✿ PRÓLOGO ✿

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Com os braços escorados sobre o parapeito da janela da cozinha, Joana observava o movimento daquela manhã de verão no sítio da família. Seu avô Sr. Antônio com seu velho chapéu de palha segurava um embornal enquanto recolhia os ovos no galinheiro, seu irmão Timóteo estava com as mãos sujas de graxa e o suor escorria pelo seu rosto formoso de pele morena enquanto se aventurava no motor da velha picape vermelha.

Mais adiante da cerca que limitava as terras da família com as dos vizinhos, Joana avistou Seu Adão e seu filho Zé que armazenavam o leite das vacas para levarem ao centro, avistou também quando Lívia saiu de casa aos gritos com a sua tia e ignorou completamente os pedidos de espera feitos por seu tio Adão. A jovem mulher que agora se rebelava no quintal ao lado em nada se parecia com a velha amiga de infância.

— Menina, sai dessa janela e presta atenção nesse forno. — Despertada por Madalena, Joana atendeu prontamente ao pedido de sua genitora que preparava o café para o desjejum da família.

— Huum, que cheiro delicioso. — Timóteo adentrou na cozinha no instante em que a irmã mais nova colocava a broa sobre a mesa. — Bom dia para a irmã mais linda de Monte Sião — galanteou o jovem.

— Eu sou a única irmã que você tem, bocó — gracejou Joana.

— Por isso mesmo, tampinha. Se eu tivesse outras certamente você seria a menos bela de todas elas. Pra não dizer feia — devolveu o irmão enquanto pegava um pedaço de broa ainda enformada e levava a boca, no entanto não foi impedido pela irmã como sempre acontecia, não se importou até sentir a massa quente dissolvendo em sua boca e perceber que sua irmã o havia pregado uma peça.

Deixou a irmã gargalhando enquanto seguia para o banheiro para se limpar de toda aquela graxa obtida em seus recentes serviços braçais prometendo uma revanche a ela.

— Querida, não dê ouvidos ao seu irmão e trate de comer logo, vamos — ordenou a mãe.

Ainda sorrindo, Joana pegou um prato para servir alguns pedaços da broa e uma xícara com o café recém coado, mas ao invés de se assentar à mesa como de costume, optou por carregar seu desjejum até um banquinho debaixo de uma goiabeira no quintal de seus avós e desfrutar daquele momento precioso com o Senhor, ela sabia que precisava estar revestida com toda a armadura de Deus para enfrentar as dificuldades que estavam por vir.

Após conferir o motor da velha picape pela milésima vez, Timóteo bateu o capô da velha companheira.

— Novinha em folha. — Passou a mão pela lataria vermelha desbotada pelos anos. — Toma conta dessa relíquia estrada afora, viu?

— Deixa comigo. — Passou por trás do irmão, entrando no carro. — Agora me passa logo as chaves ou chegarei atrasada na floricultura.

Timóteo permitiu que a irmã desse partida no veículo que deixou as terras da família para trás poluindo o ar com uma fumaça escura solta pelo escapamento do carro, enquanto ouvia o barulho do motor quase batido sumir pelo caminho rumo à cidade.

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