15/05/1958

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Não pude ficar no meu quarto naqueles últimos quatro dias. Mas tentei o máximo possível evitar Ivy, ou ao menos falar com ela. Não era o fato de que eu não queria sua pena, era só que eu tinha medo de que qualquer ato dela a fizesse ser chicoteada novamente.

Então, sem poder ter nenhum tipo de contato, eu dobrei o papel onde estava escrito:

"Podemos conversar?"

Em seguida, o coloquei na palma da minha mão com cuidado para ficar quase invisível e sai do quarto. A porta não fez barulho, eu olhei para o corredor, mas não haviam freiras. Fui caminhando em passos lentos na ponta dos pés até a porta do seu quarto. O número um.

Me agachei rapidamente para deixar o papel ali, mas, por coincidência, ela abriu a porta no mesmo momento, dando de cara com uma estranha colocando algo pela sua porta. Ela me encarou, depois olhou para o papel e se agachou de frente para mim. Ivy pediu o papel com um gesto, eu lhe entreguei.

Depois de ler, ela levantou o olhar e fez um gesto positivo.

Pareci finalmente ter soltado minha respiração, então sussurrei:

— Pode não ser aqui?

Ela apontou para cima, em seguida para o meu quarto. Entendi o recado, olhei ao redor antes de começar a guiar Ivy até o meu quarto, onde abrimos a janela e ela subiu no telhado.

— Eu senti falta disso. — Ela disse, meio que sorrindo.

— Por que fez aquilo? — Fui direta. Estava me torturando há dias, tentando entender o motivo para que Ivy tivesse levado as chicotadas no meu lugar.

— Eu falei. Você não conhecia as regras.

— Qual é — Eu disse, me sentando perto da janela por querer evitar a vergonha de escorregar se quisesse sentar no telhado junto com ela. — Não podemos nem nos cumprimentar? Não achei que isso era uma regra.

Quando se inclinou para frente, ela fez uma careta, depois soltou o ar lentamente e voltou a encarar as estrelas.

— Você está bem? — Perguntei.

— Bem? Acho que é uma palavra forte para quem está aqui.

— Desculpa. — Eu falei.

— Quer saber, Senhorita Cortez? — Ela disse, eu sorri levemente. — Eu estou bem sim. Sou uma noviça, estou aqui há um ano e dois meses, o que quer dizer que agora falta pouco para que eu saia daqui.

— Está aqui há um ano e dois meses?

— Sim. Pelo que contei até agora — Disse, em seguida se voltou para mim. — Talvez saia daqui antes. Seu quarto fica para o telhado, de qualquer forma.

— Se aqui é algum tipo de prisão... — Parei de falar um instante, quando ela pulou para sentar ao meu lado. — Não é pior ser pega fugindo?

— Eles te consideram um problema. No geral, todas que não seguem o que querem.

— Você é considerada um problema?

— Por que acha que estou aqui há tanto tempo?

Abaixei a cabeça, lembrando da cena em que a madre acertava suas costas.

— Eu sinto muito.

— Já disse que estou bem, senhorita Cortez.

Ela tirou um cigarro de algum local no seu vestido, e um isqueiro em seguida. Ivy acendeu, uma fumaça pairou em nossa frente.

— Você quer experimentar? — Ela perguntou, me oferecendo. — A não ser que queira entrar para o coral. Sua voz fica estranha.

— É por isso que você tem a voz de Maryonice? — Perguntei, com a intenção de apenas rir. Mas Ivy apenas desviou o olhar, ela não pareceu ter se divertido.

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