c a p í t u l o ✿ 2 3

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— Você gosta de café? — Daniel perguntou.

— Não muito, na verdade — murmurou. — Mas não preci-

— Beleza, me dá só um segundo.

Antes de passar pela porta de vidro, ele deu um sorrisinho para a segundanista, que sentiu as bochechas corarem. Era perceptível que o garoto parecia nervoso, tentando evitar o assunto, apesar de ter sido ele quem a convidou, para começo de conversa.

Ela respirou fundo e tentou se acalmar um pouco naqueles minutos sozinha, mas assim que a sineta da porta tocou novamente, seu coração disparou.

— Aqui, peguei um cappuccino trufado pra você — Daniel lhe estendeu um copo para viagem. — ... Acertei?

— Na verdade, sim — Aceitou a bebida, sorrindo de leve. — Obrigada.

— É? Que bom! Você tinha dito que adorava doces uma vez — ele devolveu o sorriso e tomou um gole do seu copo.

Talvez depois daquela conversa acabasse precisando ir ao médico, porque Bianca teve certeza que seu coração havia acabado de dar uma pirueta. Havia mencionado uma única vez, na roda de amigos, que era louca por doces e... Ele ainda lembrava. Precisou reforçar a si mesma muita força que estava brava com aquele garoto insuportavelmente fofo.

Então um silêncio carregado se estendeu enquanto cada um bicava um gole da sua bebida, observando o céu, as gotas de chuva, as pessoas que passavam na rua... Tudo para evitar que seus olhos se encontrassem. Quando Bianca estava começando a ficar farta, Daniel quebrou o silêncio:

— Então... Meus pais são doidos — murmurou, tão baixo que quase foi difícil de entender por causa da chuva. — Não do tipo que cobram bastante porque te amam, mas que dizem "se eu soubesse que você seria assim, teria te abortado" ou "fiz tudo para você e mesmo assim você conseguiu virar esse fracasso".

Bianca deixou um suspiro de horror escapar e tapou a boca com a mão.

— Eles falaram isso?!

— Sim. A primeira frase foi para a Emily, quando ela estava internada depois de tentar se... — Ele não terminou a frase, mas Bianca entendeu. Seu choque aumentou ao descobrir que a colega de quarto já havia tentado suicidio. Àquela altura, as mãos de Daniel tremiam e ele pegou o vape para tragar. Assoprou a fumaça para longe e Bianca sentiu o cheiro de hortelã. — A segunda é tipo o "bom dia" que o meu pai me dá. — Deixou um riso seco escapar. — E isso é só uma parte. Meu pai sempre está viajando a trabalho e tem outra família com uma menina três anos mais velha que eu; a mãe nem esconde mais o caso com o personal dela. Eu nem sei se essa é a melhor forma de começar, mas lá em casa... é um inferno.

— Eu... Sinto muito — Bianca murmurou.

Normalmente, Daniel tinha uma postura relaxada, com sorrisos fáceis e o tom de voz calmo. Estava bem diferente agora, mal conseguindo disfarçar o nervosismo que se refletia na postura tensa e fala dura. Bianca queria poder abraçá-lo.

— Obrigado, mas não esquenta com isso. Tô contando só pra você entender... Quando eu disse que tive problemas, era meu pai me ligando e falando pra eu nem voltar mais pra casa, que eu só sirvo pra usar o dinheiro dele e não presto nem pra ser um filho decente. — Daniel respirou fundo e tomou um gole de café. — Acontece o tempo inteiro, sabe? Mas eu nunca consigo não ficar mal. Não tem absolutamente nada a ver com você, mas eu não tava com cabeça pra nada e não queria acabar descontando... Eu sei que simplesmente sumir não é muito melhor, então me desculpa.

— Não, tudo bem... Agora eu entendi o motivo. — Bianca suspirou também e observou Daniel dando mais um trago no vape. — Eu não sabia que você fumava...

Camellia (AVISO DE RETIRADA 20/07)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora