41_ Olhos tão brilhantes..

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Escuro.
Estava escuro, eu me sentia leve, como um astronauta flutuando pelo espaço, mas, sem um capacete.
Me faltava ar, mas eu senti um cheiro, e.. que cheiro doce era aquele?

Não seriam cupcakes?

– acertou em cheio.

– o que...?

Recuperei o fôlego e pude ver algo, além da escuridão. Mais uma vez, era apenas uma cabana ridicularmente organizada.

– você acertou, estou fazendo cupcakes.

Olhei pro seu rosto, que estava destampado.

– você come, Morgana?

– acredito que todas as criaturas que andam, rastejam ou voam, precisam comer.– ela sorriu de canto e levantou da poltrona. – você aceita um?

Ela colocou luvas para segurar a forma quente, e depois colocou os bolinhos em um prato bordado e colorido. Veio caminhando até mim e se sentou na minha frente.

Cerrei os olhos e encarei os bolinhos. Parecia aquelas cenas das histórias em que as velhinhas canibais alimentavam as crianças antes de devora-las. 

– eles estão envenenados?– perguntei genuinamente. – ou você apenas tem uma péssima notícia?

Ela gargalhou e colocou o prato na mesa ao meu lado.

– por isso eu gosto de você, é esperta.– deu um sorrisinho pra mim. – mas, não estão envenenados, e parecem realmente deliciosos.

Resmunguei, olhando pro seu rosto, e depois olhando em volta, eu nunca tinha reparado aquele forno ali.

– não vai comer? Este é o único sonho que você consegue comer, normalmente as pessoas acordam quando tentam comer alguma coisa.

Estendi o braço e peguei um dos bolinhos, eles eram coloridos e bonitos, lindos o suficiente pra entrar na categoria de comidas que é uma pena ter que comer.

Dei uma mordida e apreciei o sabor, era bom.

– ótimo, vamos lá. Seu amigo foi uma criança comum, tirando o fato de ser órfão, ele era apenas uma pessoa.– pegou um bolinho e mordeu. – Hollyday foi apenas um orfanato, que em seu auge tinha boa fama. Mas, ao trocar de dono, começaram a usar métodos sociopáticos para prender as pessoas lá dentro.

Deu uma pausa e olhou ao redor, como se tentasse lembrar de alguma coisa.

Mas.. Lucas é uma pessoa? Como ele fica.. invisível?

– a taxa de fuga é muito baixa, quase nula, poucas pessoas que fugiram sobreviveram pra ter história pra contar, sendo assim, quase ninguém do lado de fora sabe da existência daquele lugar. Lucas é só mais uma das centenas pessoas que vivem a mesma realidade que ele.

Senti vários apertos no coração ouvindo aquilo, quantas pessoas sofrem presas naquele lugar?

– eles.. vão morrer lá dentro?

– vão.– ela foi direta, como sempre. – Ao menos que consigam fugir, ou que tenham todos uma revolta, mas... Eles sabem o destino que os pertencem. O antigo dono de Hollyday, fez quadras de basquete, futebol, e até alguns lagos artificiais pra distrair a cabeça das pessoas lá dentro, o novo dono abandonou tudo aquilo e encheu aquele lugar de regras, santos e freiras.

Ela soltou uma risadinha, enquanto eu estava em choque. Olhei pra ela surpresa, mesmo já sabendo o quão insensível ela poderia ser.

– acho engraçado que o cara é um religioso e tanto, que acredita na existência de Deus mais do que acredita em si mesmo, e mesmo assim.. tortura e mata crianças todos os dias. Qual é a desse cara?– ela se levantou e ajeitou a capa, escondendo o rosto novamente.

Meu melhor amigo imaginarioDove le storie prendono vita. Scoprilo ora