"Queria ser como você amiga, calma e paciente" respondi "tive que sair de casa por não aguentar o barulho da mudança da vizinha de baixo."

 Uma mulher de cabelo curto e preto apareceu com meu suco e meus pães de queijo e a agradeci, dei um pequeno gole no suco e senti aquele gosto suave na boca, olhei para o celular e Manu havia respondido. 

"Se quiser vir aqui para casa amiga, fique a vontade"

 Comi meus pães de queijo enquanto respondia algumas pessoas nas redes sociais, observava as pessoas entrarem e saírem da frutaria, pedi uma água de coco para levar enquanto fechava a conta, e voltei a andar de volta para casa, eu havia corrido tanto que questionei chamar um carro para voltar para casa, mas apenas continuei a andar.

 No meio do caminho minha água havia acabado, joguei a garrafa no lixo e novamente, com a música alta andei de volta para o conforto, assim espero, de meu apartamento.

 Olhei para o céu acinzentando, assim do nada e senti um calafrio. Comecei a andar mais rápido e evitar a chuva que planejava cair, mas meu plano falhou quando a música seguinte acabou, era como se um mar caísse do céu. 

 Não caiu um pingo para anunciar, simplesmente os mares trocaram de lugar com o céu e caiam em mim. Senti minhas roupas colarem no meu corpo, guardei o fone de ouvido para não estragar e andei o mais rápido para casa, com cuidado para não cair pois era tão capaz disso acontecer ser palpável.

 Cheguei em frente ao meu prédio e o caminhão ainda estava ali, mas não via as várias pessoas, havia só uma, ainda escondida por trás das caixas, respirei fundo e atravessei, chamei o elevador e as caixas ambulantes pararam atrás de mim.

— Pode apertar o onze para mim por favor? Uma voz rouca disse por trás, apertei o botão do onze e depois do doze.

— Eu até ofereceria ajuda. Sussurrei. — Mas eu estou encharcada e poderia estragar suas caixas.

 As caixas abaixaram o suficiente para que um par de olhos tão escuros que me hipnotizaram imediatamente me levando para um lugar distante em minha mente, me encarassem.

— Meu Deus!... Ela soltou, e seu tom foi tão urgente que me assustou. — Você está muito molhada.

 Ela então começou a rir enquanto deixava as caixas no chão, abriu a primeira e tirou uma toalha preta de dentro estendendo para mim.

— Aqui.

— Não precisa. Sorri. 

— Claro que precisa, você está criando poças no elevador, imagina o que isso vai fazer no seu apartamento.

 Agradeci e peguei a toalha nas mãos, sequei meu rosto e então meu corpo por fim colocando a toalha no cabelo.

— Agora sim, ainda está bem molhada, mas isso logo vai se resolver. Ela disse sorrindo com um sorriso malicioso. 

 A porta se abriu e ela pegou as caixas na mão novamente enquanto eu segurava o botão para abrir a porta, ela saiu e ao parar na porta aberta, cheia de pessoas ali, ela olhou para trás e sorriu enquanto a porta balançava para fechar ela gritou sobre as caixas.

— Qual seu apartamento?

— 103. Respondi enquanto a porta fechava.

 Desci em meu andar ainda hipnotizada por aqueles grandes olhos escuros.

 Fui direto para o banho, jogando uma água quente em meu corpo, lavei os cabelos e não conseguia tirar a sensação de já ter visto aqueles olhos...  Quase como se eles me assombrassem a vida toda.

Minha vizinha.Where stories live. Discover now