Ao vivo e em cores

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— Desde quando você tem todas essas coisas de pintura? — Foi a primeira coisa que Kaoru disse ao ver todos aqueles materiais espalhados pelo chão do quarto do amigo.

Ele estava levemente enciumado, porque ele era o artista. Só não havia mostrado para o mundo ainda, e o próprio odiava quando Kojiro o chamava assim ou quando recebia algum elogio do tipo.

— Não são minhas, até parece. — Kojiro soltou um riso nasal, fechando a porta depois de entrar. — Achei nas tralhas velhas do meu pai.

— Isso aqui é muito irado. — Kaoru deixou a mochila em qualquer canto do quarto, fascinado pelo cavalete de madeira que segurava a tela ainda em branco.

O outro apenas se sentou na cama depois de um longo suspiro. Era ótimo ver o Sakura entusiasmado com algo, depois de todas as peças que a vida lhe pregou, por muito tempo Kojiro se perguntava se algum dia veria o brilho nos olhos do amigo de novo.

Mas é claro que eles brilharam, Nanjo sempre esteve lá por ele, e era gratificante vê-lo sorrindo. Era uma pena ele ainda não ter sacado que era tudo por causa dele, Kaoru não conseguia ser direto de forma sincera. Então ele sempre deixava sinais.

Sinais, esses que Joe perceberia, na verdade, quem sabe ele até soubesse interpretar se não tivesse a personalidade de um golden retrivier.

— Se quiser pode pegar pra você.

— Seu pai não iria achar ruim? Vai que ele queira usar algum dia.

— Acredite, ele vai ter uma utilidade bem maior contigo. — Kojiro tirou os sapatos. — Se não fosse pelo trabalho de artes, continuaria mofando no sótão.

— Ótimo. — O acompanhou, tirando a gravata e desabotoando alguns botões da camisa do uniforme. — Quanto antes a gente terminar, mais cedo a gente pode treinar com os skates.

Kojiro não contestaria, se levantou para perto da tela. Ele não entendia nada daquilo, seus desenhos já eram todos tortos, ele não queria nem imaginar o desastre que poderia causar em uma tela.

O lance deles era andar de skate, e agora eles estavam no lance de Kaoru. Era fácil de ver só pela maneira que ele arrumava os pincéis e as tintas.

— Pode abrir a janela? — Pediu o mais velho enquanto encaixava melhor a tela no cavalete.

— Você é quem manda.

Se assustou com a claridade que passava pelas cortinas, mas fez como o outro havia pedido.

— Sabia que a luz do dia é a melhor quando você quer pintar algo que vem de dentro?

— Você tá realmente empenhado nisso, né?

— Não sabe o quanto. — Kaoru sorriu, colocando parte do cabelo atrás da orelha esquerda, que ironicamente era a orelha com mais piercings. — Eu nunca produzi nada sério,  eu sou desleixado com tudo que eu pinto, tudo que eu desenho. Porque "supostamente" eu não sou bom o suficiente, e nem tenho os melhores materiais. Quem sabe eu deva começar a levar as coisas mais à sério, sei lá, vai que tudo se encaixa?

Se na época Kaoru soubesse o quão certo ele estava, ele não teria esperado tanto tempo. Aquele trabalho de artes foi algo crucial para todo seu desenvolvimento, não só o profissional, mas o emocional também.

Era uma proposta simples de trabalho bimestral para que não fosse preciso uma prova. Deviam produzir uma arte sentimental; poderia representar algo bom ou ruim, a professora não havia especificado nada além do tema principal. Deveriam entregar a tela, e junto dela um pequeno adjetivo relacionado à arte.

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⏰ Última atualização: Aug 02, 2022 ⏰

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