41_ Olhos tão brilhantes..

Começar do início
                                    

As suas palavras eram carregadas de ódio, como se.. ela já estivesse presa em Hollyday..?

– não pense demais, pequena criatura. Eu vou destruir aquele lugar, mesmo que seja a última coisa que eu consiga fazer.– completou.

Me lançou uma encarada, daquelas que parecem entrar na alma, e mesmo com várias perguntas entaladas na garganta, só consegui ficar calada.

Morgana me lança um último sorriso e estrala os dedos, sem esperar que eu diga alguma coisa.
Pelo tempo que eu pude conversar com ela, percebi que ela era do tipo decidida, se ela queria algo, simplesmente agia sem hesitar.

Abri os olhos, com a respiração estranhamente calma. Olhei em volta, e vi Lucas deitado do meu lado, ele parecia estar dormindo, abraçando um travesseiro.

Continuei encarando seu rosto, totalmente sereno, até que estiquei o braço e toquei uma mexa da sua franja, sem ao menos perceber oque eu estava fazendo.
Você é um humano?

Fechei os olhos lentamente, com aquela pergunta na minha cabeça.

Acordei, depois de um sonho estranho.
Peguei o celular, mas isso era só uma mania, sempre que eu acordava, procurava primeiro o celular.

18:26.

Olhei em volta mais uma vez, Lucas já não estava mais lá. Típico dele, apenas sumir.
Levantei e fui até o criado mudo ao lado da cama, peguei meu creme e comecei a aplicar no rosto enquanto caminhava até o banheiro. Me olho no espelho, penteio o cabelo e desço as escadas.
Lucas estava em pé, de frente para o fogão, parecia preparar alguma coisa. Ao seu lado havia uma pilha de panquecas com calda e dois cafés gelados.

Assim que meus olhos batem na imagem do seu rosto de perfil, me lembro de tudo.
Tudo oque Morgana me disse, lembro de Hollyday, lembro de tudo oque tentei esquecer por um bom tempo.

Ela disse que ele é uma... Pessoa?

– você tá me encarando a muito tempo, no início achei que só tava babando na minha beleza.. mas, e esse olhar assustado?– ele virou a cabeça pra mim e encarou meus olhos.

– tá tudo bem?– perguntou, com um sorrisinho.

– eu acho que...

Não.
Não tá tudo bem. Seja sincero comigo, oque está te acontecendo?

– sim. Tudo bem.– suspirei.

Não era nada demais, as pessoas já se acostumaram a mentir com essa pergunta.. mas, me ardia o peito pensar em mentir pra ele, aquele garoto com os olhos tão brilhantes.

– bom, fiz panquecas. Aquelas que você gosta, sabe?– ele desligou o fogo. – tentei fazer um chá gelado também, mas acho que vai ficar com gosto de água de esponja. 

Ele soltou uma risadinha, que me fez rir.

– é que eu nunca fiz isso antes, sabe..

Eu quero abraça-lo.
Tudo bem se eu fizer isso?
Nós já nos abraçamos tantas vezes..

Mexi os pés, caminhando até ele, e assim que cheguei perto o bastante, abri os braços e os enrolei em volta da sua cintura. Escorei a cabeça no seu peito e senti o seu cheiro, oque me fez realmente ficar bem.
Ele demorou um pouco pra passar a mão no meu cabelo.

– tem certeza que está bem?– a sua voz soava preocupada.

Fechei os olhos, com o rosto escondido nas curvas da sua roupa.

– tenho.. E você, em?

Ele deu um risinho sacana enquanto me apertava com os braços.

– me sinto melhor agora.

...

– vai ser filme de que?– perguntei, tomando um gole do café gelado. – humm, ficou melhor do que eu esperava.

– né? Eu também gostei. Pode ser filme de suspense então?

– claro.– rolei os catálogos da netflix, parecia que nós já tinhamos assistido todos os filmes dali. – uma hora a gente vai precisar deixar a netflix de lado e ir atrás de um site com coisas novas. – falei, um pouco decepcionada. 

– você acha? Filmes vem e vão, os que já assistimos acabam saindo e outros novos entram em seu lugar. – falou de boca cheia. – nossaaa, isso tá muito bom.– se referiu as panquecas dessa vez.

Abri um sorriso, olhando o seu rosto de relance. Ás vezes Lucas dizia coisas com duplo sentido, mas não aqueles duplos sentidos de quinto ano, que sempre é uma bobagem. 

É bom tê-lo por perto. 

– esse parece bom.– apontou pra tela do notebook e me encarou. 

"Ilha do medo." Ele era do tipo que gostava de filmes que pareciam ter a intenção de causar traumas em crianças, e eu sempre fico com medo antes de dormir depois dele escolher algum filme. 

Apertei o play. 

...

Pisquei duas vezes e me senti de volta a vida, acordei. Os créditos do filme rolavam rapidamente perto do meu rosto, olhei pro lado e vi que Lucas também dormia. Seus braços estavam rodeados envolta da minha cintura, me abraçando. 

Seria difícil sair dali sem acordar a bela adormecida, então me mexi devagar, e assim que me desprendi e fiquei em pé, escutei aquele resmungo rabugento de sempre. 

– estava tentando me abandonar justamente enquanto durmo? Queria que eu acordasse sozinho e depressivo? Você é tão má... 

– quanta hipocrisia.. – reclamei. Ele sempre fazia isso. – mas, não. Não te daria um golpe tão baixo, isso é coisa de covarde. 

Ele se sentou na cama e me olhou meio indignado. 

– tá tentando me chamar de covarde, pequena? 

Veio engatinhando até mim e me agarrou, puxando pra cama. Assim que minhas pernas cederam, eu caí e ele ficou por cima de mim. 

– Lucas, espera, eu tenho que ir no banheiro.. 

Enfiou o rosto no meu pescoço e  me apertou mais forte, senti aqueles braços branquelos, estranhamente cheios de músculos pra alguém que nunca pisou em uma academia. Tentei fugir como nas outras vezes, mas qualquer esforço era inválido. 

– fiquei sabendo que hoje é o aniversário da cidade.– disse com a voz abafada, por estar com a cara contra a minha pele. Apenas concordei com um "uhum."– vai ter um festa.– concordei mais uma vez. – uma bela festa. 

Ele levantou a cabeça e me olhou nos olhos, com aquele olhar de criança chata que não aceita um não como resposta. 

– que horas nós vamos?– perguntou e sorriu. 

– quê? Quem disse que eu vou?– franzi a sobrancelha. 

Seus braços me apertaram mais forte, ele continuou com aquela carinha, esperando a resposta que queria. 

– ei, tá calor, sai de cima.– reclamei. Mas ele continuou imóvel. – Lucas... 

– parece que vai ter uns brinquedos na festinha da cidade...– falou. 

– e sabe o que mais vai ter além de brinquedinhos? Pessoas. Muitas pessoas.– fiquei tonta só de imaginar. 

– aah, para de ser antissocial, vai ser legal..– rolou pro lado e saiu de cima de mim. – vamos? 

Suspirei, sabendo que o Lucas que eu conheço nunca pararia de encher o saco (ele é doido por brinquedos de parques). 

– vou pensar sobre. 







... 

1673. 

Nós, pessoas meio Lucas. 



Meu melhor amigo imaginarioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora