Agosto: Uma guerreira inesperada

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Então, alguns temas acabava estudando sem que meus pais soubessem... Como ervas medicinais, estratégias de guerra e lutas.

Em minhas pequenas fugas para o pátio da mansão, aconteciam longas sessões de observação. Eu me atentava a tudo o que os soldados faziam e tentava replicar sozinha em meu quarto, usando um leque para simular uma espada de vez em quando.

Mas, sabia que tudo aquilo não passaria de um enorme segredo meu e que levaria para a vida toda e nunca poderia plenamente praticar essas coisas.

***

Muitos anos se passaram, eu já não era mais criança e sim uma jovem próxima da idade de se casar, o que claramente não queria. Meu pai faleceu neste meio tempo, durante uma batalha, deixando - para o alívio dela - minha mãe viúva. Kenji, meu irmão mais velho e único homem, se tornou o patriarca da família, gerindo a mansão e assumindo os treinos de novos recrutas, com auxílio dos meus primos, já que meus tios todos não podem mais. Ele também se casou e a sua esposa Reina vive aqui. É um casamento recente, então eles ainda não geraram filhos.

Todas as minhas irmãs já haviam se casado, morando agora nas residências da sua nova família. Uma se casou com outro nobre, outra com um general, outra com um dos príncipes para sucessão, todas com casamentos muito vantajosos para a família e que aumentavam as chances para mim. O sonho de minha mãe era me casar com alguém de outro reino - talvez um imperador ou príncipe - trazendo assim paz para nosso império de alguma forma, já que não haviam princesas em nossas terras.

Então, a pressão sobre mim aumentou ainda mais, tinha mais aulas de tudo o que precisava aprender e eu simplesmente não aguentava mais. E sabia bem que dali para frente, era só para trás, pois nunca viveria os meus próprios sonhos e muito menos realizaria as minhas vontades. Afinal, eu era mulher, o que mais poderia querer além de um ótimo casamento e filhos saudáveis?

Estava devaneando sobre isto, sentada no jardim, enquanto lia uma história, onde a personagem lutava pelo que queria. Não conseguia não me enxergar ali, pensando que talvez devesse agir como essa personagem e lutar pelo meu futuro. Mas, isso seria lutar contra um sistema inteiro de tradições milenares e contra todos que achavam que ele fazia sentido.

Talvez seja por isso, desde que mamãe anunciou que eu havia florescido e que minha mão estava disponível, que me sentia tão triste!

Olhei para cima, o céu claro e limpo da primavera, ornamentado com as peônias da estação enchendo as árvores em todo o seu esplendor. Respiro fundo, tentando não ficar com isso na cabeça por tanto tempo.

Sinto passos vindo em minhas costas, me viro para ver quem é e é Reina, que veio dar uma volta no jardim - ou só perturbar o meu juízo. Ela falou comigo:

- Yura, lendo novamente? - ela riu, desdenhando - Devia parar de sonhar e se preocupar com coisas mais realistas.

- Já sei! - fiz careta - Como um marido.

- Se comportando desta forma não encontrará. - pôs as mãos nas costas - Eu tenho pena da minha sogra que ainda precisa encaminhar uma traste que nem você.

- Não abra esta boca para falar da minha mãe e muito menos de mim. - retruquei

- Eu sou a senhora desta casa e posso dizer o que quiser sobre quem quiser, entendeu?

Sim, ao se casar com Kenji, ela assumiu o posto de "dona" da casa, as funções que era de mamãe passaram a ser dela.

- Espero que você e meu irmão tenham filhos logo, assim para de acabar com o meu dia.

- É o que eu pretendo, assim coloco você mais lá trás na linha sucessão desta família. - ela sorriu, debochando - Inclusive, seu irmão, o senhor desta casa, retornará hoje à noite. Amanhã começa mais um ano de treinamento de soldados.

12 Meses com MinorinOnde histórias criam vida. Descubra agora