Capítulo 37 - Danilo

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— Agora você vai pagar o quê para a gente beber à noite, chefe? — Murilo me cutuca, arrancando algumas risadas das pessoas na sala.

— Se toca, Murilo! — Camila dá um tapinha de leve na testa dele. — Dr. Danilo vai querer comemorar com a esposa e a família.

Assim como os demais, eu tento rir do que Camila diz, mas sinto no fundo da alma que não estou sendo sincero comigo mesmo. Não cheguei a combinar nada com Leila para hoje, na verdade eu nem a vi de manhã e nem conversamos durante o dia, então acredito que ela nem saiba que hoje é meu aniversário, afinal ela anda ocupada demais nos últimos dias com a E. M., e eu não quero atrapalhar as coisas para ela justamente agora que está tudo dando certo. E minha família... É esperar demais receber qualquer felicitação deles.

Não falo com Marcos e nem com meu avô desde a briga. Já faz mais de um mês que tudo aquilo aconteceu, no entanto o ressentimento continua recente e me magoa mais do que eu me permito admitir. Discutir com Marcos se tornou uma rotina ao longo dos anos, não nos damos bem, volta e meia tínhamos nossos bate-boca, só que antes daquela troca de socos na sala do meu avô, nós dois nunca tínhamos nos agredido. Nossa relação sempre foi distante demais para que chegássemos ao cúmulo de nos machucar, e ter chegado a esse ponto me deixa com um nó na garganta, sinto que aquilo foi o estopim para que o pouco respeito que havia entre nós caísse por terra.

Logo após toda a confusão com Marcos, eu só queria ter razão e provar meu ponto, inclusive expliquei à Leila sobre como me sinto sempre deixado para trás quando as coisas envolvem meu irmão, e ela, aos poucos, me fez entender que eu venho tratando minhas angústias da pior maneira possível ao longo dos anos. Os conselhos dela me fizeram ligar para minha mãe com mais frequência e ela pareceu ter ficado feliz com isso, mas não consigo fazer o mesmo com Marcos e vovô. Não quero dar o braço a torcer e admitir que estou errado, eu teria que passar por cima do meu orgulho e estaria deixando evidente que meu avô tem razão sobre eu não servir para a presidência, mesmo que eu esteja certo de que sou o mais adequado para o cargo no momento.

Não sei se meus funcionários percebem minha mudança de humor, mas eles rapidamente iniciam um coro animado cantando "discurso!", me encurralando de novo. Ano que vem, sem sombra de dúvidas, eu trancarei essa porta ou me darei o dia de folga.

— Está bem, está bem! — Ergo minhas mãos para fazê-los se acalmarem. — Primeiro, muito obrigado pela consideração de sempre, eu nunca vou saber se vocês me amam ou me odeiam para fazer essas coisas comigo todo ano, mas ainda assim eu fico grato por lembrarem do meu aniversário e entupirem minha sala de confete.

Marcinha dá um passo sutil para longe de mim e tenta tirar alguns confetes de cima dos pequenos cactos que ficam sobre a minha mesa. Ela sabe que a primeira coisa que eu irei reclamar mais tarde é da sujeira nas minhas plantas.

— Agora, sendo sincero, sou muito grato a todos vocês por toda dedicação. Graças ao trabalho duro de todos, nossa empresa pôde crescer e se tornar o que é hoje. Obrigado mesmo por cada um dos seus esforços, espero que no próximo ano... — Faço uma pausa, pensando melhor nas palavras que irei usar.

Os olhares cheios de expectativas da minha equipe me fazem hesitar, eles sabem que eu posso deixar esta sala e a Eco Habitação a qualquer momento e que falar sobre planos para o futuro é algo que tenho evitado. Se eu pudesse, assumiria os dois cargos apenas pelo prazer de trabalhar aqui com eles e vê-los crescer, mas sei que será impossível e que em breve, se tudo der certo, outra pessoa ocupará meu lugar.

— Espero que no próximo ano, caso eu não esteja aqui, vocês ainda assim se lembrem de mim e continuem firmes com a nossa missão de transformar o mundo, um tijolo de cada vez. — Completo minha fala, não conseguindo colocar tanta fé nas minhas palavras de encorajamento.

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now