Capítulo 31 - Danilo

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— Claro que vamos! Você, eu e Leila. — Ela responde tão radiante que eu conseguiria ver seu sorriso até de costas.

Mudo algumas sacolas de compras de mão e respiro fundo. Cada segundo com minha mãe está fazendo esse pesadelo se tornar mais e mais real.

— A senhora e Leila se deram bem mesmo, hein?

— Ah, ela é uma gracinha, Danilo!

Engraçado que, nas palavras da minha mãe, Leila até ontem era uma fingida que eu arrumei para convencer meu avô de que sou um homem mudado.

— E o que vocês conversaram hoje o dia todo?

— A maior parte da nossa conversa envolvia você, óbvio.

Minha mãe sai pela porta do elevador assim que chegamos ao nosso andar, caminhando depressa para chegar ao apartamento o quanto antes e começar a cozinhar só Deus sabe o quê. Ela sempre gostou da cozinha, a maioria das minhas memórias de infância com minha mãe só reforçam isso, apesar de eu também me lembrar bem dela chegando em casa exausta do trabalho e se jogando no sofá com os pés sobre as pernas do meu pai, rindo.

— O que a senhora disse para ela?

Ela me olha por cima do ombro e pisca um olho.

— É segredo!

— Mãe! — Reclamo, alarmado. Entretanto, já é tarde demais, pois chegamos ao apartamento e não podemos mais ter essa conversa sem que Leila nos ouça.

Sinto calafrios só de imaginar a quantidade de histórias vergonhosas que minha mãe contou a Leila sobre mim. Eu fui uma criança inquieta e um adolescente que deu algum trabalho, principalmente ao meu avô, e eu preferia que Leila não soubesse nada dessas coisas.

Minha mãe entra em casa chamando por Leila, que sai de dentro do meu quarto enxugando o cabelo com uma toalha. Semicerro meus olhos para ela, me perguntando se ela usou meu banheiro particular. Nunca encarei aquilo como um problema, porque obviamente eu tinha em mente que nunca a veria usando os poucos espaços da casa que ainda são só meus. Tudo bem que eu disse que ela poderia dormir na minha cama mais cedo, mas conheço Leila, sei que ela sequer considerou entrar no meu quarto, só que agora eu já não tenho mais certeza disso, até porque não temos escolha que não seja entrar cada vez mais um no espaço do outro durante a permanência da minha mãe aqui.

— Danilo, leve as compras para a cozinha, por favor. — Minha mãe pede, voltando a conversar alguma coisa com Leila em seguida, as duas fingindo que eu nem estou em casa ouvindo aquela interminável fofoca de mulheres.

Com a paz reinando nessa casa, até meu cachorro parece mais tranquilo para circular pelos cômodos. Como vim mais cedo para casa, deixei algum serviço para trás, então enquanto minha mãe e Leila gargalham na cozinha, aproveito para terminar algumas coisas que comecei. Fabrício não deu sinal de vida e nem o pai dele, o que está me preocupando demais. Eram contratos notórios e que fariam diferença para a Eco Habitação, coisa que eu não devia ter deixado passar nem de brincadeira.

Reviso alguns projetos que Alexandra me enviou há alguns dias e que não dei retorno. Se semanas atrás eu estava fazendo meus funcionários se desdobrarem para darem conta do trabalho, hoje sou eu que tenho que suar para acompanhar as coisas na empresa. Não vejo a hora da assembleia do Grupo chegar e eu finalmente poder me sentar na cadeira da presidência. Pensar que no fim todo meu esforço terá valido a pena, me faz ficar firme e aguentar o excesso de trabalho como posso.

O cheiro de comida enche a casa, despertando meu estômago esfomeado. Faz muito tempo desde que alguém preparou comida de verdade nessa casa e só o aroma me deixa inebriado. Luto algum tempo contra minha fome, mas é impossível resistir a comida da minha mãe e ela usa esse feitiço muito bem contra todo mundo. Encosto o notebook e sigo para a cozinha, com Sansão no meu encalço.

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now