Capítulo 2

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Marceline

"Assim que você receber o pagamento da semana, você precisa comprar roupas novas" Ray disse ao me ver trocar de blusa pela terceira vez. "Suas roupas estão velhas".

Bufei.

"Eu sei, cria de uma gárgula, mas acontece que nós somos pobres e roupa aqui na capital é uma nota".

"Então a gente pega o trem e vai para Avolire. É uns quarenta e cinco minutos daqui só, sua gata borralheira. Se você trabalhar cinco horas por cinco dias, já vai ter 100 gemas, isso dá pra comprar umas quatro peças de roupa decente" eu podia jurar que seus olhos brilharam ao pensar nas pedras em formato de moeda.

Pausei para me olhar no espelho.

Ajeitei meu cabelo castanho claro longo. O deixei solto com os cachos desarrumados.

Vesti uma calça preta que imitava jeans, uma blusa vinho de cetim e minhas botas pretas de camurça. Usei uma maquiagem de acordo, até porque era um bar e já estava anoitecendo.

Ray insistiu em ir comigo – não que eu fosse reclamar – e se vestiu a caráter.

"Por que você tá usando um chapéu pra um bar?"

Ray revirou os olhos.

"É estilo. Pode ver que combina com o look" ele apontou para si mesmo.

Balancei a cabeça e decidi não discutir. Diferentemente de Raymond, eu preferia roupas práticas. Claro, quem não gostava de se sentir bonito ou de usar roupas bonitas? Mas eu tentava montar looks mais confortáveis para não me arrepender depois.

"Vamos, temos que chegar antes do bar abrir" Ray parecia mais animado que eu.

A possível mudança de rotina estava me deixando ansiosa. Sem contar no fato de que, chegando no bar, eles teriam que me entrevistar. Provavelmente iam pedir que eu fizesse algum drink que impressionasse.

Eu sabia um pouco de umas misturas graças à Ray. Seu traseiro pobretão o fez comprar as bebidas nos mercados e fazer os drinks em casa mesmo. Nós costumávamos fazer "noitada para dois" às sextas-feiras, em que cada um cozinhava e fazia um drink e nós mesmos dávamos uma nota. O perdedor tinha que lavar a louça e o vencedor podia escolher o filme daquela noite.

Aprendi a fazer várias bebidas com Ray e o Vamptube.

"Eu sei que você está nervosa porque acha que é a única solução" Ray disse, notando meu silêncio. "Mas eu quero que você saiba que se aqui não der certo, a gente ainda tem a festa da Iris para tentar".

Eu sorri e apertei a mão de Ray que segurava a minha.

"Vamos dar um jeito" eu disse, tentando ser mais otimista.

Eu precisava dar um jeito.

Eu ia dar um jeito.

Eu ia me tornar uma vampira, começar na Academia e ia resgatar minha herança bruxa.

Chegando no bar, entramos pela porta dos fundos e mostramos o panfleto para o segurança.

"Documentos, por favor" o homem gigante pediu. Percebi pelas suas feições e pela forma que se comportava que ele era humano.

Quando você nasceu no meio de humanos e depois foi parar em uma cidade no meio de vampiros, era fácil de notar a diferença. Não sabia explicar direito, mas ao olhar para alguém, era fácil para nós dizermos o que ela era.

Mostramos nosso ID e entramos. Uma mulher de pele escura e tranças longas parou na nossa frente, ao nos notar.

Vampira, pensei. Seguimos ela para dentro da área comum do bar.

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