17. V de ...

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Vegas

O cigarro já estava quase no fim quando uma batida na porta tirou Vegas dos seus pensamentos profundos.

    ⁃    Tem carga chegando lá no porto. O velho Jay mandou perguntar se você quer trabalhar pra ele hoje.

    ⁃    Sim. Vou só pegar minha mochila e te acompanho.

Desde que chegou naquele vilarejo, Vegas vivia de pequenos trabalhos para os pescadores da região. Hoje era um dia de sorte. Havia bastante trabalho de carga e descarga no porto. Rendia alguns bons trocados, e o fazia esquecer do mundo enquanto carregava peso. Chegava no pequeno quarto que havia alugado morto de cansaço, bebia até não aguentar e capotava logo. Assim era a rotina que havia estipulado para si mesmo. Não tinha tempo para pensar muito nas coisas, nem lamentar e muito menos ficar pensando em Pete.

    ⁃    Pete…..

Esse era o nome que chamava todas as noites involuntariamente enquanto sonhava. Era o nome de quem ele mais sentia falta, além de seu irmão. Era o nome que insistia em repetir em sua mente, mesmo ele tentando afastar com todas as forças as lembranças. 
Já haviam se passado alguns meses desde a última vez que viu Pete ou Macau ou qualquer um dos seus amigos. Não que ele estivesse contando os dias… mas sua mente também não conseguia esquecer nada. Era um misto de lembranças maravilhosas, junto com lembranças dolorosas e ruins. 
Seguia uma rotina de trabalhar e beber até dormir, apenas repetindo esse ciclo constantemente sem nenhum sentimento ou emoção. 

Todos no vilarejo o conheciam apenas como o rapaz de semblante carregado e calado, mas que sempre ajudava a todos ali, não importa a hora. As crianças não tinham medo dele, mesmo ele tentando afastar todos. Era sempre surpreendido com um abraço caloroso ou um presente feito a mão pelas crianças. Ele fingia que não ligava, que não dava valor algum àqueles gestos, mas no fundo, sabia que era a única coisa que mantinha sua sanidade naqueles dias. 
Tinha um apreço especial pelo neto do pescador mais velho dali que sempre dava trabalho no porto quando ele pedia. 

O menino tinha cerca de 3-4 anos e não costumava falar com ninguém, muito menos brincar com as outras crianças. Era bem reservado, sempre sozinho pelos cantos observando. Mas com Vegas era diferente: o menino sempre vinha perto dele, trazia frutas, deixava na porta dele. Nunca falava nada, mas sempre demonstrava em ações que gostava da companhia do mais velho. Às vezes se juntava a Vegas na beira da praia só para ficarem em silêncio ouvindo o barulho das ondas, dividindo um sanduíche que o mais velho levava. E assim uma tímida amizade havia surgido entre eles. 
O velho Jay, avô do menino apenas observava o quanto o rapaz dava atenção ao seu neto. O garotinho havia perdido os pais muito cedo e o velho era seu único parente vivo, mas tbm não tinha muito tato para cuidar de crianças. Vegas, por outro lado, tinha cuidado de Macau a infância dele toda, então sabia bem como cuidar de crianças. E fazer isso, ajudava ele a se lembrar do seu irmão. Sentia muita falta de Cau, do carinho do irmão, das risadas mesmo em tempos difíceis. Mesmo longe se preocupava com o irmão. Vira e mexe usava sua conta falsa no Twitter para olhar as postagens do irmão e de Pete também. Ele sabia que precisava voltar, mas não estava preparado para enfrentar o que deixou para trás.

Pete

Os dias passavam quase que se arrastando para Pete. De dia colocava sua máscara de garoto responsável, sempre cuidando e zelando de Macau e das obrigações dele, mas de noite, em seu quarto, chorava baixinho até dormir, sussurrando sempre o nome de Vegas.

Ambos sofriam, cada um à sua maneira.

Pete não havia desistido de encontrar Vegas. Ele ainda procurava secretamente junto com Arm e Khun que não descansavam em varrer redes sociais e até câmeras de trânsito. Arm era realmente bom nessa parte tecnológica, mas mesmo assim, parecia que Vegas tinha sumido do mapa.

VegasPete - Rebaixado. [ FINALIZADA]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt