A Sequestradora Atenciosa

Certa vez uma jovem desesperada resolveu sequestrar o seu amado a fim de ser correspondida por ele. Tal como nos filmes e novelas, a vítima foi raptada por um suposto motorista de aplicativo. Ele teve os olhos vendados e foi levado para uma dessas casas no meio do nada, alugadas pela internet. Chegando lá, permaneceu vendado até que fosse devidamente preso à uma cadeira. Ele achava que fosse morrer, mas a sua sequestradora enfim apareceu para se justificar.

A moça tinha consciência daquela loucura, mas ninguém a compreendia tão bem quanto o seu psicólogo. No momento em que se encontrava viver na ilusão era melhor do que viver uma falsa realidade. A princípio ele sentiu muita raiva por ter sido tirado de sua rotina para atender ao capricho infantil de uma paciente. Chegou a se questionar por não ter notado nas sessões anteriores os sinais no comportamento da moça que demonstrassem o que ela estava prestes a fazer. Durante a ausência da sequestradora, os capangas deveriam vigiá-lo e tratá-lo bem fazendo tudo o que pedisse, violência estava fora de questão, desde que não fosse capaz de fugir. À noite era a própria moça quem preparava e servia o jantar, fazia companhia e o cobria a fim de protege-lo do frio. Os capangas zombavam entre si, mas no fundo desejavam estar no lugar daquela vítima. Era uma sequestradora atenciosa, falante e que o admirava a todo o momento, principalmente olhar aqueles olhos avelã. O psicólogo levou vários dias tentando convencê-la a mudar de ideia, uma perda de tempo. Aos poucos ele foi deixando de interagir com ela, se recusou a falar e a comer, pois percebeu que ela não teria intenção de lhe fazer mal. De fato, a moça não aguentou a possibilidade de vê-lo definhar e o soltou das cordas na condição de que ficasse bem. Logo depois ele a chamou para sair.