Capítulo 34 - Leila

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— Me dá isso, tia. — Digo antes mesmo de a cumprimentar, pegando algumas sacolas das mãos dela.

— Leila! — Ela dá um pulinho assustado. — Veio visitar?

Faço que sim com a cabeça, caminhando ao lado dela pela calçada.

— Você não trabalha hoje?

— Hoje, não. Resolvi me dar o dia de folga.

Minha tia parece gostar da minha resposta, porque me dá um sorriso animado e aperta o passo para chegarmos logo em casa.

— Foi bom você ter vindo, Bruna vai ficar feliz em te ver. — Ela diz assim que passamos pelo portão.

— Bruna não tem estágio hoje?

— Hoje ela tinha uma reunião na escola de Arthurzinho. Nem queria te contar essas coisas, mas Bruna anda péssima com o reaparecimento do pai de Arthur.

Sigo tia Célia até a cozinha. Puxo uma das cadeiras da mesa e desabo sobre ela, ardendo de ódio desse cara que fingiu não ser pai por cinco anos e de repente aparece virando a vida da minha prima de cabeça para baixo. Eu até tento entender que é direito dele e de Arthur conviverem como pai e filho, mas na prática é complicado encarar a situação com naturalidade e racionalidade depois de ter visto Bruna sofrer sozinha e sem nenhuma ajuda dele por anos.

— Mas me diz, como está a vida de casada?

Uma confusão, uma bagunça imensa, uma montanha russa de sentimentos que tem me deixado cada dia mais perto de enlouquecer...

— Tranquila. — Respondo, forçando um sorriso para tia Célia.

— Por que Danilo não veio com você?

— Trabalho. Ele tem trabalhado muito esses dias. — O que não é mentira.

Danilo vinha reclamando bastante sobre a empresa e sobre estar sempre sem tempo para resolver tudo que precisa resolver. Às vezes eu o pego trabalhando até de madrugada na mesa da cozinha, coisa que eu costumava fazer antes de ter ido parar num pronto atendimento por nunca descansar. Ontem, além de ter chegado em casa exausto como quase todos os dias, ele chegou machucado.

Para mim é meio óbvio que Danilo se meteu em uma briga, mas me soa estranha a ideia dele saindo no soco com alguém. Que eu saiba, ele não tem nenhuma inimizade forte o suficiente para fazê-lo se desequilibrar dessa forma e, sendo sincera, eu nem consigo imaginá-lo sendo agressivo, porque eu nunca sequer já o vi levantando a voz na vida. Além disso, ainda tem o fato de que Danilo parecia prestes a chorar ontem, como se o soco que ele levou no rosto fosse a menor das dores.

— Você tem falado com sua mãe? Soube que sua cunhada e Paulo vão ter um bebê.

— Sim! —Exclamo, ficando mais animada. — Não vejo a hora do meu sobrinho nascer, tia!

— Mas não se anime demais e invente de engravidar agora, Leila. Você mal casou.

— Tia, é impossível que isso aconteça, vai por mim! — Deixo escapar uma risadinha ao ouvir o sermão de tia Célia. No entanto, meu sorriso vai diminuindo aos poucos e se transformando numa pequena pontinha de preocupação.

Até ontem eu achava que não havia a mínima possibilidade de Danilo e eu termos qualquer envolvimento, quanto mais um bebê no meio disso tudo, agora eu nem sei mais se o caminho até a cama dele é tão longo quanto eu achava. Pior ainda é meu subconsciente estúpido considerar interessante essa ideia de ir parar na cama de Danilo.

Ouço a porta da frente batendo e o som inconfundível do choro de Arthurzinho. Minha tia se apoia na mesa da cozinha e cruza os braços, esperando ver Bruna entrar arrastando o menino a qualquer momento. Minha prima grita para Arthur parar de escândalo, mas o choro só aumenta, e quando eles passam pela porta da cozinha, acontece o pior.

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now