Capítulo XXIII - Poeira Estelar

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Eu peguei sua mão e ela estava gelada, tremendo. Eu a apertei, tentando desesperadamente passar algum conforto para ela.

"Estelwen... oque-" Comecei a perguntar, na intenção de entender o que havia acontecido. Mas ela me interrompeu na mesma hora e para minha surpresa, ela me lançou um olhar cheio de raiva.

"Porque não aceitou o acordo?" Ela perguntou, seus olhos cheios de lágrimas. "Eu disse para você aceitar."

"Ele jamais cumpriria a palavra de te deixar ilesa Estelwen. E não poderia deixá-la apodrecer aqui." Eu disse, tentando ao máximo conter minhas lágrimas.

"Não só poderia como deveria Thorin. Vocês são muito mais importantes do que eu. Vocês deveriam ter ido." Ela disse, o que me deixou revoltado. Como minha querida loba ainda podia pensar em uma coisa tão absurda assim.

"Eu não vou a lugar algum sem você, Estelwen." Eu disse enfurecido. Mas ela largou minhas mãos e seguiu em direção a sua cela... por conta própria. Aquilo me deixou irado e eu chamei seu nome várias e várias vezes mas ela nem mesmo olhou para trás.

Um tempo se passou e minha agonia aumentava ainda mais. A única coisa que ouvimos no início foram os sons de correntes chacoalhando. De repente, como um trovão rasgando o céu, um estalo do chicote entrando em contato com algo macio. E de novo e de novo. O som de carne sendo rasgada repetidamente a cada golpe. Incapaz de acreditar no que estava ouvindo, me afastei das grades da minha cela, esperando e desejando que esse pesadelo acabasse. O som de choramingos se juntaram a aquela terrivel sinfonia, mas mesmo sim, a tortura não cessou.

Enquanto eu ouvia o estalo do chicote, seguido pelos murmúrios, as últimas palavras de Thranduil ressoavam em meus ouvidos, como uma maldição. '...Logo logo me cansarei de apenas torturá-la e ela acabará pagando o preço por sua decisão.' Estava começando a me sentir nauseado, meu peito palpitava de uma forma dolorosa e o ar parecia ter dificuldade de chegar aos meus pulmões. O sentimento de culpa se instalou no fundo do meu estômago, crescendo mais e mais, ameaçando me consumir.

Depois de mais alguns estalos do chicote, minha Estelwen já não conseguia mais se conter e, pela primeira vez, um grito angustiante escapou de seus lábios. A cada golpe, os bramidos de nossa amiga aumentavam. Gritos ensurdecedores ecoavam nas paredes de pedra, enquanto a Companhia permanecia em total silêncio. Cada vez que o instrumento de tortura entrava em contato com a pele de Estelwen, meus companheiros, assim como eu, sentiamos em nossa pele cada golpe.

"Pelo amor de Mahal, façam eles pararem. Eu não aguento mais isso." Disse Ori em meio a soluços. O jovem anão parecia já não conseguir mais conter a angústia que ele estava sentindo em seu peito.

Um rugido alto de frustração ecoou através da masmorra, junto com o som das barras de uma das celas sacudindo abruptamente após um golpe. "Não devíamos ter discutido com ela naquela hora. Se aquilo não tivesse acontecido, já estaríamos fora daqui e ela não estaria sofrendo por nossa causa." Disse Kili, sentado com as costas apoiadas contra as barras de sua cela. Sua voz era trêmula, uma mistura de sentimentos de raiva e remorso por termos colocado nossa amiga nesta situação.

Choquei minhas costas contra a parede, deslizando para baixo no processo, enquanto levava minhas mãos para cobrir meus ouvidos, na esperança de bloquear os gemidos dolorosos. Não queria escutar mais. "Ela me disse que Thranduil não gostava dela, mas nunca poderia imaginar que ela havia sido banida. Se ela tivesse me dito eu..." SoluceI, não sendo mais capaz de conter as lágrimas que brotavam dos meus olhos. "Eu teria me assegurado de nunca cairmos nesse inferno." Eu falei.

Depois do que pareceram horas, os sons dos chicotes finalmente cessaram quando dois guardas deixaram a cela da elfa, e o que vi me pegou completamente de surpresa. Os dois guardas pareciam desolados, enquanto passavam por nossas celas, suas emoções claras como o dia. Eles estavam simplesmente fazendo o que o rei mandava, por medo ou algo muito mais sinistro, eles não queriam ser os responsáveis a administrar um castigo tão severo.

Ensina-me A Viver Novamente [EM PAUSA TEMPORARIA]Where stories live. Discover now