• Meu amor, minha alma gêmea.

256 17 1
                                    

Dizem que podemos ter muitos amores em uma vida e, apenas talvez, essas pessoas estejam certas. Quando penso por essa perspectiva, percebo que amei a muitos e com diferentes intensidades - alguns mais do que deveria, sendo honesta.

Amei o modo como alguns me fizeram rir. Amei as borboletas no estômago que senti. Amei, por mais surpreendente que pareça, a dor que me causaram por tantas semanas.

Foram grandes amores, e logo percebo que tenho muito o que escrever em alguns pedaços de papel com tinta preta. A ideia de não ter vivido de forma tão pacata quanto imaginava me conforta de algum modo, provando que talvez a vida não tenha sido tão entediante como acreditei por anos.

Mas, entre todas as idas e vindas de um novo amor, nenhum fora como o dele. Nenhuma outra risada, borboleta no estômago ou dor eram tão belas quanto as que ele me causava.

Eu não queria me apaixonar, estava feliz seguindo os caminhos da vida apenas com a presença do meu amado golden retriever. Mas, como sempre, a vida nos prega peças todo o tempo - e ele foi a maior.

Me lembro como se fosse a algumas poucas horas. Ali estava eu, coberta por meu avental branco - ou nem tanto, pois grandes misturas de tinta estavam espalhadas por ele -, correndo contra a chuva que caiu sobre um bosque francês.

Cheguei ao começo de uma estrada, caminho este que nem sequer sabia que existia pelos arredores de Nice, e dei de cara com ele. Bom, não era exatamente ele, mas sim a sua Ferrari 488 Spider.

Aquele era o carro dos meus sonhos, mas o dono me provou que estava errada - ele sim era o dono de todos meus pensamentos e de cada singela batida do meu coração.

Apenas sorri quando o vi descer de seu carro, deixando-se ser tomado por aquela chuva nada passageira. Estava vestido com um moletom preto, este que segue guardado comigo e desejo que assim continue.

— O que aconteceu?

Foram as primeiras palavras que ouvi do grande amor da minha vida. Ele as disse sem rodeios, quase como se fôssemos amigos de longa data e não meros estranhos em uma rodovia vazia.

Lembro que não respondi, apenas o observei. Os fios negros escorrendo pela testa, os olhos verdes que pareciam iluminar aquele lugar mais do que qualquer outra luz algum dia almejaria.

Fizemos muitas piadas com esse momento, porque eu havia me apaixonado ali. Me apaixonei com apenas um encontro ocasional e sem nem mesmo responder a pergunta mais simples do mundo.

— Começou a chover. - foi tudo que saiu por minha boca, ainda ouvindo trovejar.

— Sim, eu percebi. - riu, negando com a cabeça. — Sinto muito pela chuva ter estragado suas pinturas.

Claro, as minhas pinturas. Somente quando isso foi dito que me lembrei dos quadros que deixei sobre a grama verde-escuro. Não iria valer a pena as buscar, estariam arruinadas de qualquer forma.

— E eu sinto muito por ter feito você descer do seu carro. - falei soprado. — Com certeza esses bancos não merecem serem molhados.

— Ah, e a senhorita entende algo de carros? - instigou curioso, arqueando a sobrancelha.

— O suficiente para saber que essa Ferrari poderia pagar o meu aluguel pelo resto da vida. - o que não foi uma piada, e mesmo sabendo disso, o monegasco gargalhou.

— Bom, eu não posso vender o meu carro e pagar o seu aluguel pelo resto da vida. - deu de ombros. — Mas posso oferecer uma carona, caso ajude.

Sim, ali eu soube que ele era louco. Afinal, quem ofereceria uma carona para uma completa estranha que estava suja de tinta e lama? Mas, tão louco quanto ele fui eu, que prontamente aceitei a oferta.

Flor Amarela | Charles Leclerc Onde histórias criam vida. Descubra agora