Capítulo 40 - Leila

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Finjo não escutar aquela frase que poderia muito bem ser dita um adolescente de 15 anos, mas a verdade é que minha garganta coça para começar a rir. É engraçado vê-lo todo inquieto e enciumado, é tão diferente do Danilo do meu dia a dia, que eu consigo achá-lo bem fofo agora.

Nunca chegamos a conversar direito sobre isso, mas eu acho que se Danilo pudesse, provavelmente afastaria Heitor para bem longe de mim. Fico pensando se desde o começo ele sentia algum ciúme da minha amizade com Heitor ou se a cisma piorou depois do episódio do hospital, exatamente no dia em que aquelas malditas fotos foram tiradas. Meu relativo bom humor piora mais uma vez só de associar uma coisa à outra. Que inferno!

Danilo encosta o carro em frente ao prédio e eu preciso de um momento para me recuperar do recente pico de nervos. Não queria me sentir assim, entretanto todos aqueles comentários maldosos na internet, além de eu ter pedido tanto para que ele tomasse cuidado para não ser exposto e ele não ter ouvido nenhum dos meus pedidos me deixa fora de mim.

— Leila — Danilo passa as mãos pelo rosto em sinal de exaustão —, eu sei que você está chateada comigo, mas hoje eu tenho um jantar bem importante. Lembra dos alemães?

Faço que sim com a cabeça. Danilo fala tanto desses alemães que o procuraram para um negócio grande e sumiram, que já aprendi até a pronunciar seus sobrenomes, e sobrenomes alemães são impossíveis.

— Eles entraram em contato comigo justo ontem e preciso dar alguma coisa à eles para tentar limpar minha barra, porque todo esse escândalo deixou minha imagem bem ruim para os negócios.

Me afundo um pouco no banco ao escutar aquilo. Ouvi tantas vezes de Seu Fausto e até do próprio Danilo sobre como seu comportamento era prejudicial para a empresa, que só de parecer que ele fez algo desta vez deve ter sido o suficiente para as coisas terem ficado complicadas.

— Enfim... — Danilo continua, olhando fixamente para o painel do carro. — Eu queria muito que você estivesse comigo hoje, é importante para mim, mas se você não se sentir confortável em estar comigo em público, tudo bem também, eu acho.

Não, não está nada bem para nenhum de nós dois. O clima está tão ruim, que minha garganta começa a se apertar involuntariamente apenas por estarmos respirando o mesmo ar. Dentro de mim está tudo tão complicado e eu estou tão chateada e incomodada, ao mesmo tempo em que consigo entender o quanto deve estar sendo um inferno essa situação para Danilo. Ainda tem Seu Fausto, que não deve estar nada feliz com os boatos na internet sobre o neto e, meu Deus do céu, se eles tiverem discutido de novo? É um caos completo!

Olho para a placa preta e amarela da E. M. para não ter que encarar Danilo. Não sei bem porquê, mas não consigo olhá-lo nos olhos agora sem sentir que vou começar a chorar feito uma criança.

— Preciso ir. — Ele diz ao dar a partida no carro.

— Até mais tarde, então. — É a única coisa que consigo dizer antes de juntar minhas coisas e abrir a porta.

Espero que o carro se afaste antes de atravessar a rua e entrar no prédio. Tenho a sensação terrível de que eu deveria ter colocado um fim nessa briga, mas como sempre eu consegui estragar as coisas sem nem abrir a boca. Conversar e dizer como eu me sinto era tudo que eu precisava fazer e foi exatamente o que eu não fiz de novo. Quantas vezes vou precisar errar até entender que preciso mudar certas coisas em mim se eu quiser dar certo com alguém na vida?

Meu celular toca pela segunda vez nessa manhã. Me sento nos degraus da escada para conseguir achar meu aparelho dentro da confusão que é minha mochila. É minha mãe de novo e, surpreendendo até a mim mesma, resolvo atender a ligação.

O primeiro alô é dela, porque eu não consigo fazer nada além de suspirar com o celular na orelha por longos minutos.

Leila, você está aí?

Se a gente se casar domingo?Onde histórias criam vida. Descubra agora