Ainda vai sorrir quando eu for o teu único motivo?

1.2K 180 78
                                    


Kojiro conhecia bem os jeitos de trapaças de Kaoru.

E não apenas porque eles estão juntos desde o jardim de infância, ou até mesmo antes disso. Sua mãe jura de pé junto que suas primeiras palavras foram ''Ru-Ru''

Conhecer cada detalhe de Kaoru foi uma atividade extracurricular que Kojiro se orgulha por ter conseguido finalizá-lo sozinho.

Ele sabia o que cada franzir de testa, arquear de sobrancelha e biquinho birrento significavam. Seu corpo dava sinais claros de quanto ele estava a fim de sua comida caseira ou quando estava disposto a quebrar a dieta e devorar um hambúrguer inteiro em apenas duas mordidas.

Então, quando Kojiro voltou para casa e o encontrou no sofá, com todas as luzes apagadas e a única iluminação vindo na TV, onde um desenho antigo e repetitivo da Disney era transmitido, ele sabia que alguma coisa estava errada.

Carla anunciou sua chegada, mesmo assim, Kaoru não desviou o olhar da TV. Kojiro até imaginou que ele estivesse cochilando, mas viu seus cílios balançando ao piscar. Deixou sua mochila junto aos seus sapatos na entrada, e foi até o amante.

''Quem você tentou matar no trabalho hoje?'' Kojiro se jogou ao seu lado no sofá.

''A mim mesmo'' foi a resposta do outro. Kojiro suspirou, então é aí que estamos. Kaoru não queria realmente falar aquilo, Kojiro notou o arrependimento passando por seu rosto assim que as palavras saíram, o morder ansioso na parte interna de sua bochecha deixou isso óbvio.

Acontecia em momentos em que a mente de Kaoru estava esgotada ao ponto de não conseguir impedir seus pensamentos mais perturbadores de escaparem. Era quando ele estava mais apto a fazer piadas autodepreciativas, abusando do humor para esconder sua angústia.

Isso explicava o Rei Leão na TV.

Kaoru se remexeu no sofá, mudando de posição, sua cabeça agora deitada no colo de Kojiro. Ele colocou os braços ao redor de si mesmo, encolhendo as pernas, os joelhos junto ao peito. Os dedos de Kojiro foram até seu cabelo, fazendo carinho em sua cabeça.

Na televisão, Simba estava sendo resgatado por Timão e Pumba.

Kaoru riu. Kojiro inclinou a cabeça para baixo, olhando para ele.

''O que foi?'' Kojiro afastou alguns fios de sua testa. Kaoru ainda sorria ao apontar para a TV.

''Você já parou para pensar na história do Simba?'' perguntou ele, ''O muleque foi enganado pelo tio, levando a culpa pelo assassinato do proprio pai, precisou fugir, traumatizado, e no fim foi adotado por um casal gay vegano.''

''Eles não são um casal... peraí'' Kojiro arregalou os olhos.

''Exatamente'' Kaoru virou-se de barriga para cima, os joelhos cruzados. ''E lembra do terceiro filme, o que conta a histórias dos dois?" Quando Kojiro anuiu, ele continuou: ''O Timão saiu de casa porque não encontrava o seu lugar, como se ele fosse o diferente de seu bando, a mesma coisa com o Pumba. E onde eles encontram abrigo?''

''Naquela floresta?''

''Não, seu cabeção, um no outro!''

''... Caralho, isso faz sentido''

''Claro que faz, fui eu quem falei'' Kaoru deu de ombros, vangloriando-se. Kojiro não pode deixar de rir.

Eles continuaram vendo o filme em um silêncio aconchegante, às vezes comentando algo sobre o filme, cantando as músicas ou repetindo os diálogos já conhecidos por seus ouvidos.

Quando a animação terminou, nenhum dos dois fez menção de que iria se levantar. Kaoru foi rápido em dar uma ordem a sua IA.

''Carla, coloque Irmão Urso, o primeiro filme, por favor.''

IntimitàWhere stories live. Discover now