Mundo Comum

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ADRIAN WESTER 

Sempre carreguei comigo a sensação de que este mundo não faz sentido algum, como se houvesse um vazio impreenchível dentro de mim, trazendo o sentimento de que há mais além do que os meus olhos veem, talvez fosse por causa da melancolia que cercava a minha alma, pelos pesadelos que constantemente visitavam minha mente ou pelo simples fato de não encontrar o meu lugar neste mundo.

Talvez o Mundo esteja de cabeça para baixo em seu caos ou apenas eu, que estou perdido em mim mesmo. Mas no final de tudo, sou só mais um no meio de tanta inquietação, sou forçado a aceitar este contexto e apenas continuar seguindo...

Me chamo Adrian Wester e tenho dezessete anos, estudo na Escola Sagrado Coração, na qual consegui uma bolsa de estudos após um concurso, segundo ouvi ao receber o resultado e ingressar na Instituição, obtive um excelente desempenho na prova, mesmo não me achando tão inteligente, nada fora da curva, apenas acabo aprendendo muito rápido as coisas, chega a ser estranho a forma que entendo o contexto ao meu redor com apenas um olhar, porém prefiro mil vezes me guardar de tudo e seguir o meu caminho, na Escola Sagrado Coração ou ESC como é conhecida, estava repleta de jovens da Elite da minha cidade, presos em seus mundos reservados e por muito envolvidos em seus castelos de areia.

A propósito, moro em Belo Jardim City, um local desenvolvido, com mais ou menos meio milhão de habitantes, e na região é a cidade Polo, portanto há inúmeros investimentos e um constante crescimento, era de fato uma cidade à frente do seu tempo, haviam painéis e anúncios por toda a região do centro, realmente chama a atenção, principalmente na avenida principal, quanto a mim, resido em um bairro próximo ao centro, na casa da minha única parente, Tia Integra, a única pessoa que posso chamar de família, ela é alguém amável e com uma personalidade inabalável, sempre me incentivando em tudo, o que sei sobre meus pais é que me deixaram com ela quando era pequeno e logo após desapareceram, já faz dezesseis anos, e confesso que não lembro deles, talvez só não me quisessem mesmo e seguiram a diante, tudo bem, eu nem consigo sentir saudades pois não sei quem eram mesmo.

Minha vida se resume entre estudo e trabalho, enquanto a maioria dos jovens que frequentam a ESC tem famílias estruturadas e com recursos financeiros, eu preciso trabalhar para conseguir ajudar Tia Integra que já está com seus 60 anos e não tem a mesma disposição e saúde que tinha em sua juventude, porém mesmo diante das dificuldades que enfrentamos juntos ela nunca perdeu o Sorriso e sempre me disse "Adrian, de tudo que você vivenciar, jamais deixe de sorrir e nunca baixe a cabeça pois com a determinação certa você mudará o mundo." e toda vez que estou preso em meus conflitos lembro dessa frase sendo dita trazendo à memória a voz suave e doce de Tia Integra. 

Para ajudar nas despesas de casa e nos estudos realizo um bico informal na Vintage Coffe, um lugar extremamente agradável e movimentado bem no centro da Cidade, minha jornada termina às 21:00hrs em dias normais, e às vezes chego a sair mais tarde, porém é natural acontecer devido a grande movimentação, normalmente volto para casa caminhando para economizar o dinheiro da passagem, sou apenas um jovem comum, em um emprego comum, vivendo uma vida comum em um mundo comum...

- Porém tudo mudou tão rápido quanto um flash de Luz

14 de Outubro - 6:00 AM

Trrrim-trrrim - Era exatamente 6:00 AM quando ouvi o som do despertador sinalizando o início de mais um dia monocromático em minha existência, estava fazendo 18º Graus, era uma manha fria e quieta, porém algo que me alegrava ao acordar sem dúvidas era o cantarolar de Tia Integra, sempre de bom humor a cada amanhecer, e com o cheiro de torradas e ovos fritos pairando no ar, neste dia estava me sentindo extremamente exausto pois durante a noite tive um dos meus pesadelos de sempre: Lá estava eu, em pé, no parque da Liberdade e diante de mim estava um ser com um manto negro, olhar afiado e gélido, possuindo um semblante feroz e amedrontador e próximo a ele estava alguém que mesmo que eu me esforçasse para ver não conseguia definir bem quem era devido a escuridão que a cercava, mas o que me chamava a atenção era uma mecha de cabelo e os olhos igualmente azuis quase que neon que refletia sob a luz do luar e todas as vezes que ela aparecia em meus pesadelos sentia um desejo latente de alcançar aquela pessoa que aparentava estar em perigo, mas todas às vezes ela era morta diante dos meus olhos, e por fim acordava com a sensação de verdadeiramente estar lá, claro que este era um dos muitos pesadelos sem sentido que me atormentavam, afinal não havia ninguém para compartilhar isso e possivelmente ninguém me entenderia.

Após me organizar, tomei um banho e desci para tomar café, ao adentrar a cozinha, aquele sorriso meigo estava lá.

- Bom dia Adrian, disse Tia Integra ao transmitir um tão belo sorriso caloroso e amável.

Era nítido que o bom dia de Tia Integra estava revestido de preocupação, estava claro o quanto  meu semblante estar decaído, era notório, não havia dormido, mas afinal, ela era alguém que sempre se preocupava comigo, chegava a ser engraçado, porque as vezes parecia que enxergava a minha alma quando me olhava, talvez por me conhecer desde pequeno, vai saber.

Após tomar Café, me despedi de quem mais amava neste mundo e segui rumo a ESC, meu desejo era que o período naquele lugar passasse logo, não que tivesse dificuldade em estudar, amava aprender algo novo, porém haviam pessoas alí que lutavam para tornar a vida de outras pessoas mais difícil do que já é. Ao chegar, era comum encontrar outros bolsistas como eu sendo oprimidos por Eric Mayer e sua trupe de idiotas, porém fazia de tudo para me esquivar do confronto direto, no entanto meu senso de justiça sempre ficava à mil diante de situações como as que via na escola, houveram momentos que me desconcertavam por completo, entretanto optei por me conter, pois não foi fácil para Tia Integra pagar os encargos iniciais exigidos pela Instituição, mesmo sendo bolsista. A manhã correu dentro do previsto, tive aula de português e logo após estudamos sobre física, onde o professor Austin nos mostrou a teoria sobre universos paralelos, que por sua vez arrebatou meu fascínio completo, o Universo era algo incrível e sua imensidão me encantava, por fim, para finalizar o período de estudos, tivemos uma prova surpresa de matemática. 

Como era de costume, após finalizar o período de estudos do dia, voltava rapidamente para minha casa para saborear o delicioso almoço que Tia Integra cozinhara, ela tinha o dom de tornar pratos, que em sua essência eram simples, em algo saboroso, era um talento sem igual, sua gentileza exalava em tudo que fazia, e assim o fiz, ao vê-la não pude deixar de abraça-la e dizer o quanto a amava e era grato pelo cuidado dela para comigo. O Almoço foi incrível, uma super e deliciosa macarronada, infelizmente não tive muito tempo, apenas tomei banho e me preparei para seguir ao meu trabalho, era uma caminhada de uma hora para chegar ao centro da Cidade, no caminho sempre optava passar pelo parque da liberdade, pois garantia uma economia de 10 minutos quando cruzava o mesmo, durante o dia era super movimentado, e hoje não era diferente, sem dúvidas era um lugar muito agradável de se estar, visto que por ser imerso em áreas verdes acabava trazendo um bem estar enorme, havia um lago no meio, onde as pessoas gostavam de fazer piqueniques, além das quadras poliesportivas, pista de corrida, ciclismo e muitos outros detalhes que haviam no parque e que atraía pessoas de diversos locais da cidade. 

Minha vontade era de parar um pouco naquele lugar para descansar, no entanto, não poderia, precisava correr, pois ainda me esperava mais de 6 horas de trabalho pela frente, e por ser uma cafeteria movimentada, nunca havia espaço para ficar parado. Porém, antes de ir, algo me chamou a atenção, enquanto cruzava o parque tive uma sensação de déjà-vu, e o pesadelo que me atormentou ontem à noite visitou a minha memória e por um momento senti um aperto indescritível em meu coração e meu corpo ficou congelado, mas não havia tempo a perder com esse tipo de sensação e apenas decidi seguir em frente, pois ainda me restava mais algum tempo de caminhada até chegar a Vintage Coffe, para mais um dia de trabalho como qualquer outro.


O conto das dimensões - Dança da EscuridãoWhere stories live. Discover now