Capítulo 45 - Danilo

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Engulo em seco, no entanto o nó na minha garganta não diminui, pelo contrário. Nunca senti nada tão ruim em toda minha vida. Dói mais do que qualquer dor física que já experimentei e a cada batida do meu coração dói mais e mais e mais.

— Você já comeu? — Minha mãe arrisca perguntar depois de algum tempo.

— Não estou com fome.

Ela não parece gostar da minha resposta, pois para de mexer no meu cabelo imediatamente. Me viro um pouco no sofá para conseguir ver o seu rosto, confirmando minhas suspeitas, já que a ruga entre suas sobrancelhas, igual a minha por sinal, não a deixa mentir.

— Você quer me dizer o que acabou com a sua fome?

— Se eu disser, talvez a senhora não me ceda mais o seu colo.

Minha mãe balança a cabeça de leve, abrindo um sorriso acolhedor.

— Eu não deixaria de ser sua mãe nem que você cometesse um crime, Danilo, quanto mais se você me contasse o que te deixou tão atormentado.

Se eu pudesse escolher, ninguém jamais ficaria sabendo do que eu fiz, mas eu não posso esconder isso a vida inteira e acho que aprendi alguma coisa hoje com toda a situação com Leila para perder mais uma chance de ser honesto com as pessoas que são importantes para mim. De qualquer forma, algum dia minha mãe e a minha família saberão de tudo que eu fiz e prefiro que eles saibam por mim, já que eu não pude fazer isso por Leila.

Me sento no sofá e encaro minha mãe, sério:

— Mãe, meu casamento é uma farsa.

Minha mãe não me julga, o que é um alívio. Todavia, não há como negar o quanto ela está decepcionada comigo. Eu sei que bem lá no fundo ela esperava que eu tivesse armado situações em cima de situações para convencer meu avô sobre a minha repentina mudança de comportamento e que envolvi Leila nisso, mas nem ela poderia imaginar o quão baixo eu desci.

— Você precisa falar com seu avô sobre isso. Nem que ele passe duas horas te xingando, você ainda precisa contar a verdade.

— Eu sei.

— E Marcos também, Danilo. Você vem sendo injusto com ele há bastante tempo, seu irmão tem o direito de saber sobre isso por você.

— Eu sei, mãe... — Concordo, cabisbaixo.

Ela não me interrompeu enquanto eu falava e nem mesmo agora parece estar brava comigo ou algo do tipo, mas ainda assim estou profundamente envergonhado por tudo e me sinto incapaz de encará-la de frente. Foram muitos anos que perdi evitando minha mãe para estar aqui, diante dela, me abrindo sobre algo tão sujo sobre mim.

— E sobre Leila... — Minha mãe começa, cautelosa. — Vocês dois começaram errado e tudo que começa errado em algum momento deixa de dar certo.

— Eu sei. — Minha voz treme só de admitir aquilo.

Minha mãe levanta meu queixo para que eu a olhe nos olhos. Ela fica visivelmente desolada ao ver que estou prestes a chorar como uma criança em seu colo, mas aquilo não a desencoraja de dizer o que precisa ser dito, portanto me preparo para escutá-la com o coração aberto.

— Espero que você entenda os motivos dela para se afastar, caso ela decida por isso. O que você fez foi grave, filho, e ela pode não conseguir te perdoar.

— Mas, mãe...

— Mas — ela me interrompe com cuidado —, isso não quer dizer que você precisa ficar de mãos atadas vendo seu casamento se despedaçar. Faça o que estiver ao seu alcance, lute com o que você puder pelo amor de vocês. O que vocês construíram é lindo, o quanto Leila te fez bem nos últimos meses só deixa claro o quanto vocês são importantes um na vida do outro, e é uma pena que as coisas acabem assim.

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now