Capítulo 36 - Leila

Começar do início
                                    

— Às vezes eu acho que você quer... — Me interrompo, percebendo que estou prestes a falar besteira. — Deixa pra lá!

— Não deixo nada. Pode falar! — Ele insiste, se apoiando no cotovelo para me ver melhor.

Afasto os cobertores ainda rindo da besteira que me ocorreu. Eu estou sempre me esquecendo de que Danilo e eu não somos um casal, somos amigos e parceiros, nos damos bem e é só isso. Só isso. Então, em momentos como agora, ou ontem, quando ele me pediu para ficar aqui, ou quando ele me beijou na sala, acabo confundindo as coisas entre nós e ficando por um fio de insinuar o que não devo.

Danilo estende um dos braços e me segura pela camiseta, que inclusive é dele, já que minhas roupas estavam todas molhadas no varal.

— Não vai me dizer o que você estava pensando?

— Era besteira! — Me livro da mão dele e fico de pé, tomando cuidado para não deixar a camiseta subir demais.

— Eu quero saber sobre as besteiras que você pensa ao meu respeito, Leila. — Ele resmunga como uma criancinha birrenta, mas por um instante não consigo achar graça.

Pelo amor de Deus, ele está sem camisa, o cabelo bagunçado pelo sono e acabou de dizer algo de muito duplo sentido. Eu sei que eu devo separar as coisas, entender nossa amizade, contudo eu me sinto cada dia mais confusa com os sinais dele. Me sinto exatamente como Madu disse tantos dias antes, como se eu estivesse brincando de casinha com um homem que certamente não quer nada comigo.

— Eu estou com fome, Sansão e Dalila também devem estar. — Desconverso, andando pelo quarto em busca dos bichinhos.

— Leila!

Eu o ignoro, saindo do quarto como se estivesse fugindo da polícia. Sansão corre todo animado assim que me vê, enquanto Dalila nem se move, deitada tranquilamente sobre um dos braços do sofá. Pego Sansão no colo e o levo para a área de serviço para verificar se tanto ele quanto a gata ainda têm ração e água.

Olho atravessado para a caminha cor de rosa que comprei para Dalila dormir e que ela sequer experimentou. Ela é bem geniosa e decidiu por conta própria que prefere a cama de Sansão ou o braço do sofá para tirar cochilos. Quem não gostou muito disso foi Sansão, claro, que agora anda mais carente do que nunca e extremamente irritado, porque a gata não o deixa em paz um segundo.

Coloco Sansão deitado em sua caminha e faço um carinho em sua barriguinha gorda. É bom mimá-lo, para variar, porque os dias com uma nova irmãzinha espaçosa não têm sido fáceis para ele que sempre foi "filho" único. Puxo um cesto vazio e começo a tarefa interminável de tirar as roupas do varal, que já estão começando a ficar duras por causa do sol alto. O engraçado é que eu não tinha percebido que estava tão tarde até ver a claridade do lado de fora do apartamento. Na verdade eu nem sou de dormir até tão tarde, exceto quando estou extremamente cansada e meu celular faz questão de não me acordar, então só posso culpar Danilo por ter dormido tanto na noite passada.

— Eu não concordei com essa inquilina ainda, só para te avisar! — Danilo diz da sala, apontando para Dalila.

Coloco uma camiseta dentro do cesto e me viro para ele com as mãos na cintura. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde Danilo iria implicar com a permanência de Dalila aqui e eu até considerei tentar encontrar um lugar para que ela pudesse ficar, como a casa de tia Célia ou a de Jonas, mas eu me apeguei a gatinha do mesmo jeito que me apeguei a Sansão e não consigo mais ver essa casa sem essa bolinha de pelo preto.

— Ah, Danilo, é só por um tempo. Quando a gente se separar, levo Dalila comigo, pode ser?

— Quando a gente se... separar? — Ele repete devagar, como se não tivesse ouvido direito o que acabei de falar.

Se a gente se casar domingo?Onde histórias criam vida. Descubra agora