004

982 76 16
                                    

Maktub; capítulo 4.
old times

Na volta para casa os meninos deram alguns sermões em Conrad, mas acho muito difícil ele ter ligado, pois quando olhei pelo retrovisor, ele parecia perdido em seus pensamentos. Já eu, estava perdida no meu próprio ódio, lembrando de tudo que aconteceu e ainda ter que reviver tudo contando para nossas mães.

Jeremiah até deu a ideia de Conrad entrar escondido para não verem os machucados e a gente diria que a festa foi ótima, ideia que eu logo neguei, não deixaria Conrad escapar dessa sem ser prejudicado.

─ já chegaram? Espera, o que é isso no seu olho, Conrad? O que aconteceu? ─ assim que entramos na casa, já demos de cara com Susannah e minha mãe assistindo filmes. As duas levantam preocupadas.

─ não foi nada, mãe. Eu vou subir pro meu quarto. ─ Conrad fala, indo em direção a escada.

─ ah, mas não vai mesmo. Vai ficar aqui e explicar tudo que aconteceu. ─ digo, e ele logo volta para a sala. ─ Se tem alguém que pode subir, é Belly, Jeremiah e Steven. Aliás, eles não procuraram briga na festa.

─ Briga, como assim? Vocês prometeram que seriam responsáveis! ─ minha mãe diz.

─ Prometi, e cumpri. Passei a noite de olho em todos, menos em Conrad, claro. Já que o mesmo deveria estar sendo responsável também, mas resolveu se meter em uma briga.

─ não foi tão sério quanto Merlia está fazendo parecer que foi, ok? Ela está aumentando, não vêem que ela não me suporta e está fazendo de tudo pra eu me dar mal?

─ não foi tudo isso? Eu precisei te segurar junto com Steven, e o outro cara foi segurado por Jeremiah e Louis. Eu não dúvido que você estaria brigando até agora se não fosse por nós.

─ Eu já ouvi demais! E eu tô muito decepcionada com você, Conrad, espero muito que essa situação não se repita. E como castigo, você irá arrumar toda a despensa amanhã. E eu quero tudo limpo, de cima a baixo. ─ ela ordena e eu dou um sorriso, vejo Conrad revirar os olhos.

Confesso que esperava algo muito pior, mas contando com a bagunça que tem na despensa, até que foi um bom castigo pra situação.

─ Quer saber, Susannah? Acho que seria uma boa os dois fazerem isso juntos. Aliás, os dois iriam trabalhar juntos hoje a noite e não conseguiram, e é isso que acontece com uma dupla: Quando um caí, o outro caí junto. ─ Minha mãe diz, e eu não consigo conter minha expressão irritada.

─ Como assim? Isso é injusto, eu fiz o que eu tinha que fazer, não tem essa de cair junto, ele que fez a merda então ele que pague por isso! ─ exclamo, eu já estava alterada, piorou depois de ver um sorriso de deboche no rosto de Conrad.

─ já está decidido, e irão ficar sem celular até amanhã, entregaremos quando finalizarem. ─ Minha mãe diz, e susannah estende a mão pedindo os celulares, entrego com uma expressão nada boa e Conrad faz o mesmo, subo o mais rápido possível e vou direto para o quarto do meu irmão.

─ Cadê minha privacidade? ─ Steven pergunta brincando, mas logo para quando vê minha expressão. ─ e aí, o que rolou lá em baixo?

─ Uma puta injustiça! Eu fiz tudo certinho, e ainda acabei levando castigo, vamos ter que arrumar a despensa amanhã, já viu a bagunça daquilo? Vou perder metade do meu dia. ─ falo indignada.

─ Realmente é injusto, acho que apenas ele que deveria arrumar, ele que procurou briga sozinho. Aliás, você lidou muito bem com a situação na festa, não teve desespero, agiu como uma adulta. ─ Ele fala com um tom de orgulho em sua voz.

─ obrigada, 'Stev, mas parece que não foi o suficiente. Posso dormir aqui hoje? ─ Peço e ele logo assente com a cabeça, nem tive coragem de levantar e trocar de roupa, apenas fiquei alí, dormindo com meu irmão.

‧₊˚✧ .˚‧ ₊ ‧₊˚✧ .˚‧ ₊

No dia seguinte, acordo exatamente às 10:08 da manhã, estava totalmente cansada e só apaguei. Vejo que Steven já tinha levantado e vou direto pro meu quarto, tomo banho e escovo meus dentes, logo descendo para a cozinha.

─ bom dia, luz do dia. Acordamos a alguns minutos também, vai querer? ─ ouço Jeremiah falar assim que chego na cozinha, e me oferece um sanduíche, encontro todos alí, exceto Conrad que estava no sofá da sala.

─ Bom dia, vou querer sim, valeu. ─ agradeço.

─ apressa aí, faz mais de meia hora que eu tô esperando você acordar para a gente começar. ─ ouço a voz de um Conrad mal humorado vindo da sala.

─ E já deveria ter começado, você que teve toda a culpa, ainda é folgado. ─ Retruco e vejo os olhares confusos de Jeremiah e Belly, que até agora não sabiam do castigo. Steven explica aos dois.

─ isso é injusto, desculpa aí Conrad, mas você que fez merda. ─ Belly me defende.

─ Concordo com a Belly, Merlia foi 100% responsável. Lembram daquela hora que ela mandou a gente ir pro carro? Eu nem quis contrariar, estava com medo de voltar para casa em um caixão. ─ Jeremiah diz e soltamos uma risada.

Termino de tomar meu café da manhã e passei o tempo inteiro reclamando de ter que fazer isso, mas nada convenceu as duas de me deixar de fora, então eu e Conrad fomos para a dispensa.

─ está pior do que imaginei. ─ Ele fala após abrir a porta.

─ e tudo isso por culpa sua, eu poderia estar relaxando na praia. ─ murmuro com irritação.

Começamos a arrumação, Conrad em um lado e eu automaticamente bem longe do mesmo. Queria fazer isso do jeito mais rápido e eficiente possível, estava separando as coisas para jogar no lixo enquanto ele fazia o mesmo do lado oposto.

─ Vai ficar parado aí, ou vai agilizar? ─ pergunto após vê-lo parado, folheando algo que não reconheci.

─ Me erra, lembra desse dia aqui? ─ ele pergunta me mostrando algo e eu me aproximo para ver.

Era um álbum de fotos de verão, era uma tradição nossa, todo verão fazíamos um álbum. E esse era de quando eu e Conrad tínhamos 11 e 12 anos.

─ não poderia esquecer o dia em que Conrad Fisher me pediu em casamento com anéis de papel. ─ falo observando a foto e sorrindo.

─ E você disse: "Eu gosto de coisas brilhantes, Connie" fiquei triste, mas você continou: "mas casaria com você com anéis de papel, se ao menos tivéssemos idade". ─ ele lembra.

─ e depois fomos brincar na piscina com os outros. ─ eu completo e rimos, logo me dei conta de algo que acabou de acontecer: eu e Conrad, no mesmo local, tendo um diálogo sem brigas e implicâncias. Parecia até que nunca tínhamos nos afastado, parecia que estávamos de volta ao tempo.

─ velhos tempos. ─ ele diz.

─ é, tempos que não voltarão. ─ Digo saindo de perto dele e indo em direção a uma lixeira no lado de fora.

Volto para a despensa e continuo minha tarefa, não trocamos mais nenhuma palavra, ele de um lado e eu do outro. Organizamos, varremos e tiramos a poeira, mas a única coisa que não saía da minha cabeça era: Como seria se não tivéssemos nos afastado? Ainda seríamos melhores amigos? Como chegamos a esse estado? Como passamos de "Connie" e "Lia" para Conrad e Merlia?

Como nos tornamos praticamente estranhos, quando na verdade éramos quase irmãos? E por que aconteceu apenas com nós dois? Eram inúmeras perguntas, todas sem respostas, e eu sabia que não teria essas respostas nem tão cedo, de repente bateu uma onda de tristeza misturada com nostalgia.

Talvez eu gostaria de ter os velhos tempos de volta.

ᴍᴀᴋᴛᴜʙ↬ᴄᴏɴʀᴀᴅ ғɪsʜᴇʀ Where stories live. Discover now