— O que foi, Erin? — A Portinari perguntou interessada.

  — Você não vai acreditar no que vão dar na cantina hoje. — Ela fez uma pausa dramática. — Hambúrguer de lentilha! É a primeira vez que vão dar comida vegana na escola, será que o Veríssimo finalmente ouviu minhas preces?

  César decidiu que já era a hora de ir embora, assim que olhou a sala para ter certeza de que ninguém o tinha visto fazer esquisitices, seus olhos travaram em Fernando Carvalho, líder do clube de música e o garoto popular da escola; o garoto de pele negra com manchas de vitiligo sorriu desajeitado e César sentiu seu rosto queimar.

  — Você já acabou de verificar esse prato? Acho que ele está em boas condições. — O Cohen tentou responder mas estava envergonhado demais para isso. — Não vou contar pra ninguém, pode ir.

  O garoto pálido assentiu sem dizer nada e correu para a sua sala. O sinal soou assim que se sentou, fazendo o adolescente suspirar cansado, soltando até uma reclamação quando a professora de biologia entrou, já passando uma prova surpresa.

  O jovem Cohen passou o resto da aula apenas reclamando com sigo mesmo dizendo que precisava ter prestado mais atenção naquela matéria e que ia zerar a prova direto.

  Assim que o intervalo chegou, o Cohen foi recebido pelos amigos que comiam o hambúrguer da cantina, Thiago já comia seu terceiro lanche.

  — Pra quem diz que comida vegetariana é ruim, tá se esbaldando. — César disse se sentando e pegando o hambúrguer que Arthur oferecia.

  — Espera, isso aqui é mato?! — Ele perguntou exaltado e os três mais novos riram.

  — Lentilha. — Joui corrigiu, distraído.

  — Pelo jeito o preconceito caiu por terra. — Arthur riu e Thiago se encolheu um pouco.

  — Ah mas a Liz realmente desistiu da gente? — César perguntou sentindo certa falta das broncas e reclamações. — Thiagão, cê realmente não vai falar com ela?

  — Eu tentei! Mas ela tá me evitando! Eu não sei o crime que eu cometi, mas não pode ter sido tão grave assim.

  — Thiago, ela gos... — Joui parou de falar assim que sentiu uma presença atrás de si, César levantou o olhar e encontrou Elizabeth com uma aura mortal. O japonês tossiu levemente e voltou a comer o lanche, em silêncio.

  — Ô minha querida. — Thiago começou a falar e Liz fechou a cara.

  — César. A professora Marcela pediu pra mim te ajudar na matéria dela. — César assentiu, sabendo que o seu desempenho na prova de biologia realmente tinha sido nulo. — Eu vou te esperar na biblioteca quando a aula acabar, já que aposto que você não vai participar do clube de fotografia de novo.

  — Tá bom. — O Cohen disse baixo enquanto comia o lanche.

  — Liz. — Thiago a chamou novamente, mas a Webber apenas desviou sua atenção para Arthur.

  — O Aaron tá te chamando no clube de mecânica, vai lá quando puder. E, Joui? — O japonês ergueu a mão, como quem dizia presente. — A Alexia, Clarissa e Samantha tão te chamando pra resolver um negócio dos líderes de torcida, disseram que é pra agora.

  — Obrigada Liz-senpai. — O Jouki se levantou, se despedindo com pressa, e foi embora.

  — Elizabeth Webber! — Thiago exclamou frustrado, Liz nem sequer tremeu.

  — César, tô indo. Não me deixe esperando na biblioteca. — Assim, ela foi embora, deixando o Fritz derrotado e desanimado, abandonando o sanduíche nas suas mãos.

  — Thiago. — Arthur chamou meio receoso e o Cohen o encorajou, dizendo para continuar o que ia falar. — Não fica assim, a Liz... Ela tem alguns problemas...

  O sinal tocou estridente e o Cervero suspirou, logo se levantando e indo na direção de sua sala.

  César olhou o Fritz com olhos preocupados e se levantou, colocando sua mão na mesa e se debruçando perto dele.

  — Ei, acho que vou te dar uma dica, Thiagão. Pesquisa aquela coisa da lua na internet, você vai encontrar a resposta pra todas as suas perguntas, e também... Vai com calma quando for abordar ela, sentimentos não são o forte da Liz. — Ele disse e foi embora, sem dar tempo para o mais velho reagir.

•••

  César deu três toques na estante de madeira escura antes de se aproximar de Liz, a morena ordenou que o mais novo se aproximasse e César se sentou ao lado dela, tímido. Ela organizou os livros de biologia na mesa permitindo que o Cohen colocasse seus cadernos.

  — Vocês estão estudando sobre cromossomos, certo? — Ela perguntou distraída. — É uma matéria fácil, você não tava prestando atenção na aula, né? — Ela já sabia a resposta. — César, você tem que se cuidar melhor.

  — Liz, não se preocupa. Pra sua informação eu combinei com a minha mãe que ia tentar encontrar algo pra fazer longe do PC. — Ele dizia como se estivesse se defendendo num tribunal. — Mas, Liz... — César abaixou um pouco o tom. — Cê, não acha que tá pegando pesado demais com o Thiago? Pô, ele é leigo com essas coisas da internet. Nem quem tá na internet entende essas coisas direito.

  Elizabeth desviou o olhar e mordeu o beiço, tentando falar alguma coisa.

  — Liz. — O Cohen pensou em segurar a mão dela, mas ele não se sentiria confortável com aquilo. — E-eu sei que você não é muito do tipo de saber se expressar...

  — Eu sou péssima nisso. — Ela exasperou e engoliu em seco. — Eu... Eu tentei dizer que gostava dele, de uma forma que não fosse assim tão jogada na cara dele, então achei que aquela era a melhor maneira. Eu planejei aquele passeio inteiro, nós chegamos no parque as cinco, eu levei ele pra comer algodão doce, nós passeamos um pouco, ele contou as piadas sem graça dele, e quando deu cinco e quarenta eu me declarei pra ele. — Ela disse enquanto contava tudo nos dedos. — Mas o palhaço disse assim "ô minha querida, a lua tá bonita só se for do outro lado do globo"! Minha querida o caralho! Assim que ele falou isso eu senti meu sangue ferver e mandei ele tomar no cu!

  — Shiu! — A bibliotecária ordenou e os dois estranharam ela não ter falado nada antes.

  — Então... — Ele começou a sussurrar. — Você meio que sentiu essa frustração te preencher e não conseguiu lidar muito com os sentimentos e agora tá tratando ele assim?

  — Sim... Eu não entendo meus próprios sentimentos, é como se fosse tanta coisa ao mesmo tempo e tudo fosse no 100%, então quando eu não consigo controlar, meio que só deixo fluir... Desculpe, é difícil de explicar.

  — Não, tudo bem, eu entendo. — Ele sorriu empático. — Olha Liz, eu falei pro Thiago pesquisar aquilo da lua, e talvez ele vá falar com você hoje, mas eu não tenho certeza. Independente do que ele falar, considere o que ele sente e não mande ele tomar no cu.

  Elizabeth riu contida e assentiu com a cabeça.

  — Está bem. Vamos, nós precisamos começar a estudar. Você conhece o básico sobre cromossomos, né?

  — Sim.

  — Ótimo. Então pega o caderno e presta atenção no que eu vou falar.

  César assentiu e começou a anotar as explicações de Liz sobre a matéria do segundo ano, recapitulando tudo aquilo que não tinha prestado atenção.

  Era seis horas da tarde quando eles se despediram, o Cohen pegou a bicicleta e pedalou lentamente para casa, tendo que se apressar pela chuva repentina que começou a cair. Quando chegou em casa tentou entrar pela garagem, mas ela estava trancada; o jovem, já completamente encharcado, levou a bicicleta até a porta de entrada e procurou a chave nos bolsos; assim que a levou até a fechadura encontrou um pequeno buquê de lavandas envolvidas num papel marrom com algumas magnólias estampadas. César soltou a bicicleta e pegou o buquê, abriu a porta da frente e entrou, colocando o buquê na mesinha do lado da porta e voltou para guardar a bicicleta.

  O Cohen pegou o buquê novamente e encontrou um pequeno cartão onde estava escrito, com uma letra cursiva bonita e delicada, a palavra “Imperatore”. César sorriu sentindo as bochechas corarem e correu para o seu quarto, ele havia entendido a mensagem.

Ah, Meu Pobre Coração!Where stories live. Discover now