capítulo um

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capítulo um.

"Não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo."

Durante toda a semana ele suportou implicâncias no meio do corredor e não podia deixar de pensar que era, mais uma vez, uma versão sua mais jovem no Ensino Médio. Ele meio que se acostumou com empurrões quando mais jovem, mas ele não era mais o mesmo. Era ridículo, Nelson não conseguiria agir como um adulto por um só segundo.

E aquilo que mais frustrava Charlie era saber que o homem até faria o seu tipo, caso não fosse aquele que o infernizava. Ele parecia ter o temperamento de uma chaleira, ego estourado e muita criatividade. Tão bonito que fazia seu estômago doer.

Charlie não pretendia deixá-lo saber disso, embora. Claro que não, seria um total desastre. Já bastava de implicâncias e isso impulsionaria.

Ele segurava a bandana e levava consigo, deixava o cabelo de Charlie cobrindo os olhos até que ele a encontrasse, mais tarde, na mesa dos professores. Apertava seu rosto com as mãos sujas de tinta — que seria usada para o cenário —, comia suas frutas cortadas bem na sua frente.

Eles nem se falavam. Charlie sempre dizia "non" quando ele fazia a tal entrada triunfal na sala, apagava o cigarro e jogava no lixo, dizendo "bonjour!". Péssimo. Tornou-se uma rotina estranha, ele teria que ser cauteloso sobre isso. Porque caso se tornasse uma, seria esquisito sentir falta do que o incomodava.

Na sua sala, o lugar no qual tudo estava sob o seu controle, ele ouviu um breve choramingo e agilmente olhou para trás. O quarto ano era interativo demais, ele sabia que sim.

Eram muitos alunos, era um tanto difícil manter atenção em todos, mas, quando avistou a garotinho segurando o nariz e dando o melhor para não chorar na frente de toda a turma, ele teve que se culpar. Era absoluta e total responsabilidade sua, ele tinha que mantê-los seguros e, no mínimo, se certificar de que não sairiam com um sangramento no nariz.

— Você quer? — tocou o próprio nariz para não chamar atenção. Parecia ser a última coisa que a menino queria.

Ele seguiu até sua mesa, o nariz ainda escorria um pouco de sangue e agora as lágrimas escorriam nas bochechas.

— Eu levo você na enfermaria e aí me conta quem fez isso. — ele disse, mas soou inquisitivo demais para ser algo definitivo. — Tudo bem?

O garoto enrugou o nariz e piscou os grandes olhos azuis*, dando de ombros. — Eu fiz.

Ele não entendeu o que o garoto quis dizer com aquilo no momento em que disse, apenas instruiu que a inspetora ficasse de olho na turma para que ele pudesse levá-lo até a enfermaria.

No meio do trajeto, Charlie se intriga com o fato de que a imagem do menino não parecia familiar. Ele lecionava naquela instituição há anos, conhecia os rostos. Os professores sempre recebiam fichas de novos alunos, então eles eram apresentados para a turma. Era como um ritual. E aquele era um novo aluno.

— Esse é o seu primeiro dia?

Oui. — ele respondeu com os olhos grudados nos sapatos. E se Charlie não tivesse se submetido a tantas palavras francesas, ele não deduziria nada com aquilo. Oui.

— E alguém bateu em você?

Eles estavam andando numa linha reta, o menino não saía da faixa vermelha que atravessava todo o corredor. Estava prestes a responder quando Nick apareceu no último bloco do corredor, um pincel sujo e um avental cobrindo o corpo.

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⏰ Last updated: Jun 22, 2023 ⏰

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Roma & Julio | NarlieWhere stories live. Discover now