Capítulo 29 - Danilo

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E com péssimas escolhas, me lembro de avisar Leila que hoje, mais uma vez, ela vai ter que voltar para casa de ônibus. Detesto que ela ande de ônibus nessa cidade perigosa altas horas da noite, mas ela se recusa a pegar um táxi por ser um transporte bem mais caro e eu ainda tenho um pouco de juízo na cabeça para me oferecer para pagar isso por ela. Se tudo correr bem, antes das 22h00 estarei em casa e quem sabe nós dois ainda possamos conversar qualquer coisa antes de dormir.

Gosto das nossas conversas na varanda até altas horas da madrugada ou comendo besteira na cozinha, contudo esses episódios raros estão ficando ainda mais escassos com meus horários apertados na Eco Habitação. Trabalhar na minha empresa e ainda comparecer a eventos e reuniões do Grupo Torres está me exaurindo até os ossos, mas é um mal necessário. Quanto mais eu me fizer presente, mais meu nome vai ser bem visto pelos sócios e acionistas quando a hora de assumir a presidência chegar. Não quero correr risco de encarar uma oposição considerável, quero acabar com isso o mais rápido possível, quem sabe até antes dos seis meses do meu contrato com Leila escoarem por completo.

Tiro o celular do bolso para digitar uma mensagem para Leila, entretanto acabo vendo algumas mensagens e ligações perdidas da empresa, o que me preocupa um pouco. Tenho um mau pressentimento com aquilo, parece problema, cheira problema, quase certeza de que é problema dos grandes para que eu resolva estando a não sei quantos quilômetros da Eco Habitação.

Peço licença e me afasto discretamente para retornar as ligações. Marcinha me atende no terceiro toque e sua voz aflita me arranca um arrepio na espinha.

— Não diga que um prédio que construímos caiu.

— Não caiu nenhum prédio, Dr., mas nossas ações vão despencar a qualquer momento.

— O que foi dessa vez?

O contrato das construções com a Dantas, aquele que está para vencer o prazo e ainda não ajustamos as cláusulas que eles solicitaram revisão, lembra? Recebi um e-mail deles dizendo que vão rescindir de vez se esse contrato não for finalizado hoje ainda!

— Ah, que maravilha! — Disparo, para não dizer um palavrão em voz alta. — Mateus não cuidou disso com o jurídico?

Eles estão terminando o arquivo. O problema é se o Sr. Dantas não quiser mais assinar.

Eu conheço Samuel Dantas desde a infância e se ele sonhar que atrasei um contrato com ele, que se julga de extrema importância, considerando a longa amizade com meu avô, eu estou ferrado, esse homem vai falar mal da minha empresa até nos confins do inferno. A única pessoa capaz de acalmar Seu Samuel é o filho, Fabrício, que por acaso também é meu amigo de infância, apesar de não nos vermos há algum tempo. Perdi as contas de quantas vezes livrei a cara de Fabrício de encrencas, quem sabe hoje não seja o dia dele me pagar alguns desses favores.

— Marcinha, peça Mateus para me entregar o contrato lá no coquetel de inauguração do viaduto. Vou dar um jeito de entrar em contato com Fabrício e pedir para que ele amanse o pai para a gente.

Eu não sei se o senhor sabe, mas hoje é o aniversário do Dr. Fabrício e vai ter uma festa imensa numa boate logo mais à noite.

— Ótimo! — Exclamo, e dessa vez não é ironia. — Bêbado adora fazer promessas difíceis de cumprir.

Levo um susto ao me aproximar da boate que Fabrício fechou para dar sua festa particular de aniversário. Isso aqui mais parece uma premiação de fim de ano, cheio de carros de luxo encostando na porta, por onde pessoas que provavelmente têm alguma fama estão passando e fazendo algumas poses para os fotógrafos acumulados do lado de fora.

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now