- Faço parte do 1% que não pode parar - ela se justifica.
- Sabia que uma das nossas principais reivindicações é a ampliação da licença maternidade? - responde a amiga.
A vice-prefeita, que também é mãe e está de greve, continua a reunião.
Ela percebe muita afinidade e empatia entre as amigas e sugere que ela seja o contato oficial da prefeitura com as organizadoras da greve.
Após a reunião, ela acha uma mesa de trabalho vaga.
Estica uma toalha no chão e deita a bebê.
Num papel, anota algumas das reivindicações das mães e as sugestões de como botar em prática.
Ela ficou os últimos dois meses construindo isso com as organizadoras da greve.
Principalmente durante as mamadas noturnas.
O almoço chega. Foi pago pela vice-prefeita.
Ela come na mesa de trabalho mesmo.
Sente sono.
Muito sono.
Ela lembra de um sofá.
Pega a bebê, o celular e acaba cochilando no sofá.
Toca o alarme da próxima reunião. A bebê acorda. Vazou xixi.
Ela corre até a mesa de trabalho e não acha suas anotações. Ainda bem que ela tinha fotografado e mandado para as organizadoras darem sugestões.
Ela troca a bebê lá mesmo, no meio do escritório.
Ela olha as mensagens. A vice-prefeita está esperando na sala de reunião.
A reunião está agitada, muitos homens são contra as propostas das mães.
A vice prefeita pede a fala:
- Ela vai ser nosso ponto de contato oficial com as organizadoras da greve. Inclusive essas sugestões que estou lendo vieram de uma reunião que tivemos horas atrás.
A prefeita desliga o microfone e diz baixinho para ela:
- Suas anotações são fantásticas. Acabei vendo em cima da mesa e resolvi apresentar nesta reunião. Te causei algum desconforto?
- Não causou, está tudo bem assim. Mas acho que tenho uns pontos pra mudar.
- Podemos ver isso depois com calma - diz a vice-prefeita.
Já são dez da noite.
Só há mulheres no escritório. Todas trabalhando nas demandas da greve.
Ela está exausta.
Suas costas doem de tanto ficar com a bebê no colo.
Sua roupa está com vômito, xixi, coco.
A vice-prefeita a autoriza a voltar de carro da prefeitura e a pedir um jantar pronto.
E manda uma mensagem dizendo que no dia seguinte às 18h terá uma reunião presencial importante e que ela precisa estar presente.
Ela chega em casa.
Da banho na bebê.
Come.
Toma uma ducha rápida.
E desmaia na cama.
A bebê acorda de madrugada.
Ela aproveita para olhar as notícias e redes sociais.
Alta adesão das mães na greve.
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A Greve das Mães - Conto 2 - Aquele 1%
Short StoryComo seria a vida se as mães fizessem greve? Nossa personagem não consegue participar da greve pois sua bebê tem 5 meses e o pai as abandonou. Ela é funcionária pública e uma das organizadoras da greve das mães. E ela se torna o ponto central entre...
A Greve das Mães Conto 2 - Aquele 1
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