Mousetrap

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"Nobody's listening, so she won't speak. All of those dreams are fading slowly."

Toni Topaz's pov

Sempre ouvi que não se deve julgar um livro pela capa, mas nunca essa frase me pareceu tão real. Quando vi aquela mulher entrar na cafeteria, com todo seu ar imponente e a postura intimidadora, julguei ser só mais uma em meio aos empresários endinheirados e arrogantes que passam por aqui todos os dias. Mais uma que mal notaria minha existência, mais uma que pediria um café sem açúcar e depois gritaria comigo por ter esquecido do açúcar. Mais um dia normal, no Sunshine Coffee.

Mas não foi bem assim. Uma pequena parte minha insistia em achar que algo nela era diferente. Apesar das roupas exuberantes e do computador que parecia custar mais do que a minha casa inteira, ela parecia jovem demais se comparada aos outros empresários. E muito mais bonita que eles também. Usava roupa social, e um sobretudo que não demorou a ser retirado, me dando uma visão maior de sua pele tão branca quanto as nuvens delicadas que enfeitavam o céu. Os lábios eram coloridos de vermelho, e tenho quase certeza de que não a vi sorrir uma vez sequer. E os olhos, por Deus, que olhos. Tão profundos que pareciam enxergar minha alma, de um belíssimo tom de castanho que eu sequer poderia comparar a algo, porque nunca vi uma coloração tão magnífica. Aquela mulher exalava poder, eu sentia como se corresse o risco de derreter ficando a menos de dois metros dela por muito tempo.

Ainda assim, isso não era tudo. Ao revezar
minha atenção entre o livro em minhas mãos, as xícaras de café, e a empresária misteriosa, notei que seu olhar, em toda aquela imensidão, tinha muito mais que o ar de superioridade. Naquele momento me ocorreu que talvez não fôssemos tão diferentes assim, porque naqueles olhos tão castanhos eu também vi medo. Vi uma alma perdida, quase tão perdida quanto a minha estava em meio a clientes, doces e bebidas. Já ela, obviamente não me olhava, nem teria motivos para isso. Tinha a atenção focada no aparelho à sua frente, e uma expressão preocupada. Empresários. Sempre estressados por algum motivo.

Como se estar perto dela já não fosse
intimidante o suficiente, meu péssimo senso de equilíbrio resolveu se juntar a isso e a todos os pensamentos e preocupações
que me rondavam, e quando me dei conta,
já tinha café em todo lugar. Eu sou mesmo
um desastre. Meu desespero só aumentou
ao sentir a presença do Sr Richards ao meu
lado. Eu não precisava olhá-lo para saber
que era ele, aquela voz áspera e o cheiro
de cigarro eram inconfundíveis. Naquele
momento tudo o que eu pensava era em não ter um colapso na frente dos clientes, e no discurso que teria que fazer mais tarde para não ser mandada para o olho da rua.. Aquele não era meu primeiro acidente, longe disso, todos já estavam acostumados com meu jeito atrapalhado. Acontece que essa última semana foi uma das piores. Minha mãe sempre me diz que quando se tenta fazer um monte de coisas ao mesmo tempo, nenhuma delas sai direito. E eu estava aprendendo isso da pior forma possível.

E quando eu já estava pronta pra implorar
pelo meu emprego, foi que ela resolveu me
surpreender. Assumiu a culpa pelo acidente, mesmo depois de ter seus documentos arruinados por minha causa. Conhecendo meu jeito, não tenho dúvidas de que Gerald não acreditou em uma palavra sequer. Ainda assim, não havia nada que ele pudesse fazer. Afinal, o cliente sempre tem razão. E não havia provas de que a mulher mentia.

Naquele momento, ela não era mais a
empresária arrogante e intimidante de antes. Era uma boa pessoa, eu podia ver. Que vivia em um mundo totalmente diferente do meu, sem dúvidas, mas ainda assim, uma boa pessoa. Ela não tem ideia do quanto me salvou naquele dia, provavelmente nunca saberá. Eu estava tão feliz que poderia abraçá-la! Ou simplesmente enchê-la de agradecimentos. Do que estou falando, nada disso seria adequado. Coloque-se no seu lugar, Antoinette. Pensei melhor, e me limitei a abrir um pequeno sorriso, e me retirar dali. Provavelmente, nunca mais a veria. Mas não iria me esquecer do que ela fez por mim.

Six ThirtyWhere stories live. Discover now