Paulistas

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Observo uma estranha movimentação na casa da frente,era um caminhão de mudanças estacionado e pode ser visto os móveis sendo retirados, vejo Dona Zi se aproximando e vou correndo ao seu encontro ela se esforça para se abaixar e me apanhar no colo já que ela é de idade igual a minha mãezinha -(vóMelina).
Eu e Dona Zifirina, conhecida como "Dona zi" somos bem apegadas, e apesar de não termos o mesmo sangue na minha cabeça ela também é minha avó, eu tenho várias espalhadas por aí.
Ela tem um sorriso muito bonito, não sei se é dentadura. Vejo sempre ela colocando um pedaço de fumo na boca e mastigando, perguntei um certa vez :
_o que é isso vovó?
Ela repondeu sorrindo com uma risada rouca, é para clarear os dentes minha criança.
Ela sempre usa um pano para cobrir os seus cabelos grisalhos, apesar da sua idade sua pele é jovem e não tem muitas marcas de expressão como o rosto da minha VóMelina!
Dona Zi é uma mulher quilombola lá do Buriti do meio, a família  da minha mãe de sangue também é de lá:

"O Quilombo Buriti do Meio, em São Francisco-MG, foi certificado como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares."

"As comunidades remanescentes de quilombo se adaptaram a viver em regiões por vezes hostis

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"As comunidades remanescentes de quilombo se adaptaram a viver em regiões por vezes hostis. Porém, mantendo suas tradições culturais, aprenderam a tirar seu sustento dos recursos naturais disponíveis ao mesmo tempo em que se tornaram diretamente responsáveis por sua preservação, interagindo com outros povos e comunidades tradicionais tanto quanto com a sociedade envolvente. Seus membros são agricultores, seringueiros, pescadores, extrativistas e, dentre outras, desenvolvem atividades de turismo de base comunitária em seus territórios, pelos quais continuam a lutar."


Mas nunca conheci minha avó materna. Ela entregou a minha mãe recém nascida para um casal que morava em uma fazenda, e Des de então minha mãe foi criada pro Dona Armelina e seu Zé de Osvaldo. Eu não cheguei a conhecer o Vovô Zé.
Comigo ainda no seu colo dona Zi se aproxima do caminhão de mudanças, vamos ter vizinhos Paulistas ela diz rindo alto, o casal logo se aproxima e a cumprimenta:
_Como vai minha amiga ? Diz o cara careca saindo do caminhão, e estendendo a mão para saudar Dona zi.
_Tô boa , bonita e gorda!! Ela sorri sem parar, mostrando os seus dentes brancos e aprumados.
Nunca há vi triste, ela sempre está muito feliz .
_Dona Zi, preciso que você ajude a Luzia a da uma geral na casa pra gente arrumar as coisas, o moço diz! Minha vovó Zi concorda, me levando junto com ela.
Entramos por um portão grande que da acesso ao mesmo quintal de DonaZi, so que por um lado diferente, tenho a visão de uma enorme casarão, apesar de ser no mesmo quintal só o descobri agora.
O quintal em volta está tomado por folhas dos enormes pés de manga, que ali existe aos montes . Tem vários pés de diversas frutas, pelo fato de estar abandonados, muitas frutas podres estão caidas no chão.
Vejo minha Mãe Melina gritando do outro lado da rua:
_Ziii , trás essa menina piolhenta para eu dar um banho nela !!
Faço careta e grudo no pescoço de dona Zi, ela faz força para me desgruda, eu começo a abrir o berreiro, ela tenta me consolar dizendo, para que eu obedecesse a minha vó, depois do banho ela me buscaria para ficar com ela e a Paulista que se mudará .
_Brendinha minha fia, cada a chupeta da sua irmã? VóMelina pergunta enquanto eu estou aos berros relutando contra o sono .
_Não sei . Ela responde fazendo sua chupeta balançar, com uma na boca segurava a outra na mão.
_Menina que mania feia é essa de querer duas chupetas ao mesmo tempo ?
VóMelina toma a chupeta da sua mão e coloca na minha boca para que eu me calasse e agora quem está chorando desesperada é Brendinha .
- Calma Brenda, vem aqui . Minha vó nos coloca em cima da cama de casal, fazendo um grande esforço, ja que a mesma ja esta bem velhinha . Brenda tenta tirar a chupeta da minha boca e recebe um tapa na mão de VóMelina que ja esta sem paciência de tanto chororo, acabamos dormindo ali juntas na cama após uma longa berraçao.
Eu e Brendinha não somos irmãs de sangue, fomos criadas juntas durante 5 anos des de bebezinhas.
Brenda no entanto é neta legítima de VóMelina assim como Warley que também mora conosco, eles dois são primos por parte de pai e mãe.
A mãe de Warley morreu quando ele tinha poucos anos de idade e des de entao ele morava la naquela casa, ele já tinha 10 anos e era um garotinho muito rebelde . Brenda com 6 anos e eu com apenas 4 .
As brigas entre Warley e nossa avó era constante, e diversas vezes presenciei ele completamente transtornado. Nem mesmo tio Waldemar seu pai, que morava conosco conseguia dar um jeito nesse temperamento explosivo .
Todos os cachorros que tivemos eu colocava o nome de " Capítu" devo ter ouvido alguém falar esse nome e a partir daí surgiu essa minha fixação por esse nome .
Eu sempre fazia xixi na cama, e uma certa vez minha vó colocou-me para urinar sobre uma pedra de amolar facão, a superstição dizia que isso iria cessar a minha bexiga solta . O que não deu muito certo, as fraldas eram caras então sempre usava uma de pano, que minha vó lavava e quando estava seca, fazia um espécie de amarração sobre minha cintura . A única superstição que deu certo foi a de colocar um pintinho que uma galinha de estimação havia chocado para piar dentro da minha boca, e apesar da minha pouca idade eu conversava mais que o homem da cobra, dizia minha Mãe de criação.
Eu sempre fui independente e fazia muitas coisas sozinha, como ir a casa da minha tia que tinha um bar no centro da cidadezinha. Ela fazia queijo e vendia doces para tirar uma renda extra .
-"Thais e Brenda " minha vó nos grita.
estávamos brincando no fundo do quintal próximo ao muro do cemitério.
_Vamos Thata! Brendinha pega na minha mão e me puxa para irmos para casa , iniciamos uma corrida rápida até o início do quintal .
_Quero que vocês busquem um queijo para mim lá na sua Tia Nete. Concordamos, com as roupas sujas de terra, caminhamos nas calçadas de mãos dadas até chegar ao local que minha vó mandou irmos .
_Titia mãeMelina pediu para buscar o queijo, Brenda diz toda saltitante.
_ É o queijo Titia. Confirmo novamente pulando junto com ela .
Minha tia Nete não é muito de brincadeiras, ela nos repreende mandando se aquietar caso contrário não iria nos entregar o pedido.
Assim que ela nos entrega a sacola, voltamos pelo mesmo caminho . Ao virar a esquina longe dos olhares da nossa tia . Brendinha me olhar e diz :
-Thata, vamos comer um pedacinho desse queijo ? Mãe Melina não vai brigar . Ela afirma confiante.
Eu rapidamente concordo.. Tiramos queijo da embalagem e começamos a roer como dois ratinhos famintos . Sentadas ali na calçada, o queijo já estava pela metade quando nossa mãe Melina nos surpreende.
_ NOSSA SENHORA APARECIDA ! Ela grita visivelmente brava com a gente .
_Mamae tia Nete deu o queijo pra gente . Brendinha diz com a boca cheia .
_Simmm Brenda mas era para me entrar para eu fazer biscoito.
Ela pega sua sandália e antes que ela possa nos atingir saímos correndo em direção a casa que estava a poucos metros de distância.
_Vem thata, Brenda corre na minha frente entrando na casa e se escondendo debaixo da cama eu a acompanho e faço o mesmo .
_Aqui ela não vai achar a gente. ela diz baixinho .
Ouvimos os passos de Dona Melina pisando duro no chão.
_Cadê vocês suas pestinhas, eu vou dar uma surra em vocês que não vão se esquecer. ela diz furiosa .
Ali debaixo da cama adormecemos até o anoitecer quando somos surpreendidas por Tia Nete que nessa hora já tinha ido até na delegacia para falar do nosso sumisso.
-Olha aí mãe onde elas estavam, ela diz sorrindo e aliviada por ter nos encontrado.
Depois de horas minha vó já estava mais calma e feliz por ter nos achado.
Minha Vó Melina que chamava carinhosamente de mamãe, vendia Chup-chup . E eu e Brendinha era responsável por comer todos e jogar o saquinho em baixo da cama . Quando elas levantaram a cama havia diversas embalagem de chup- chup ali o que fizeram elas caírem na risada acordando a gente .
_Descobrimos por que tava acabando rápido mãe, as duas pestinhas tavam comendo todos escondidos .
Essa hora não tinha mais o que ser feito, só rir da situação.
_Saiam daí, minha tia grita e saímos uma depois a outra com o rabinho estre as penas com medo de sermos castigadas, mas tudo já está amigável em casa .O espaço antes amigável se transforma com a chegada da minha mãe completamente embriagada dando de cara com sua irmã de criação, começa um discussão que termina com minha mãe sendo expulsa de lá a força por minha Tia Nete .
_Eu ja estou me cansando de voce, e se aparecer aqui desse jeito de novo eu vou tomar a guarda da sua filha! Minha tia de criação grita para todos que estão na rua ouvir .
_Eu não tô nem aí sua baranga. Minha mãe responde com a voz arrastada pela cachaça. E vai embora cambaleando.
Eu não sentia falta da minha mãe, mas sempre que ela aparecia lá, meu instinto materno falava mais alto. E eu chorava quando ela ia embora ..
_Para de xingar minha mamãe sua Feiosa. Digo limpando as lágrimas com a mão. Grudo nas suas pernas e tento morde-lá
- Sua mãe é uma vagabunda. Ela diz rindo da situação.

Continuação........

Livro AbertoWhere stories live. Discover now