Capitulo 27

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*Pandora*

Eu queria sentir o alívio cômico de ter "sido liberada" daquele terror, mas sinceramente, quando a porta se abriu, me senti ainda mais exposta. Eu li livros antigos que falavam sobre amor, sobre carinho, cuidado e devoção. Sempre pensei que eu amaria e seria amada de tal forma, que me daria por inteiro a essa pessoa. Mas isso foi tirado de mim. Tudo foi tirado de mim no momento em que entrei nessa maldita colônia, e agora... bom, agora estou perdida.

-Ei... -Éric diz relutante, era perceptível como ele estava se contendo - eu posso....
Acenei com a cabeça. Ele me abraça forte, sinto suas costas tremerem, ele está chorando e balbuciando desculpas, e eu, bom, eu não sinto nada.

Completamente perdida.



-Oi Pan -Madeline estava sentada na cama, com uma expressão incrivelmente melhor do que a minha. Olhou rapidamente de Eric para mim. - eu cuido das coisas aqui, quando vamos poder comer?
-Eu trago algo pra vocês.
-Faça isso por favor.
Eu me movo, soltando os braços dele de meus ombros e caminho para o quarto.
-Eu já volto, tá? - ele diz, olhando pra mim, logo depois se retira.
-Quer conversar?
Não respondo.
-Bom, eu estava em um dos primeiros quartos, escutei a briga de Éric e Miguel... Achei que você estaria com ele.
Continuo em silêncio.
-Eu sinto muito Pan. - Madeline segura minha mão.

Eu tinha tanto a dizer, mas me perdi.
Eu desapareci dentro de mim.
E não fazia ideia de como voltar.

Três dias se passaram, como muitas garotas eram virgens Miguel decidiu nos dar esse período para nos recuperarmos, ironicamente, três dias para superar um estupro. Não me atrevi a sair do quarto, não quero ter qualquer tipo de contato com aquele guarda, ou aquele marechal general sei la, as únicas pessoas que tenho visto são Anthony, Éric e Madeline. Anthony e Madeline parecem bem próximos, oque é bom, eles foram juntos naquele dia, eu gostaria de perguntar, saber como minha melhor amiga está, mas... não consigo sentir interesse em nada.
Sinto um alívio imediato quando Éric entra no quarto, tem sido assim desde tudo, me acostumei com a angústia que sempre some quando ele está aqui.
-Oi, tem pudim hoje! - ele carrega uma bandeja que pela primeira vez na semana tem um cheiro atrativo - foi aniversário da caçula de Vicent, mandaram as "sobras" pra cá, não são sobras de verdade, fizeram demais e não serviram tudo, bom, tem lasanha também e outras coisinhas...
-Lasanha? - falo pela primeira vez em três dias, minha avó fazia quando não estava ruim da cabeça.
-E, e lasanha, à bolonhesa e tem suco também -ele mal esconde a animação em sua voz - aqui, experimente.
-Está bom.
-Está sim.
Ele me olha, meio incerto do que fazer.
-Eu queria ir no pátio, eu tinha um projeto.
-Um projeto?
-Sim, como funciona pra falar com Miguel?

Aquele OutonoWhere stories live. Discover now