Nossa.

— Melhor você ir embora, depois nos vemos. — aconselha.

Sua forma de me olhar é diferente, mesmo que não saiba explicar.

— Mas eu vim de longe para ver a sua mãe...

— Melhor ir embora.

Suas palavras são duras e secas, naquele tom que ele tinha quando eu o conheci, fazendo com que esteja automaticamente nervosa e chateada.

— Disse aos seus pais para não deixá-la sair sozinha...

— Sinto muito por esse engano, não se repetirá senhor ministro.

Estou constrangida com a repreensão, mas principalmente por ter vindo de tão longe carregando a cesta a pé e ter que ouvir isso dele, com tamanha falta de educação e estresse, também porque tem duas semanas que ele sumiu e eu queria vê-lo.

Agora não quero mais.

Começo a me afastar dele, tão magoada que sinto vontade de chorar, ao mesmo tempo com tanta raiva que não sei nem explicar, me irrito de pensar que senti falta dele e ele nem sequer sentiu minha falta, que esteja me tratando como se eu fosse uma estranha.

— É melhor que não venha mais aqui, minha mãe não gosta de visitas sem avisos. — explica.

— Sim senhor — digo a força.

— Hielena...

— Já entendi que sou indesejada, por ela e por você, não se preocupe, tentarei fazer o máximo para que esse casamento seja apenas o que ele tem que ser, não sei porque pensei que viria aqui e faria uma surpresa para vocês dois.

— Ela foi embora — ele diz e hesito. — Ela não quis ficar então estou aqui sozinho, não queria que soubesse porque sei que te machucaria, ela se foi e levou os funcionários, a casa está vazia, deixou apenas uma cama para mim, meu avô a destituiu do cargo de administradora e eu quem estou cuidando disso aqui também, por isso que ando muito ocupado.

Me viro, ele permanece próximo da porta com as mãos dentro dos bolsos da calça, nos olhos um tipo de desesperança e vergonha.

— Sinto muito não ter cumprido com as visitas, minhas obrigações estão me ocupando por todas as noites. — ele só parece cansado demais.

Penso por alguns momentos a respeito disso, me aproximo dele, Virgo fica parado onde está me encarando todo sério como em seu habitual, mas diferente de tudo o que havia conhecido dele, agora ele tem dentro dos olhos uma mágoa que investe isso. Coloco a cesta no chão e depois estendo a mão, toco sua face endurecida, ele não se move, está tão inflexível e chateado que não lembro de tê-lo visto assim desde que o conheci.

— Eu fiquei preocupada e isso me deixou triste, me sinto desolada que não tenha tido interesse de me dar nenhuma notícia sua, inclusive cheguei a achar que não prezava mais por minha pessoa.

— Não é o caso, há muito a ser feito aqui.

Percebo que os olhos dele estão mais fundos e que tem olheiras.

— Por que não me enviou uma mensagem? Não telefonou?

— Não tenho seus dados. — justifica.

Isso não chega nem perto de fazer sentido.

— Seus pais têm meus dados. — replica secamente.

— Fiquei com vergonha de pedir. — minhas bochechas queimam.

— Por quê? — questiona um tanto apressado.

— Porque não quero me sentir assim, dependente da sua atenção, não sou mulher para isso, mas cheguei a pensar que não queria mais nossa união.

Ele desvia o olhar e segura a minha mão, depois ficamos em silêncio nos olhando entre as luzes meio apagadas da varanda da casa dele.

— Quer vir comigo para minha casa? Traga suas roupas, pode ficar hospedado em minha casa, posso te ajudar com sua alimentação...

— Não posso te pedir que faça isso por mim, tem seu trabalho e ainda não é o momento para fazer isso, o noivado está próximo e já marquei nosso casamento para duas semanas após o noivado.

— Compreendo. — fico decepcionada com sua resposta. — Então fique com essas frutas.

Estendo a cesta para ele, o ministro me analisa por alguns instantes em silêncio.

— Gostaria de dar uma melhor recepção e ser mais presente, mas tudo se complicou e não quis perturbá-la. — ele ergue a minha mão e coloca um beijo no meu pulso. — Me perdoe.

— Não precisa pedir perdão, Virgo, só me preocupei. — explico um tanto nervosa.

— Não te convidarei para entrar porque a casa está totalmente vazia...

— Não me importo com coisas do tipo, venha comigo, nem que seja para que papai ou mamãe nos acompanhe durante sua estadia, tenho certeza de que será melhor para você, parece mais magro e abatido. — respondo — Sei que te causei isso, sua mãe deve ter ficado zangada comigo.

— Ela tem um ego frágil, posso ser orgulhoso, mas não costumo ser egocêntrico. — ele respira fundo. — Não sei se posso aceitar, mas estou tentado a não recusar devido ao fato de nem ter mais uniformes limpos, ela cortou minha água pela metade.

Mordo os lábios e me irrito em ouvir isso.

— Vamos, poderá ficar em minha casa, com nosso consumo de água juntos poderemos resolver isso. — começo a caminhar rumo a casa — E o seu animal?

— Também se foi, estou indo a pé para o trabalho.

— Ela pode fazer isso?

— Sim, infelizmente, fiquei tão surpreso quanto você porém meu avô não pôde fazer nada devido ao pacto de autoridade, formalizei uma reclamação com o Estado Majoritário, mas há muita burocracia. — diz carrancudo.

— Resolveremos isto, agora o mais importante é que se cuide, vamos?

— Farei minha mala, me espere na sala.

Depois que diz abre a porta da casa, eu o acompanho e entro na casa que estive dias atrás, não há mobília alguma, apenas um espaço grande e vazio, o chão sujo com poeira e terra, Virgo vai caminhando rumo os degraus da escada em silêncio, impaciente.

Não o julgo.

Ao mesmo tempo começo a pensar em algo que possa levar até o Alvorada dos Ministérios, se ela acha que por um ego ferido poderá tratar toda a situação dessa forma está totalmente enganada.





Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.




VOTE 

EvergreenOnde histórias criam vida. Descubra agora