Paranóia coletiva.

8 0 0
                                    


Detesto sentir assim, sem controle, sem saber o que me rodeia. Tenho certeza, alguém me observa.

Me surpreendeu quando a minha aluna Anna veio até mim no consultório acompanhada pela mãe.
Aquela menina de olhos brilhantes e longos cabelos castanhos já tinha me chamado atenção e agora aqui no meu consultório?
Chamei a menina para entrar e pedi que a mãe ficasse na recepção enquanto conversava com a menina. A mãe queria entrar primeiro, mas não acho conveniente para o paciente o familiar ir primeiro na consulta, o paciente pode achar que psicanalista e familiares estão de conchavo. Então prefiro criar primeiro um vínculo psicanalista/paciente e só depois conversar com a família.

- Sente-se Anna, fique a vontade - A moça olhou para todo o meu consultório e me encarou como alguém com intimidade. - O que te traz aqui hoje? - A menina se sentou, cruzou as mãos sobre o estômago e disse abertamente:

- O de sempre, adolescentes, rebeldias, premonições, visões. Coisas cotidianas.

- Você quis vir? Ou alguém insistiu?

- A princípio minha mãe, eu sempre achei tudo muito natural; depois ela já começou achar que psicólogos e psicanalistas não ajudariam e quis introduzir outros meios.

- Quais meios?

- Medicação.

- Mas por que você acha que foi ela quem quis e não os médicos?

- Porque eu assusto minha mãe.

- Vocês mor sozinhas?

- Sim! Ela é divorciada. E eu nunca soube ao certo quem é meu pai, nesses assuntos ela só disse que o conheceu e me teve, não entra em detalhes.

- Pelo jeito não é a primeira vez que faz terapia, certo?

- Você deve ser a quinta ou a sexta, não sei, mas sendo você a terapeuta dessa vez vim " numa boa".

Pedi para que a mãe da menina entrasse na sala e me explicasse o por que delas estarem aqui.

- Minha filha me enlouquece, muito boa! Mas tem umas ideias loucas a respeito de tudo, não tem amigos, vive trancada no quarto. - Pensei: Até aqui uma adolescente normal. - Ela me enlouquece, fala que sai do corpo, que visita outros lugares, até outros planetas, de manhã volta cheia de histórias, vive corrigindo as pessoas, isso quando não fala que tá vendo gente morta. Tudo bem ela ter uma religião, ela pode acreditar no que quiser, mas não precisa ficar falando disso toda hora assustando todo mundo que se aproxima.

- Não sei se poderei atender sua filha.

- Por que? Ela só veio porquê era você, disse que não fazia mais terapia, já não sei o que faço. Ela não tem jeito mais

- Eu sou professora dela, não seria muito bom misturar as coisas.

- Eu até entendo a senha, mas por favor?

- Vou conversar com um amigo da mesma área e ver o que fazer nesses casos, mas já vou adiantando que talvez não seja possível que eu prossiga com a terapia de Anna.

A mãe de Anna saiu triste da sala se juntando a menina que a aguardava na recepção. Anna olhou para trás e disse:

- Até logo Dra. - Piscou os olhos.

Anna parece ser uma menina doce e está em sofrimento, provavelmente se apegou a essas crenças para suprir a necessidade de um pai ausente.

Obs: Mais um paciente com ilusões sobre seres de outro planeta. Conectados?





O Espaço Entre Nós  Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz