Capítulo 1 - Sempre foi apenas nós duas

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Por Narrador

Sarah tinha quinze anos quando viu sua mãe abandonar a família para partir em fuga com outro homem, por quem segundo as explicações do seu pai, ela tinha deixado apenas uma carta dizendo ter se apaixonado perdidamente. No entanto, Thayane, a caçula da família Brandão, tinha apenas seis anos quando foi deixada para trás. Ambas as garotas sofreram a precoce ausência materna, mas para Thayane a dor era ainda maior, tendo em vista que a pequena criança não conseguia lidar com a falta que a mãe fazia, tão pouco compreender seus motivos explicados de forma tão vazia em uma folha qualquer. Contudo, o que antes era dor e saudades, mas tarde tornou-se raiva, amargura e decepção. Isso porque desde que a mulher foi embora, o magnata Sr Júlio Brandão, homem poderoso no mundo dos negócios, entregou-se à uma visão distorcida de como lidar com a própria vida após o abandono da esposa, que até então ele tanto amava perdidamente. Até o dia que se viu abandonado, o homem era amoroso, atencioso e leal a sua família, mas a desilusão amorosa fez de Júlio um ser amargo, frio, cruel e desacreditado na capacidade de amar e ser amado. Para Júlio, qualquer demonstração de afeto tornou-se um veneno.

Com a ausência da esposa, Júlio dedicou todos os seus dias a fazer mais dinheiro para rechear suas contas bancarias, e também a educação das duas filhas que para ele representavam a figura da mulher que o abandonou. A forma como o homem amargurado se dedicou as filhas não foi a mais apropriadas para duas crianças com o psicológico e emocional abalado. Àquela altura tudo o que as meninas precisavam era de um pai presente e afetuoso, porém isso era tudo o que Júlio já não tinha mais capacidade para ofertar a nenhuma delas, e talvez a nenhuma outra pessoa enquanto ele vivesse. A figura paterna de Júlio para as menina estava longe de ser a do homem bondoso que outra hora as criava com amor e carinho, isso porque para o mais velho qualquer demonstração de amor era sinônimo de fraqueza. Ele havia chegado à conclusão que era imperdoável que suas filhas crescessem e se tornassem mulheres frágeis como ele foi um dia quando se apaixonou pela mãe das meninas, por isso elas eram estimuladas a não acreditar no amor... Júlio se encarregava pessoalmente de explicar que esse era um sentimento que tornava as pessoas cegas e vulneráveis, e por isso propicias a sofrerem decepções. Como exemplo ele usava a figura da mulher que as deixaram para trás. Mal sabia ele que fazendo aquilo ele estava apenas mutilando as próprias filhas, mas não era como se ele se importasse com isso, era?

Ou seja, qualquer demonstração de fraqueza era proibida na casa dos Brandão. Assim como ele prometeu a si próprio que jamais voltaria chorar pela a esposa que os abandonou, deixando para trás uma simples carta mau escrita onde se declarava apaixonada por outro homem, ambas as filhas também eram proibidas de chorar pela ausência da mãe. Eram ensinadas que a mulher que as colocou no mundo não era merecedora de nenhum tipo de sentimento por parte das meninas, nem mesmo pena, pois ela não havia pensado nas filhas quando as trocou por outro qualquer. A regra era clara, aquela mulher havia morrido para os três, seu nome jamais voltaria ser pronunciado naquela casa, e aquela que desobedecesse a ordem do pai, sofreria punições fisicamente severas para aprender a importância de obedecer e ser fortes.

Para Thayane era mais difícil compreender todas aquelas mudanças repentinas na sua vida e na vida da sua irmã. Ora, ela era apenas uma criança em fase de crescimento, então como ela poderia não chorar? Como podia não sentir falta da mãe e do seu abraço acolhedor? Como podia se recusar demonstrar amor ao pai que ainda estava ali junto delas? Para a pequena caçula era difícil compreender todos os beijos recusados pelo mais velho, toda tentativa de abraço... Ela sentia falta das histórias que Júlio ou sua mãe lhe contava antes de dormir, sentia falta dos almoços felizes que tinham em família, dos passeios que faziam juntos, das idas ao parque. Thayane não compreendia porque tudo havia mudado, e por isso ela chorava amargamente, e claro, como castigo por estar chorando, ela apanhava do pai que fazia questão de lembra-la que chorar era algo que somente os fracos faziam.

Amor além do tempoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora