste, afinal seu TCC, entregue no semestre anterior, tinha sido na área de Direito Tributário, no entanto os demais alunos, com certeza, estavam em apuros.

Ao terminar de responder, deixou a folha sobre a mesa, onde apoiou também o cotovelo, sustentando a cabeça com a mão, e olhou para a janela, distraída. Duas horas de aula e já não aguentava mais, o semestre poderia acabar ali.

Seus olhos cansados foram involuntariamente para onde a professora estava. E percebeu, com surpresa, que Simone olhava para suas coxas.

Ou para a mão de Paulo em sua coxa, quem sabe.

Mas poderia jurar que era para sua coxa, visto que usava uma minissaia jeans.

Vendo-a tão absorta naquela observação, Soraya não conseguiu evitar morder o lábio e tocar a própria perna.

Ao movimento da mão, Simone, dando um leve pigarro - e disfarçando, como Soraya julgou -, voltou a atenção à folha que tinha em mãos.

Soraya não sabia o que tinha chamado a atenção de Simone, se suas pernas desnudas ou a mão de Paulo, mas fosse o que fosse, gostou daquela distração. Divertiu-se com ela.

Espera - Simone e SorayaWhere stories live. Discover now