Talvez desta Vez - Capítulo 1

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— Não acredito que vai voltar a morar no seu escritório — Aylin falou, ofendida — poderia perfeitamente ficar comigo, Parla e nossa mãe. A casa tem espaço o suficiente.

Nem que me pagassem, Ceylin respondeu mentalmente. Há pouco mais de dois anos, havia saído de casa e descoberto como era libertador morar em um local sem a presença sufocante de Gül. A advogada nem sequer cogitava voltar a morar permanentemente em sua antiga casa.

— Eu tive sorte de conseguir uma nova unidade no mesmo prédio — Ceylin justificou-se, pensando no familiar edifício de porta roxa — você sabe como é difícil alugar qualquer coisa ali. Além disso, não quero gastar minhas economias bancando um apartamento novo, pelo menos até conseguir me reestabelecer. Hoje pela manhã já consegui uma nova cliente. E amanhã planejo entrar em contato com os antigos para comunicá-los a respeito do meu retorno.

— Mas precisa mesmo morar lá? O lugar é uma sala comercial, não é exatamente um lar, Ceylin.

— Eu não me importo — Ceylin deu de ombros — não preciso de muito.

Aylin revirou os olhos, aceitando que não convenceria a irmã, e então retornaram a atenção às compras.

Era bem verdade que Ceylin havia vivido confortavelmente durante os últimos dois anos. Seu salário em Ancara havia sido bem mais do que costumava ganhar como advogada em Istambul antes de sua mudança. Ceylin nunca fora boa em economizar dinheiro, mas mesmo mantendo um padrão de vida mais elevado e mandando dinheiro para a mãe todo mês, durante os últimos anos conseguira juntar uma quantia suficiente para lhe assegurar ao menos alguns meses de segurança financeira.

— Enfim... Quem é essa cliente que você conseguiu? — Aylin perguntou distraidamente enquanto tentava decidir entre duas marcas diferentes de detergente.

— Eu a conheci na fila do cartório quando fui reconhecer cópias de alguns documentos do meu novo contrato de aluguel — ao ver que a irmã não conseguia tomar uma decisão, Ceylin tirou um dos frascos de das mãos dela e o colocou no carrinho, empurrando-o para o próximo corredor logo em seguida — ela estava esperando o advogado para dar entrada no processo de venda de sua casa, mas o homem a deixou plantada por duas horas.

— Então você a resgatou? — Aylin perguntou com um sorriso, bastante familiarizada com o carisma da irmã e a facilidade com a qual Ceylin envolvia as pessoas.

— Exatamente — a advogada respondeu alegremente — foi um típico caso de estar no lugar certo na hora certa.

Após a ida ao mercado, Aylin ajudou a irmã a levar as compras para o escritório e as duas passaram o resto do dia arrumando o ambiente.

Ceylin ainda não tinha certeza do que exatamente seu retorno a Istambul significaria para ela. De certa forma, parecia que estava embarcando novamente em sua antiga vida, a mesma da qual tentara escapar há dois anos atrás. Muito havia mudado desde então, mas o que mais assustava a advogada era descobrir o que havia permanecido o mesmo.

Após um dia de muitas conjecturas, Ceylin estava tão cansada que, ao deitar-se à noite, caiu quase que imediatamente no sono.

Era bem verdade que muito ao seu redor estava diferente. Mas ao menos o sofá-cama em seu escritório permanecia tão desconfortável quanto sempre havia sido.

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— Com o preço que está pedindo, não deve demorar muito até ter ofertas de compradores — Ceylin falou de forma entusiasmada conforme fitou a cliente à sua frente.

— Será mesmo? Seria maravilhoso se pudéssemos fazer isso de forma rápida e tranquila — Melis respondeu com um sorriso angelical — o que eu menos quero é que esse processo se transforme em algum tipo de batalha judicial.

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