Ritual Macabro.

96 3 3
                                    

Um amor unilateral e um adolescente que anseia por ser visto de uma maneira que vai além da amizade, estes dois fatores juntos foram o que fizeram com que Lucas estivesse neste momento em meio a floresta que rodeava a pequena e pacata cidade onde morava para fazer algo que jamais imaginou.

 A noite estava fria e o céu escuro encoberto por nuvens que escondiam a luz das estrelas e da lua, não havia som algum ao seu redor, não se ouvia nem mesmo o barulho dos diversos insetos que existiam na região e isso atormentava o garoto que se perguntava a todo instante o quão louco era por estar ali sozinho naquele horário, o jovem ainda pensou em dar meia volta, porém, ao se lembrar de seu objetivo não se permitiu desistir.

 “Preciso que ela me ame assim como a amo!” Lucas pensava constantemente como se isso o deixasse mais confiante, agora eis a questão, confiante para que? Bem o jovem e tímido rapaz apaixonado por sua melhor amiga resolveu usar de métodos não convencionais para ter aquilo que tanto deseja. Após vários dias de pesquisa Lucas enfim encontrou o que queria, um ritual que lhe permitia ter desejos realizados que parecia ser verídico o suficiente para se embrenhar no meio do mato a noite.

 O garoto olhou para o relógio e percebeu que já estava na hora de começar a se preparar. De dentro de uma sacola ele retirou uma vela vermelha, fósforo e uma faca de cozinha. Lucas colocou a vela no chão e a acendeu, olhou para o relógio novamente e quando os ponteiros apontaram às meia-noite ele posicionou a faca na palma de sua mão e com um pouco de relutância ele passou a lâmina em sua carne fazendo um corte profundo que fez lágrimas escorrerem por seu rosto e uma vontade imensa de gritar o apossar, porém, resistiu, precisava terminar tudo o mais rápido possível.

Lucas fechou sua mão em punho com força fazendo seu sangue escorrer em grande quantidade e começou a rodear a vela acessa criando um círculo de sangue em volta dela enquanto recitava um cântico antigo.

— “Te invoco, qui tenebras dominaris, per sanguinem meum te adstringas mihi, et sis servus meus implens omnia desideria mea.” — Após terminar o cântico uma forte ventania soprou sobre ele o fazendo sentir como se seu sangue congelasse em suas artérias, era uma sensação horrível, o vento ficava mais forte a cada minuto, mas ao olhar para vela percebeu que ao invés da chama se apagar ela ficava mais forte. Ele abaixou e sem nem ao menos pensar estendeu a mão cortada acima da chama que acertou a ferida a queimando, a dor o atingiu e foi como se ele saísse de um transe e ao tentar tirar sua mão de lá não conseguiu era como se uma força o segurasse, o garoto puxava seu braço voltando a chorar e dessa vez não aguentou e gritou ao ponto de sentir sua garganta secar e quando achou que não tinha mais forças a vela se apagou e sua mão foi liberta.

 Lucas estava jogado no chão chorando compulsoriamente enquanto respirava de forma ofegante e sentia como se seu coração fosse estourar dentro de si de tão forte que estava batendo.

 A ventania se acalmou e tudo que se podia ouvir eram os sons causados pelo garoto que continuava no chão, sem ter força para se levantar, seu corpo e seus olhos estavam pesados e exigiam descanso, mas naquele lugar e depois do que aconteceu seria impossível. Lucas tentava levantar e em toda tentativa falhava miseravelmente, se sentindo o ser mais inútil do mundo o garoto desistiu e se deixou cair na escuridão pouco a pouco.

[…]

Beep! Beep!

O som chato se repetia várias vezes até que Lucas esticou o braço e jogou no chão o despertador que estava em cima do criado mudo, não se importava se o aparelho tivesse quebrado apenas queria silêncio o mais rápido possível, sua cabeça latejava com tanta intensidade que sua vontade era arrancá-la fora. Lucas também sentia uma dor com a mesma intensidade na mão e a olhou, mas não encontrou nada que pudesse estar causando aquele terrível incômodo, após alguns minutos a mais deitado o adolescente se levantou, tomou um analgésico e se dirigiu ao banheiro para tomar banho. Dentro do banheiro o garoto parou em frente ao lavabo e se olhou no espelho, ao invés de encontrar um reflexo abatido o que ele viu o fez esquecer até mesmo de suas dores. Sua aparência estava diferente e para melhor, sua pele, seus olhos, lábios e até mesmo seus músculos pareciam terem se modificado da noite para o dia, qualquer pessoa que o conhecia ainda o reconheceria, porém, estava bem melhor do que era.

Ritual Macabro Where stories live. Discover now