capítulo único: bem vinda ao meu mundo perdido.

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bolos de abacaxi são desprezíveis a ponto de merecerem minha tragada de um cigarro barato que adquiri furtando dos bolsos da sua jaqueta. e eu poderia me esconder lá, se não fosse grande para lhe encarar e enxergar através das suas íris sórdidas. me atraia cada detalhe seu. suas madeixas escuras acompanhavam até sua cintura. seus lábios voluptuosos eram preenchidos por um tom rosado. seus dedos rodeados de anéis bonitos e de valores exorbitantes abriam a embalagem de um malboro.

impetuosa, deitava-se sob o luar e me dizia mais uma de suas frases prontas e milimetricamente calculadas após tragar o cigarro:

— o mundo é nosso.

nunca foi. inefável seja a composição do planeta terra que transborda em nossas mãos. todavia, naqueles poucos instantes acatava sua ideia como meu lema enquanto sorria ao te ver franzir o cenho. era idônea a suportar sua balbúrdia noturna recheada de ruas de avenida e luzes dos postes que refletiam em nossos rostos fleumáticos.

você tomava o celular minha mochila e colocava sua playlist de rock — apesar que, eu sabia que fazia isso por mim. você sempre gostou de músicas mais calmas, o que contradizia-se com sua postura sombria. ninguém ousaria questionar que sua artista favorita era o suprassumo do diabético, de tamanha doçura persistente em melodias viciosas, então contentava em me fazer sorrir com abordagens que traziam a estranheza de uma quarta-feira ensolarada e tediosa.

incompreensível. era como forasteiros do seu coração casto a definiriam a primeiro relance julgador. e eu concordo, em partes. decifra-me nas sete cores do arco-íris e se dissipa entre as nuvens esperando que eu a encontre facilmente.

de fato, adentrei ao limbo sozinha, porém renasci nele ao seu lado. o incendiamos juntas, fora do sonho idealizado dos olhos que me encaram lentamente a mercê das queimaduras instintivas.

não somos nenhumas pecadoras, somente estamos na margem dele. o limbo. conflituoso, viciante e incerto; é o nosso destino diante da falta de batismo e a liberdade não nos levará ao purgatório.

nosso mundo perdido nunca será encontrado pela desatenção corriqueira acoplada nos hábitos dos homens robotizados, até porque, somos a prova da manifestação de sentimentos, volúveis ou não. vivemos em pleonasmo, todavia é o ápice inócuo o qual sempre almejo.

eu. você. nós. nosso lugar definitivamente é o limbo, kazuha. e estaremos juntas lá acompanhando as noites feitas de açúcar se dissolverem no café da escuridão iluminado somente pelo seu sorriso.

(⁠ʃ⁠ƪ⁠^⁠3⁠^⁠)

— inspo: limbo do jun.
— não sei o que escrevi, só veio e deu nisso.

limbo ✧ chaezuhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora