Capítulo 42 - Leila

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Meu amigo tem um coração enorme, mas nós dois sabemos que ele não está pronto para assumir a responsabilidade de um relacionamento com tantas implicações. Admiro isso nele, porque se Jonas fosse outro cara, provavelmente já teria aproveitado a primeira chance para se aproximar de Bruna e, quando as coisas ficassem complicadas, inventaria qualquer desculpa esfarrapada para cair fora. Jonas tem esperado o momento certo há alguns anos, então eu espero que ele saiba o que fazer quando a hora chegar.

— Madu, eu acho que você está precisando de uma namorada. — Concluo depois de muito pensar sobre a situação de Jonas.

Ela afasta o notebook e me lança um olhar tão afiado, que já posso ouvir sem que ela diga nada todo o seu famigerado discurso de que não precisa de ninguém para ser feliz e que o amor é uma invenção capitalista, injusta e elitista, para fazer as pessoas acreditarem que fracassaram na vida em algum aspecto e etc., etc., etc.

— Não preciso de uma namorada, mas eu admito que eu preciso de alguém.

Meu queixo quase bate na mesa ao ouvir aquilo. Madu admitindo qualquer mínimo indício de carência é algo totalmente novo.

— Isso não quer dizer que eu queira namorar, que fique claro. — Ela rapidamente acrescenta. — Só que eu estou estressada e adoraria uma distração vez ou outra. Você é minha única amiga, Leila, e está casada, e Jonas... — Madu olha com certo desgosto para o coitado, que estava demorando para ser incluído na conversa. — Enfim, às vezes calor humano é necessário.

— Podemos sair depois do expediente e você procura um calor humano para você. — Sugiro.

— Isso! Liga para Danilo e pede o carro. Você tem habilitação para dirigir agora, pode levar todo mundo para casa mais tarde.

— Minha habilitação ainda não chegou, Madu, eu fiz o exame na semana passada. — Digo, forçando minha voz a soar calma, quando na verdade estou contando os dias para colocar as mãos na minha licença. Se não fosse por Danilo, talvez eu até vivesse minha vida toda sem saber como se liga um carro, e agora eu mal posso esperar para pegar uma estrada ou até mesmo me meter no trânsito de São Paulo.

— Mas mesmo assim a gente ainda pode sair, não pode? — Madu insiste.

— Esqueçam isso! Amanhã de manhã nós temos compromissos com dois potenciais clientes e é melhor ninguém aqui estar de ressaca. — Jonas arranca Madu e eu do nosso breve sonho.

Alcanço minha garrafinha d'água sobre a mesa e tomo alguns goles para me conformar de vez que não terei muita diversão nas próximas semanas. Eu prometi a mim mesma que não iria reclamar e não estou reclamando, afinal é estar atolada de trabalho é uma coisa boa, é só uma questão de me acostumar com o fato das coisas estarem dando certo.

Sim, as coisas estão dando tão certo que acho que estou no meio de algum sonho bom. Danilo detesta quando eu menciono coisas do tipo, então eu tenho evitado comentar esses meus pensamentos em voz alta. Eu entendo o lado dele, pois parece que estou insegura com algo, mesmo que eu nunca tenha sido tão feliz quanto agora. Acho que para quem já tomou tantos baldes de água fria na cabeça durante a vida como eu, é normal não acreditar muito rápido quando tudo começa a andar para a frente e é bem esse o meu caso.

Bom, é isso e a sensação horrível que sempre me abate quando penso em Seu Fausto. Eu nunca sei como abordar o assunto com Danilo, mas nos últimos dias ele tem estado claramente exausto e preocupado, o que só me deixa mais angustiada. A única coisa boa é que Danilo tem se dado melhor com todo mundo da família dele, o que é fundamental nesse momento difícil. Quando Seu Fausto for embora, pelo menos não vai partir com o sentimento de ter deixado para trás uma família dividida.

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now