Quando eu retornar a São Paulo procurarei por Sandra e pedirei desculpas. Ela esteve ao meu lado em vários momentos e eu nunca fui capaz de dar-lhe o mínino de valor, de tratar-la com respeito. Ela estava coberta de razão em nosso último encontro. Tudo o que me falou não passa da verdade. Naquele dia fui incapaz de reconher, mas agora sou capaz não só de reconhecer, mas de me desculpar com ela.

Sempre soube dos seus problemas financeiros e nunca fui capaz de estender a mão para uma oportunidade de trabalho. Não em minha empresa, pois jamais confudiria as coisas, mas tenho tantos grandes empresários como parceiros de negócios que seria muito fácil arranjar-lhe algo. Espero que não seja tarde, pois é exatamente isso que irei fazer.

Quanto a Maria Eugênia, também nunca agi corretamente. Por saber dos sentimentos que ela nutre por mim, sempre a tratei como um objeto. A verdade é que acho que eu me alimentei da ilusão que causo nas mulheres, no receio que causo em meus funcionários e da decepção que causei em minha família. Por ser um homem rico e poderoso, achei que podia ter tudo nas mãos, sem esforço e sem precisar me dedicar, mas durante esta viagem tenho conseguido enxergar os acontecimentos de uma forma diferente. Tenho conseguido ter empatia e enxergar o que causei em todos ao meu redor e o melhor disso tudo é que finalmente decidi agir e modificar as coisas.

A chegada de Leyla em minha casa mostrou que ainda há vida lá dentro. Não é mais raro encontrar meu filho sorrindo e de uns dias para cá tenho tido vontade de chegar mais cedo do trabalho somente para ve-los. Saber o que fizeram durante do ida, mesmo que de forma velada e de me aproximar deles mesmo que seja de uma maneira estranha, tímida e desengoçada.

Confesso que me sinto esquisito todas as vezes que tento me aproximar. Sinto que de alguma forma aquele lugar não me pertence, mas hoje sei que não me pertence porque fugi dele. Fugi de meu filho todos esses anos. O abandonei, fui um péssimo pai, negligente, ausente, frio e permissivo. Foi preciso Leyla chegar e trata-lo praticamente como um filho, tentar por conta própria desenvolver suas habilidades para eu perceber o quanto o fiz mal.

Desdenhei da sua paraplegia e confesso que muitas vezes me questionei por que ele não foi junto ou mesmo no lugar de Sara. A verdade é que mesmo de forma inconsciente eu culpei meu filho, um garoto de apenas quatro anos de idade, pela morte da mãe e isso me faz sentir um monstro.

Sou despertado de meus pensamentos por uma batida na porta do quarto:

- Cadú? - Ouço a voz de minha mãe - Está tudo bem, filho?

- Estou bem sim, mãe. - Levanto da cama tentando não parecer tomado pelo peso do remorso.

- Conseguiu descansar um pouco? - Pergunta me observando atentamente.

- Não - Arfo. - Deitei, mas não consegui parar de pensar em tudo que aconteceu nos últimos quatro anos. - Dou de ombros.

- Imaginei. - Comprime os lábios esboçando um sorriso. - Sei que não é fácil, a carga emocional que você carrega é muito pesada, mas você é um homem forte, corajoso e inteligente. Tenho certeza que saberá transformar todos esses acontecimentos no combustível necessário para que você possa superar todos esses desafios.

- A senhora sempre foi a minha maior incentivadora. - Sorrio em retribuição às suas palavras.

- E sempre serei porque sei que você é capaz de conseguir tudo o que deseja. - Continua pegando em minha mãos. - Você sempre será capaz e saiba que seu pai e eu estamos muito orgulhosos de você.

- Eu nem sei por onde começar, mãe. - Engulo em seco. - Foram tantas  pessoas a quem magoei. Foram tantos episódios de arrogância, prepotência, friesa... de quase maldade.

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