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— Ah, a raça superior, eu havia me esquecido.

É claro que estou chocada com isso, mas me irrito ainda mais de ouvir um ministro dizendo que pelo fato de ter nascido em uma família diferente da minha poderia simplesmente burlar centenas de anos de tradição e lei.

— Só estou dizendo que para alguns de nós há algum benefício em negar o casamento e poder escolher.

— E ela queria que você escolhesse a Melissa.

— Olívia!

— Que seja.

Pego minha vasilha com frutas e nozes e lanço um olhar irônico para ele, Virgo ainda assim sorri e isso me desarma completamente, por alguns segundos me vejo observando cada pequeno aspecto de seu sorriso, me sinto mais uma vez idiota.

— Você está com ciúmes da Olívia?

Enfio um pedaço de fruta na boca e me afasto, vou até a minha cama e me deito me acomodando entre os travesseiros, não posso mentir, mas ele não pode me forçar a falar também se eu não quiser.

— Deve imaginar que mamãe se sinta ameaçada por sua presença — Virgo fala enquanto se ergue.

Não olho, fico olhando para a minha vasilha em silêncio, sei que ele se aproxima sem muita pressa.

— Te contrario, Mic? — indaga ele e se senta ao meu lado na cama.

— Não aprecio o fato de que se ausentou e isso me fez sentir medo, triste e angústia — falo analisando cada pequena fruta e noz que tem dentro da minha vasilha. — Não sou desleal as minhas promessas e sou presente nas vidas das pessoas para quem tenho importância e por quem prezo, sei que é difícil que entenda a minha posição em relação ao que houve com a sua mãe, mas não me foi concedido o direito de fingir que aprecio a forma arrogante, prepotente e nojenta na qual ela vinha se dirigindo a mim.

Ele fica calado.

— Entendo os receios dela, os medos, mas eu estou disposta a ser como uma filha para ela, a ajudá-la e a ser gentil, bondosa e obediente, mesmo que não seja da minha natureza ser tão obediente em relação a pessoas exigentes como ela, minha mãe não me trouxe a este mundo para ser humilhada, não é natural, não é a ordem da vida, por mais que sejamos subjugados por outras proles.

— Eu sei...

— Não, você não sabe — interrompo-o fitando-o. — Como meu marido e pai das minhas crianças me deve lealdade e respeito e ela nos deve confiança e amor, ela deve me tratar como filha porque esta é a lei, bem como meus pais o tratam quando está por perto, com honra e orgulho, com respeito e devoção, não tem a ver com o que ela quer e sim o que é, está na lei e ela não está acima da lei, portanto quero que você saiba que amanhã pela noite irei até o secretário para pedir que ele anexe uma reclamação formal em relação a postura da sua mãe e pedirei intervenção mais próximos para que ela faça o que é certo.

— Duvido muito que consiga — Virgo fala bastante calmo. — Ela já partiu, o máximo que conseguirá é uma carta enviada a ela com uma pequena advertência por ter me deixado sem meu animal e ter cortado meus custos.

— É abuso de poder — argumento chateada.

— Eu sei que é, mas prefiro que ela fique com o que me tirou do que se em algum momento ela estivesse aqui, faria das nossas vidas um verdadeiro tormento, cenas como aquela iriam se repetir constantemente.

— Ela é infeliz.

— Ela tem medo de que sua autoridade seja retirada, ela não se apetece de mudar para cá, mas como sou o único que ainda mora com ela, tem medo de ficar sozinha — Virgo estende a mão e toca a minha face. — Ela sabe o que realmente me importa.

— Resumindo, ela é uma mimada — falo.

Ele sorri e se inclina e me dá um beijo leve, minhas bochechas queimam novamente.

— Entendo que fique zangada, ela está errada e eu sei disso, mas deixe-a para lá, ela terá que aceitar que com o tempo nós dois ficaremos juntos e que eu terei que seguir meus passos — diz.

— Mamãe enviará algum dos meus sobrinhos para vir dormir conosco — reflito. — Terá muito trabalho a fazer amanhã?

— Pedirei uma redução de horas e quero poder tirar uma folga — ele se estica e se deita ao meu lado. — Se dispa.

— Ainda é noite...

— Não importa, gosto que esteja despida em nossa cama.

Nossa cama?

— Eu não ouvi nenhum por favor — argumento.

— Por favor, se dispa.

Ignoro o tom mandão dele e puxo a saia do vestido que coloquei tão logo chegamos, me sento e o tiro pela cabeça, Virgo toca minha barriga e em seguida quando me acomodo, ele apoia a cabeça em meu peito pegando uma noz para si e enfiando na boca.

— Senti sua falta — Virgo diz e mastiga a noz olhando para meu seio exposto. — É estranho sentir como se já houvesse feito isso tantas vezes que é comum?

Me sinto assim constantemente, mas é ótimo saber que ele sentiu minha falta também.

— Descanse — aviso e coloco um beijo gentil em sua testa.

— Sentiu minha falta? — indaga ele.

— Senti.

Talvez um pouco mais do que imagina, mas nesse momento, não tem que saber disso.




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