Sub-capitães

3 verdades e uma mentira

-Eu preciso mesmo fazer isso? -perguntou Sanzu enquanto Mucho parava o carro na frente da casa iluminada. Dentro o barulho de jovens se divertindo era tão alto que Haruchiyo não duvidava que a polícia fosse ser chamada em algum tempo.

-Você nunca sai com eles, e geralmente com ninguém que não sejam eu, Mikey ou Baji... -explicou Mucho. Ele desligou o carro, apostando que aquela conversa poderia demorar o suficiente para gastar muita gasolina. -E eles sempre te chamam.

-Eles devem estar armando alguma para mim -disse Sanzu, desconfiado. Ele apertava os jeans longos que usava enquanto sentia um frio incomum na barriga.

-Armando de forçar você a se divertir e se soltar mais -disse Mucho, com ironia. Ele estendeu a mão para a cabeça platinada de Sanzu, despenteando seu cabelo impecável. Haruchiyo lhe olhou com raiva e ele recolheu a mão com medo de levar uma mordida. -Você deveria experimentar.  Por favor? Por mim?

Sanzu lhe olhou como se buscasse algum tipo de piada sem graça na voz ou no rosto duro de seu capitão. Nada nele parecia brincadeira, o que fez Sanzu se arrepender de ter escolhido Mucho como melhor amigo. Ele sempre o colocava em situações que envolviam contato humano desnecessário. Haruchiyo não precisava de amigos, relações... ele tinha seu líder, sua gangue e seu capitão. Era o bastante para alguém de cabeça pequena como ele, ficar extremamente grato. Yasuhiro não era exatamente o último extrovertido do mundo, mas ele tinha amizades e saia constantemente em companhia dos mesmos.

-Certo. -avisou Sanzu, se dando completamente por vencido.

Ele deu uma última olhada para Mucho que fez uma pequena comemoração de alegria por ele ter pelo menos tentado experimentar o convívio social. O mais velho destravou o carro, permitindo que Haruchiyo abrisse a porta com as mãos tremendo. Ele não tinha se dado conta de como a sua fobia social atacaria apenas por sair daquele carro. Como reagiria quando estivesse cercado dessas pessoas?! Humilhante.

Do carro, Mucho se sentia um monstro por ter que obrigar seu vice e amigo a fazer isso. E principalmente de o chantagear em relação a tudo. Ele deu um pequeno sorriso. Sanzu era especialista em se adaptar a todo tipo de coisa, contanto que ele pudesse sempre contar com Mucho, ele ficaria bem.

-Haru, não esqueça sua máscara. -advertiu o mais velho, estendendo o pedaço de pano preto que ficou esquecido no banco atrás de Sanzu. Haruchiyo o pegou com uma incerteza se deveria realmente fazer isso -Estou a uma ligação de distância. Um toque e seu irmãozão vem salvá-lo como sempre!

Sanzu deu uma risadinha e Mucho um sorriso. Ambos eram muito apegados e próximos o suficiente para criar uma relação de irmandade, sem interesse, sem cobranças, sem malicia. Eram apenas dois garotos quebrados que ajudaram a colar os pedaços que faltavam. Sanzu se encaixava em Mucho e Mucho se encaixava em Sanzu. Tão perfeito que não era necessário um aperto, eles se cabiam e se amavam como bons irmãos devem ser.

-Certo, Yasu-nii -disse Sanzu. Sua ansiedade social parou de gritar merda em seus ouvidos e ele suspirou fundo. Mucho sempre viria salvá-lo. Era um fato.

Haruchiyo acenou para o carro antes de se virar para a residência dos Kawata. "A uma ligação distância...", pensou ele. Era só chamar Mucho para o buscar caso algo desse errado. A voz de Hayashi era tão alta que ele teve que preparar os ouvidos para os berros mesmo estando do outro lado da rua. Peh-Yan era o único que ele tinha o mínimo contato entre os sub-comandantes de Toman. Era estranho pensar que alguém quieto e calado teria amizade com a pessoa mais caótica e berrante de todo o grupo. Sanzu suspirou antes de se aproximar da porta e tocar a campainha.

Todo o barulho foi substituído por um silêncio de alguns segundos. Haruchiyo tocou de novo e o barulhou voltou, apenas  alguns segundos depois, o rosto de lua cheia de Souta Kawata apareceu entre a fresta aberta. Angry o olhava com interesse, como se não acreditasse em sua presença ali ou estivesse duvidando dos próprios olhos.