Encher a Caveira

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     Joaquim bufa colocando bruscamente as mãos na cintura, sua paciência estava acabada e seu humor foi pelos ares. E a culpada de tudo era Isadora, que simplesmente jogou sua decência e lógica longe e fugiu na garupa da moto daquele energúmeno do "papa figo".

- Pare de abespinhar, Joaquim. - resmunga Rafael sem ânimo.

- Pare você, gabiru. - Joaquim responde infantil

     O mágico apenas revira os olhos cansado, ele estava farto de tudo aquilo, de correr atrás de Isadora, de fingir ser outra pessoa, de aturar Iolanda e principalmente farto dessa guerra irritante entre ele e Joaquim.

    Ele poderia aceitar a provocação e começar a brigar com o moreno, mas sua mente estava exausta e eles estavam em uma trégua, então isso podia esperar.

- Vamos Joaquim, não adianta ficarmos fazendo escarcéu na rua, Isadora já partiu. - Rafael diz simplista tocando o ombro do outro.

- Vamos? O que te faz pensar que eu iria a qualquer lugar com você? - Joaquim pergunta balançando o ombro afastando a mão do outro.

     O mágico ri em deboche, enquanto dava as costas para o outro homem.

- O que há de tão engraçado? - O moreno pergunta cruzando os braços em birra.

- Você simplesmente passou o dia me seguindo pela cidade. - Ele responde rindo da cara do outro

     Joaquim tenta pensar em algo para retrucar, mas infelizmente o outro estava certo, ele de fato passou mais do que esperava andando atrás de Rafael.

- Ótimo, eu vou para o bar beber algo, mas pode ficar ai no meio da rua se quiser. - O mágico fala começando a andar.

    Joaquim observa o outro se afastar, ainda exitante em segui-lo, ele sabia que definitivamente ir para um bar com o gabiru não era uma boa ideia, mas seu dia tinha sido péssimo e não havia nada melhor pra fazer de qualquer maneira.

- Ei Rafael. - Ele grita vendo o outro mais distante - Pare de correr e me espere.

- Então resolveu voltar a me seguir? - Rafael ri vendo o outro parar ao seu lado.

- Não me abespinhe, gabiru. - O moreno retruca virando o rosto.

- Eu não estou fazendo nada, estamos em trégua lembra? - O mágico responde levantando os braços em rendição - Agora vamos que eu preciso de uma bebida.

- Detesto admitir, mas essa é uma excelente ideia. - Joaquim responde ignorando seu lado racional e seguindo o outro homem.

                                    [•••]

      Davi solta um grunhido sentindo sua garganta queimar enquanto virava mais uma dose de aguardente. Ele não se lembrava de quantas já havia tomado, mas deviam ser um número considerável, pois já se sentia mais alegre e solto, e seu pensamento racional certamente não existia mais.

- Ah papagaios, estou queimando. - Joaquim murmura engolindo mais uma dose, seu rosto estava corado e seu corpo fervia forçando o a arregaçar as mangas da camisa.

     Rafael solta uma risada sincera observando o outro, ele devia ter imaginado que o moreno não estava acostumado a beber algo tão forte, mas ainda assim observar como as reações exageradas do outro conseguiam o divertir tanto.

- Só alguns poucos tragos e já está em pandarecos, impressionante. - O mágico fala provocante batendo suavemente no ombro do outro.

- E-Eu não estou... - O moreno fala meio confuso pela bebida - Em pandarecos, sou muito forte para isso.

     Rafael se permite rir novamente, um pouco mais alto do que deveria, mas também estava aéreo demais para pensar no que estava fazendo.

- Você? Forte? - Rafael debocha

- Eu sou muito... - Joaquim pula do banco irritado, mas suas pernas não parecem o entender fazendo o tropeçar e quase cair para frente, sendo segurado por Rafael. - Forte...

    Rafael segura o moreno pelos braços ajudando a se firmar em pé novamente, enquanto tentava evitar que um sorriso surgisse em seus lábios.

- Está bem, acho que já enchemos a caveira por hoje. - Ele fala passando um braço do outro por seu ombro para apoia-lo

- Eu posso andar sozinho. - Joaquim resmunga, mas sem se mover.

- Claro que pode. - O mágico debocha puxando o outro para a rua.

    Eles caminham pelas ruas vazias da cidade, parando em cada esquina para rir de qualquer coisa que vissem ou para vomitar o que lhes restavam no estômago.

    Pelo que pareceram horas eles andaram de maneira desajeitada, quase caindo pelos cantos, até a casa de Joaquim.

- Pronto, chegamos. - Rafael fala divertido parando em frente aos degraus de pedra da casa.

- Oh, sim. - Joaquim fala encarando Rafael, sem se afastar.

      Os dois ficam em silêncio apenas se encarando, sem falar nada ou se mover, permanecendo juntos um do outro.

      Joaquim engole seco, enquanto sem pensar seus olhos se movem para os lábios de Rafael, observando como eles se moviam a cada respiração, como pareciam macios e delicados, ele sente seu rosto se inclinar como se fosse atraído para perto do outro.

      Deixando se dominar por aquela sensação magnética, o moreno se aproximava sem pensar colando seus lábios nos do outro, rapidamente se afastando ao ver o espanto do outro.

     Um arrepio percorreu o corpo de Rafael com o toque dos lábios do moreno, ele arregalou os olhos em choque, mas ele não sentia repulsa ou desgosto como pensava que deveria, do contrário foi surpreendentemente agradável apesar de rápido.

- E-Eu... - Joaquim tenta se explicar nervoso, mas sua tentativa é interrompida com os lábios de Rafael que são pressionados contra os seus.

      Ele abre passagem para que Rafael iniciasse um beijo exitante, mas ao mesmo tempo carregado de desejo, talvez do que eles já haviam a tanto reprimido.

      Joaquim deposita a mão na nuca de Rafael, passando o cabelo irritantemente macio por entre os dedos, quando sentiu um braço envolver suas costas puxando-o para mais perto do outro homem, fazendo o sentir o coração do loiro bater junto de seu peito.

     Quando a necessidade de ar se tornou impossível de ignorar, os dois separaram o beijo, mantendo suas testas pressionadas juntas ainda  agarrados na mesma posição, enquanto tentavam recuperar o fôlego.

     Quando suas reputações se estabilizaram, os dois se separaram rapidamente, evitando olhar nos olhos do outro.

     Joaquim se afasta indo até a porta, ele sentia suas bochechas queimarem mais do que antes, ele escuta o som dos passos do outro se afastando enquanto segurava a maçaneta, então sem pensar muito ele se vira para o loiro.

- Rafael... - Ele fala um pouco alto, fazendo o outro se virar para encontrá-lo. - Aham... A minha mãe não está em casa e meu padrinho está na casa de Violeta, então você gostaria de...

- Sim. - Rafael responde rápido tentando não se arrepender, então subindo os degraus e empurrando a porta enquanto agarrava a cintura de Joaquim. Ele sabia que aquela era uma péssima idéia, mas não estava muito disposto a pensar sobre isso.

Bad IdeaWhere stories live. Discover now