Capítulo um

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Svartalfheim -

Brynan Draervy era um elfo sombrio, com quase dois metros de altura, porte atlético, olhos azuis, sorriso malicioso, cabelo longo e loiro, com barba. Ele era ao mesmo tempo, assustador e atraente. Os homens sentiam medo dele e as mulheres costumavam cair aos seus pés, rendidas ao seu encanto. Encanto esse que os homens não entendiam.

Brynan acabara de ser aceito na guarda real e fora até uma taberna para comemorar com os outros soldados. Entre eles estava a princesa Morrigan Falynn.

- Me diga, o que uma princesinha tão delicada faz entre tantos homens? Por acaso, ela confia que nenhum deles tocaria em um fio de seu cabelo só porquê ela é uma princesa? - Brynan disse a dois soldados que estavam ao seu lado.

- Morrigan é uma grande guerreira. Qualquer idiota aqui sabe disso. - Klodian disse.

- Uma mulher? - Brynan riu. - Eu só acredito vendo.

- Você pode desafia-la, mas eu não recomendaria isso se quiser deitar ao lado dela algum dia. - Dhimiter disse.

- O que está dizendo? Algum de vocês, já? - Brynan alternou o olhar entre Klodian e Dhimiter.

- É claro. Acho que todos nós. - Dhimiter disse.

Brynan olhou para a princesa e a viu se sentando no colo de um soldado e o beijando nos lábios.

- Oh, entendi. - Brynan sorriu malicioso. - Mal posso esperar para conhecê-la pessoalmente. Tenho certeza de que ela gostará de mim.

De volta ao castelo, o comandante pediu a Brynan que fosse atrás de Arjan e Klodian nas fontes termais do castelo. Brynan achou estranho que dois soldados tivessem permissão para desfrutar das fontes, mas achou que talvez eles estivessem fazendo companhia ao rei. Ele foi até lá e se surpreendeu ao ver os seus companheiros com a princesa. Klodian estava beijando a princesa enquanto Arjan bebia e observava com um sorriso malicioso. Brynan parou sem saber o que fazer, não querendo interromper a princesa, mas, também, não querendo desobedecer seu comandante.
- Ei, Brynan? Quer se juntar a nós? - Arjan disse ao notar a presença dele.
A princesa recuou e encarou Brynan.
- Quem é você? - Ela perguntou, curiosa.
- Brynan, vossa alteza. Sou um de seus soldados. - Ele se curvou.
- Não acredito. Eu conheço todos os meus soldados. - Ela o observou da cabeça aos pés e sorriu.
- Eu sou novo. - Ele sorriu, um pouco nervoso.
- Nem tão novo assim. - A princesa riu. - Mas serve para o que tenho em mente.
- Quis dizer na guarda, alteza. Perdoe-me se me expressei errado.
- E como posso te ajudar?
Brynan olhou rapidamente para o corpo dela e desviou o olhar, abaixando a cabeça, certo de que ela o estava testando.
- Meu comandante está chamando os soldados para uma reunião de emergência.
- Talvez, esteja na hora de ter um novo comandante, um que não tire os meus soldados de mim. - A princesa disse com raiva e se voltou a Klodian e Arjan. - Vão. Continuaremos a brincar depois.
- Sim, princesa. - Arjan disse, saindo da fonte.
- Até mais tarde, princesa. - Klodian apanhou e beijou a mão de Morrigan antes de sair da fonte.
Brynan sabia que deveria se virar e não encarar a princesa, mas não conseguiu se conter e ficou encarando-a, sem esconder o quanto estava encantado por ela. Morrigan o encarou de volta, séria.
Depois que Klodian e Arjan se vestiram, eles seguiram Brynan, deixando as fontes termais.
- Pois é, vocês não brincaram. - Brynan disse.
- Somos os preferidos dela. - Klodian sorriu, convencido.
- Por enquanto... - Brynan sussurrou.
- Hein? O que disse? - Arjan perguntou.
- Nada. Vamos ver o que o comandante quer. - Brynan disse.
Os reinos Álfheim e Bellanandi estavam lutando por parte de Nidavellir, o reino dos anões e o rei de Svartalfheim se enfureceu, afinal, ele estava de olho naquelas terras há tempos. Por isso, ele reuniu seus soldados e partiu para enfrentar os dois reinos. Bellanandi ofereceu uma trégua a Svartalfheim e os dois reinos se uniram para derrotar Álfheim. Porém, os anões não ficaram parados e reuniram um exército de trolls e dragões. Parte do exército de Álfheim foi morta graças a um ataque dos dragões. Morrigan não conseguiu se mover quando viu o dragão acima dela, mas Brynan a pegou pelo braço e a puxou, tirando-a do campo de batalha. Os dois retornaram para o acampamento. Também haviam perdido muitos soldados. Morrigan quis retornar ao campo de batalha para cremar os corpos dos soldados mortos, para assim, eles descansarem em paz, mas seu pai a proibiu. A princesa Morrigan desobedeceu a ordem de seu pai e chamou Klodian e Arjan para irem com ela queimar os corpos dos soldados de Svartalfheim, mortos em combate.
- Essa é a única forma de eles descansarem em paz. - Morrigan disse.
- Ei?
Os três se viraram e deram de cara com Brynan.
- Vocês estão pensando em desobedecer o rei?
- Nem tente nos impedir. - Morrigan disse.
- Não. Eu não faria isso. - Brynan disse. - Também acho que as almas dos soldados merecem seguir para o outro plano.
- Então, venha conosco. - Morrigan disse.
Brynan assentiu.
Eles foram até o lugar do último combate e se aproximaram da pilha de corpos que os anões deixaram para que eles pegassem e enterrassem seus mortos. Apesar de estarem em guerra, os anões não eram os vilões ali, só estavam defendendo sua terra.
Klodian e Arjan jogaram álcool nos corpos. Morrigan se aproximou dos mortos e estendeu as mãos, fazendo uma oração, pedindo a Odin que levasse as almas de seus soldados. Ela estava prestes a recuar quando sentiu uma mão agarrar seu pé. Ela olhou para baixo e viu uma figura encapuzada. Se agachou e puxou seu capuz, revelando uma cabeleira branca.
- Me ajude - O pobre elfo pediu.
- Por favor, parem - Morrigan disse quando Klodian estava prestes a incendiar os mortos. - Me ajudem aqui? Esse homem está vivo.
Brynan e Arjan tiraram o elfo da pilha de cadáveres.
- Qual é o seu nome? - Morrigan perguntou.
- Não sei. - Ele respondeu. Tudo o que se lembrava era de uma mulher albina chorando.
- Ele está com a armadura do nosso reino, mas não me lembro dele. - Klodian disse.
- Talvez seja um soldado novo. - Brynan disse.
- Vamos levá-lo. - Morrigan disse.
Klodian e Arjan levaram o homem sem memória até o acampamento e o acomodaram em uma tenda, retirando sua armadura e suas botas. O médico foi chamado e após examiná-lo, disse que ele foi envenenado por uma planta que em pequena quantidade podia ser alucinógena e em grande quantidade podia levar a perda da memória e até a morte. O médico deu uma dose de antídoto para seu paciente, dizendo que ele ficaria bem.
- Isso fará com que ele se lembre de alguma coisa? - Morrigan perguntou ao médico.
- Infelizmente, não, mas evitará uma morte agonizante. - Respondeu o médico.
- Arjan, chame o meu pai e fale sobre o homem que achamos. Ele precisa saber disso. - Morrigan disse e saiu da tenda, sendo seguida por Brynan.
- Sim, princesa. - Arjan foi imediatamente atrás do rei.
- Malditos anões! Como conseguiram envenenar um dos nossos? Em qual momento? - Morrigan disse com raiva.
- Eu não acho que isso seja obra dos anões, princesa...
Morrigan se virou e encarou Brynan, esperando que ele dissesse o que pensava.
- Os Ljósalfar... Pode ter sido obra deles. Eles nos odeiam mais que os anões.
- De qualquer forma, está estranho. O que um dos nossos fazia bebendo com o inimigo?
- Talvez, esse ataque tenha vindo daqui. Teria de perguntar aos outros soldados se alguém conhece o albino... Quem sabe, ele não irritou alguém? Não seria a primeira vez que um homem mata outro por causa de dinheiro ou de uma mulher. Vossa alteza tem certeza de que não o conhecia?
- Os meus soldados não seriam estúpidos o bastante para matarem uns aos outros por mim quando sabem bem que eu não toleraria esse tipo de comportamento.
- Um homem apaixonado não costuma pensar direito...
- Ele tem uma aparência difícil demais de se esquecer, se eu tivesse ficado com ele, com certeza, me lembraria.
- Talvez os outros temessem que ele se tornasse o novo preferido por causa de sua aparência...
- Está tentando me deixar maluca, Brynan?
- Oh, você se lembra do meu nome! - Ele parecia surpreso.
- É claro que sim. Não esqueço um rosto bonito.
Brynan deixou escapar um sorriso malicioso.
- Mas não se anime muito, soldado. - Morrigan sorriu e deu dois tapinhas no ombro dele. - Entre te achar fofinho e ir para a sua tenda há uma grande diferença.
- Fofinho? Me acha... Fofinho? Puxa! Você sabe elogiar um soldado. - Ele sorriu sem graça e virou o rosto, abaixando a cabeça.
- Me desculpe? Eu estou nervosa. Só quero as cabeças dos meus inimigos.
- Vossa alteza os terá. Eu garanto. Todos daremos o nosso melhor para vencermos essa batalha.
- Quando não tiver ninguém por perto pode me chamar só de Morrigan, já que seremos amigos.
- Como quiser.
Morrigan sorriu com ar travesso.
- Só por curiosidade, qual é a sua tenda? Caso eu precise de alguma coisa.
- É a última. - Ele apontou a direção, se contendo para não sorrir.
- Hmmm.... Você é casado ou tem algum compromisso?
- Não. Nenhum.
- Não está mentindo? Se estiver, eu descobrirei.
- Não. Eu nunca quis me prender a ninguém.
- Nem eu, mas, infelizmente, um dia, terei de me casar. Tudo seria mais fácil se eu fosse um homem.
Brynan riu.
- Quem disse que a vida é fácil para os homens? Lutar em guerras, ser chefe de família...
- Ser chefe de família te assusta? - Morrigan riu e balançou a cabeça.
- Mais do que qualquer guerra.
- A mim também assusta começar uma família.
Os dois notaram que o rei se aproximava e se afastaram rapidamente. Brynan se curvou diante do rei que fez um sinal para que ele se endireitasse. Brynan obedeceu.
- Por que me desobedeceu, Morrigan? - O rei perguntou, chateado. Ele sentia muito orgulho de sua filha, mas como todo pai, se aborrecia quando ela não o obedecia.
- Me perdoe, pai. Pode me castigar se quiser, mas eu precisava libertar as almas daqueles pobres soldados.
- Se me desobedecer outra vez, a mando para a casa.
- Sim, pai. - Morrigan abaixou a cabeça, envergonhada.
O rei alternou o olhar entre Morrigan e Brynan, desconfiado, mas não disse nada, entrando na tenda para ver o albino.
Morrigan soltou um suspiro.
- O meu pai também era bravo.
- Acho que todos os pais são. Nos vemos. - Morrigan foi para a sua tenda e se trocou, indo se deitar, pois estava cansada e com frio. Mais tarde, ela foi acordada por uma criada que trouxe o seu jantar.
Após comer, ela foi até a tenda do elfo albino e o encontrou sentado na cama, encarando um pingente em forma de um triângulo invertido que trazia em um cordão de prata no pescoço. Ele parecia aborrecido.
- Com licença...
O homem olhou para ela e se levantou rapidamente, se curvando.
- Alteza...
- Por favor, volte para a cama. Não acho que esteja em condições de ficar em pé. O veneno que te deram é muito forte. Você deve descansar. Deve estar confuso.
O elfo assentiu e voltou para a cama.
Aquela era a tenda de um soldado que morrera em combate. Yule. Morrigan se lembrava do sorriso doce e do jeito ingênuo dele. Ela quase se apaixonara por ele, se não o fizera foi só porque ele encontrou uma boa moça e se casou com ela, tendo um filho. Agora, Morrigan sentia pena da pobre mulher que receberia a triste notícia de que seu marido falecera. Era por isso que ela não queria se casar e ter filhos, porque tinha medo de os deixar órfãos.
Morrigan puxou uma cadeira e se sentou, próximo a cama.
- Te deram um nome pelo menos?
- Sim, Eldar.
- Eldar... Combina com você. Realmente não se lembra de nada?
- Um rosto feminino... Uma mulher com o cabelo igual ao meu. Está chorando, mas eu não sei porquê e me angústia não saber. Talvez, seja minha irmã.
- Um amigo vai perguntar aos outros soldados se eles se lembram de você. Recrutamos alguns cidadãos comuns para a batalha, então, talvez, você seja algum nobre. Quero dizer, você não se parece com um camponês. Na verdade, nem com um elfo sombrio.
- Eu sinto que faz algo muito ruim. Talvez eu seja perigoso.
- Não se atormente assim. Todos nós fizemos coisas horríveis nessa guerra, mas isso não nos torna maus, apenas guerreiros que fazem o que tem de fazer e ponto. Se você tem uma família, prometo que vou encontrá-la e devolvê-lo a ela.
- Muito obrigado. É horrível não se lembrar de nada.
Morrigan sorriu para transmitir um pouco de calma e segurança a ele.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 05, 2022 ⏰

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