Capítulo 18 - Leila

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— Achei jogado nas minhas coisas e gostei. Não é nada demais, é só bijuteria. Bijuteria bem baratinha.

Bruna afasta a cadeira e praticamente pula em cima de mim, com os olhos grudados na minha mão direita escondida sob a manga comprida. Ela avança para pegar minha mão e eu dou um passo para trás, pedindo desesperadamente com o olhar para que ela volte a se sentar, mas para o meu azar minha prima só consegue enxergar o anel e nada mais.

— Me deixa ver, Leila! — Ela faz beicinho, tentando agarrar meu braço a todo custo. — Acho que nunca vi esse anel aqui.

— Eu nunca usei, por isso você nunca o viu. — Me abaixo para pegar minha bolsa de roupas.

— Me deixa veeeer! — Ela finalmente consegue segurar meu pulso quando levanto a bolsa de roupas do chão. — Leila?! — Ela grita, abrindo a boca em um "o" de surpresa.

Minha tia, Arthur e até João Pedro, que estava jogando alguma porcaria violenta no celular, param o que estavam fazendo para prestar atenção em Bruna e eu. Puxo minha mão com força, mas minha prima não a solta de jeito nenhum e estar segurando essa bolsa pesada não me ajuda em nada.

— Olha isso, mãe! Brilha tanto, parece até uma joia! — Ela ergue minha mão numa euforia que me dá nos nervos.

— Que joia o quê, isso é strass, vai perder a cor daqui alguns dias! — Desconverso, puxando minha mão com mais força.

Minha tia coloca o pano de prato que estava usando para limpar a boca de Arthurzinho sobre a mesa e se levanta. Ela estende a mão para mim para que eu lhe mostre o anel. Não tenho escolha, porque se eu não mostrar é pior, só vai deixá-la tirar as próprias conclusões sozinha.

Prendendo a respiração de tanta aflição, tiro o anel do dedo e o coloco na palma aberta de tia Célia. Ela ergue o anel diante dos olhos, analisando cada pedrinha daquela coisa que, segundo Danilo, custa o mesmo que um carro popular. João Pedro também se levanta e vem bisbilhotar. Francamente, nunca achei que minha família iria parar de comer para ficar examinando um anel.

— Parece aqueles anéis que aparecem nas novelas, né, Bruna? — João cutuca a irmã com o cotovelo.

— Sim, aqueles anéis de noivado! — Bruna gargalha, apoiando o braço no ombro de João Pedro, que por pouco não é mais alto que ela. — Por que você comprou um negócio desse?

Abro a boca para dar uma desculpa esfarrapada quando tia Célia me devolve o anel e me encara com uma cara muito pior do que antes. Suor frio brota das minhas mãos e eu me encolho um pouco, porque sei que vou levar uma bronca daquelas.

— Onde você arrumou isso, Leila?

— Eu disse, tia. Comprei um dia desses, é só uma besteira, uma bijuteria.

— Eu costuro roupa de madames há anos da minha vida, Leila, e se tem uma coisa que eu aprendi com isso foi diferenciar pedraria vagabunda de pedra de verdade! — Tia Célia levanta a voz, assustando até Arthurzinho, que não deve estar entendendo nada, coitadinho. — Onde você arrumou isso?

— A senhora deve estar se enganando. Onde eu arrumaria uma joia?

— Uuuuh, isso é joia mesmo, mãe? — Os olhos de Bruna brilham de animação. Às vezes ela não sabe a hora de calar a boca.

— Anda, Leila, para de dar volta! Onde você conseguiu isso? — Pressiona tia Célia, ignorando Bruna, que murcha drasticamente.

Não tenho resposta, pelo menos nenhuma resposta na qual minha tia vai acreditar. Não quero mentir desse jeito tão descarado, muito menos quero ver a decepção no rosto dela se eu contar a verdade. O pior é que toda essa confusão poderia ser evitada se eu tivesse me lembrado de tirar o anel do dedo quando fui dormir. Mas não, eu tive que ficar olhando para isso a noite inteira com o abajur ligado, pensando em Danilo me segurando pela mão e dizendo que ele tinha dado o anel para mim e que então era meu. É que num dia eu literalmente não tinha nada e agora eu tenho um carro popular no dedo. É demais para a minha cabeça!

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now